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  • sábado, setembro 05, 2009

    IMITADORES DE DIVALDO FRANCO



    Hu: Senhor Hessen,
    Eu conheço estas 2 pessoas, e não é nada disso do que esta sendo colocado.

    A primeira faz citações de relatos comentados por Divaldo Franco, e não tem nada de ser um imitador.

    E a segunda, de fato vende e divulga CDs e 100% da venda vai para a instituição. Jamais exigindo aplausos, esta afirmativa é uma vergonhosa mentira.

    Você sem conhecer a fundo coloca

    Meu Deus, que ridículo! Esses companheiros, com certeza, imaginam-se quais atores de televisão, quais personagens hollywoodianos, só faltando oferecer autógrafos para os seus fãs idólatras, que, também, existem, lamentavelmente! Nada mais triste!....

    Meu Deus digo eu, que em lugar de estar escrevendo pesquisas, analises para aportar ao Espiritismo, usa as mensagens da internet, para agredir a irmãos no ideal, colocando falsas observações, ainda mais, sem nunca ter visto eles, e pior ainda, colocando a opinião de uma mulher hipócrita, que os convida a seu centro para depois caluniar.

    Nada mais triste que receber este tipo de emails e comentários, anticristãos, antiespíritas, antiéticos.

    Já o Espiritismo tem muito inimigo, mas o pior é quando encontra eles mesmos, nas suas fileiras.
    Jorge Hessen: Hu
    Após ler seu email, pensei: Não vale a pena perder meu tempo com esse tipo de intercâmbio. Porém, como suas palavras parecem exacerbar um rancor que o faz muito infeliz, decidi por ajudá-lo, para que esse seu rancor não perdure por séculos ou milênios. Mesmo porque, esse tipo de sentimento não condiz com a Doutrina Espírita e não faz bem à saúde física e mental. Aliás, muito lhe ajudaria ler meus artigos sobre esse tema e que estão contidos no meu site, http://jorgehessen.net.
    O mais curioso é que você identificou pessoas, sem que eu tivesse citado nomes, o que seria, realmente, uma atitude nada cristã de minha parte. Mas, enfim, quem lhe garante que sejam as mesmas? Se, de sua parte, houve uma identificação, segundo o modelo descrito no meu artigo, não é culpa do Jorge, mas fruto de uma comparação que você fez entre o que está escrito e pelo que você sabe de alguém. Folgo em lhe dizer, meu jovem Senhor, que essa sua precipitação não é problema meu, mas, exclusivamente, seu. Agora, se alguém se encaixa nos moldes por mim descritos, que isso não seja motivo de contendas, mas como advertência para se autoeducar.

    Faço palestras em vários Centros Espíritas, inclusive em outros Estados, e conheço inúmeros oradores que, demonstrando excessiva admiração por outros articulistas, primam por imitá-los, esquecendo-se de que são vistos como pessoas tolas, lamentavelmente, e destituídas de autocrítica. Além do mais, qual é a verdade que não incomoda quem está em erro?

    Para finalizar este email, concluo com total tranqüilidade de consciência: Ser cristão, meu jovem Senhor, não é ser conivente com os erros alheios, mas, “encontrar-se construindo, aberto para o bem e à verdade de que se torna vanguardeiro e divulgador.”
    (Divaldo)
    “Eis que o semeador saiu a semear.” – Jesus. (Mateus, 13:3)

    Façamos o mesmo, mas com legítima autoridade para advertir, quando necessário for.

    Muita Paz!
    Jorge Hessen


    SEGUE ABAIXO O ARTIGO SOBRE IMITADORES DE DIVALDO FRANCO

    Certa vez, conversando com uma líder espírita, de Brasília, a referida irmã comentava sobre as momices (1) de certo orador que fora convidado para falar no Centro em que ela dirige. Dizia que o palestrante convidado imitava, grotescamente, com gestos, modos de expressão verbal e decorando trechos de conferências do tribuno Divaldo Franco, inclusive "incorporando" Bezerra (!) após a palestra (!?). Referiu-se, também, a outro palestrante que faz questão de expor e vender seus livros e CDs de palestras gravadas, cuja renda, supostamente, é para a "causa maior", e exige, vaidosamente, os aplausos do público. Meu Deus, que ridículo! Esses companheiros, com certeza, imaginam-se quais atores de televisão, quais personagens hollywoodianos, só faltando oferecer autógrafos para os seus fãs idólatras, que, também, existem, lamentavelmente! Nada mais triste!
    Um orador imitador não tem o menor senso de ridículo, pois, apodera-se da identidade alheia, sem o menor constrangimento, e essa é uma atitude obsessiva e/ou psicopatológica, porque lhe é autoplasmada. Ao imitar alguém, esquecem-se de que tal atitude não passa de uma farsa, e que, dessa forma, perdem a liberdade de pensar e de agir, buscando, sempre, a fonte de ligação para prosseguir no desempenho do papel assumido. Existem oradores que ficam horas e horas em frente ao espelho para treinarem os gestos ou entoação de voz do imitado, que é sempre Divaldo Franco. Como se não bastassem as momices e os bizarros fatos, não é raro observarmos oradores vaidosos, oferecendo-se para proferir palestras. Entram em contato com os que coordenam as escalas e se dispõem, "gentilmente", a serem designados para falar no Centro Espírita, quase sempre em uma data já, previamente, programada para outro orador. É uma desfaçatez da parte deles, quando em viagem, em trânsito pela cidade, apoderam-se do lugar de outro orador já escalado para comparecer ao Centro. Coordenadores que assim procedem demonstram indisciplina, falta de planejamento e, sobretudo, desrespeito àquele que já estava agendado, e os dirigentes, que acatam essa movimentação desordenada, provam que não têm competência para estarem à frente de tamanha responsabilidade, ou seja, a de manter o equilíbrio de um Centro Espírita. Tal fato só se justificaria se fosse um orador consagrado, de renome nacional.
    Aos palestrantes, candidatos ao estrelismo no movimento espírita, urge que não memorizem quaisquer textos de livros espíritas para, simplesmente, recitá-los, quais tagarelas ou papagaios, pois a expressão maquinal não agrada a quem ouve e, sobretudo, a Deus. É mister construir um mapa mental daquilo que pretendemos comunicar ao público. A nossa responsabilidade é para com o conteúdo doutrinário, para com o movimento espírita, para com a divulgação dos princípios espíritas, porém, para esse desiderato, cabe-nos a tarefa de construirmos um discurso próprio e original do Espiritismo, a fim de que aqueles que nos ouvem possam captar o verdadeiro sentido da Terceira Revelação.
    Não podemos ser meros divulgadores do Espiritismo. Precisamos, acima de tudo, ter a mensagem espírita como um dos instrumentos que podem ajudar o ser humano a ser mais fraterno e viver mais feliz.
    A comunicação da palestra espírita não está nos compêndios humanos. É algo pessoal. Destarte, temos a obrigação de jamais imitar quem quer que seja, sobretudo, os oradores que dão "Ibope", que superlotam o Centro. Precisamos imitar a nós mesmos, ou seja, a nossa organização mental, a nossa limitação, a nossa compreensão do tema, ou seja, ser quem somos, verdadeiramente, sem as máscaras de virtudes inexistentes, sem atitudes dissimuladas de docilidade, mas, coerentes e sensatos com o ideal Cristão. Por isso, creio que todo dirigente tem o dever de advertir os palestrantes imitadores, até porque é um despropósito a imitação.
    Isso mesmo! Imitar é horroroso, pois a imitação não consegue reproduzir o verdadeiro talento. Pode-se, até mesmo, imitar o estilo de um orador consagrado, mas nunca recriar a profundidade ou a beleza que caracterizam suas produções e que reaparecem de forma, perfeitamente, reconhecíveis através da legítima oratória. O expositor espírita não é um profissional da fé, que precisa teatralizar, ou usar recursos outros, para angariar fiéis. Sua tarefa é informar sobre este universo de novos conhecimentos que é o Espiritismo.
    É importante criarmos estilo próprio, simples, sem exageros, lembrando que uma palestra num Centro Espírita é mais uma conversa do que uma conferência. Recorrermos a linguagem simples e de bom gosto, lembrando que estamos, ali, a serviço do Cristo para explicar e fazer o público entender a mensagem do Espiritismo, não para exibir cultura. Sempre é possível explicar assuntos, mesmo complexos e profundos, em linguagem acessível a uma platéia heterogênea.
    O orador deve acolher, com respeito e humildade, toda crítica, procurando avaliar, cuidadosamente, o seu trabalho e, assim, melhorar, cada vez mais, a tarefa que lhe cabe. Deve reagir, com todas as suas energias, contra os elogios descabidos, para que a vaidade não lhe venha toldar o próprio campo de ação, e mais, ainda, nunca deve julgar-se imprescindível ou privilegiado, criando exigências ou solicitando considerações especiais. Sobre isso, qualquer semelhança, para quem já viu esse filme em Brasília, será mera coincidência?
    Existe orador que abusa em contar casos engraçados para fazer público rir durante toda a palestra. Usa a tribuna como se fosse um palco de teatro para humoristas. Ora, se o orador tem o dom da hilaridade que vá para o teatro e exerça a profissão de ator. É muito mais digno.
    Eis alguns pecados capitais de uma palestra espírita: a artificialidade; o não ordenamento do raciocínio, com começo meio e fim do tema proposto; a desconsideração das características da platéia e falar como se todos os ouvintes fossem iguais; a falta de conteúdo e preparo; a defesa de idéias que vão "de encontro" ao interesse do ouvinte e, PRINCIPALMENTE, IMITAR OUTROS ORADORES. Cremos que, por pior que seja o orador, em sendo ele mesmo, terá chances de sucesso. Se imitar alguém, por melhor que seja a imitação, não terá credibilidade, ou vira circo.
    "Os expositores da boa palavra podem ser comparados a técnicos eletricistas, desligando tomadas mentais, através dos princípios libertadores que distribuem na esfera do pensamento". (1) Sendo o Espiritismo a revivescência do Cristianismo, em sua essência e pureza, aqueles que se dispõem a divulgá-lo, pela palavra edificante, à semelhança dos discípulos do Cristo, devem equipar-se de todos os recursos que puderem dispor na atualidade, para bem representarem essa Doutrina Consoladora, junto aos que anseiam por orientação, para a necessária iluminação interior. O orador deve Ter Conduta Respeitável, lembrando que "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações". (2)
    Assim, o expositor espírita não pretenderá ser "santo", mas, alguém, sinceramente, empenhado em edificar-se moralmente, a cada dia mais, lembrando, sempre, que, para o público ouvinte, ele representa o Espiritismo e o Movimento Espírita.
    Há, sem dúvida, nas tribunas espíritas, alguns acertos. Porém, ficamos muito preocupados com os desacertos e as distorções detectadas nas palestras que, também, tivemos a oportunidade de assistir, ou dos fatos que nos foram contados. Há, realmente, em torno desse tema, um quadro preocupante.
    "Todos os espíritas sinceros, estudiosos e afeiçoados ao bem, encontram-se convocados para o ministério do auxílio, através da difusão dos postulados espíritas, que, propiciando perfeito entendimento das lições evangélicas, representam a medicação oportuna e urgente para a massa desesperada, o homem aturdido..." (3) Em verdade, na palestra espírita pode estar a entrada, ampla e promissora, para o entendimento da Doutrina Espírita, ou a saída, extremamente lamentável, para caminhos distantes desse conhecimento que liberta. O orador espírita é uma peça importante na propaganda e na Difusão do Espiritismo, devendo ser encarada com extrema responsabilidade e praticada com esmerada bagagem moral e cultural, sem prejuízo da indispensável experiência.
    Quando alguém se propõe a ouvir um orador Espírita, o faz no pressuposto de que ele sabe o que está falando e lhe oferece, silenciosamente, um voto de credibilidade, capaz de mudar, metodicamente, idéias ou conceitos errôneos que nele estavam arraigados, podendo transformar, até mesmo, toda uma vida! Portanto, não é um compromisso qualquer, sem maiores conseqüências, até porque, quem assume essa tarefa deixa de ser, apenas, um orador para, transmudar-se em autêntico preceptor da matéria Doutrinária, falando de temas Evangélicos e Sociais profundos e com extrema responsabilidade.
    Lembra André Luiz que "devemos palestrar com naturalidade, governando as próprias emoções, sem azedume, sem nervosismo e sem momices, posto que a palavra revela o equilíbrio. Devemos, portanto calar qualquer propósito de destaque, silenciando exibições de conhecimentos. O orador é responsável pelas imagens mentais que plasme nas mentes que o ouvem."(5)

    Jorge Hessen
    E-Mail: jorgehessen@gmail.com
    Site: http://jorgehessen.net
    FONTES:
    (1) momices significa: Caretas, trejeitos; gesticulação grotesca ou ridícula.
    (2)Xavier , Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade, Ditado pelo Espírito André Luiz , Rio de Janeiro: Ed. Feb, 2003.
    (3)Kardec, Alan. "O Evangelho Segundo o Espiritismo", Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, cap. XVII - item 4.
    (4)Franco, Divaldo Pereira, Reflexões Espíritas, ditada pelo Espírito Vianna de Carvalho, Salvador: Ed. Leal, 1992.
    (5)Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1998, acp 14.

    segunda-feira, julho 27, 2009

    pluralidade das existências

    A pluralidade das existências - Reencarnação
    Carlos Alexandre Fett
    Allan Kardec foi bastante racional nas considerações que teceu sobre a pluralidade das existências. A certa altura ele diz:
    "Se não há reencarnação, não há mais do que uma existência corporal, isso é evidente. Se nossa existência corporal é a única, a alma de cada criatura foi criada por ocasião do nascimento, a menos que admitamos a anterioridade da alma. Mas nesse caso perguntaríamos o que era a alma ANTES do nascimento, e se o seu estado não constituiria uma existência sob qualquer forma. Não há, pois, meio-termo: ou a alma existia ou não existia antes do corpo.
    Se ela existia, qual era a sua situação ? Tinha ou não tinha consciência de si mesma ? Se não a tinha era mais ou menos como se não existisse; se tinha, sua individualidade era progressiva ou estacionaria ? Num e noutro caso, qual a sua situação ao tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou o que dá no mesmo, que antes da reencarnação só tinha faculdades negativas, formulemos as seguintes questões:
    Por que a alma revela aptidões tão diversas e independentemente das idéias adquiridas pela educação ?
    De onde vem a aptidão extranormal de algumas crianças de pouca idade para esta ou aquela ciência, enquanto outras permanecem inferiores ou medíocres por toda a vida ?
    De onde vêm, para uns as idéias inatas ou intuitivas, que não existem para outros ?
    De onde vêm, para certas crianças, os impulsos precoces de vícios ou virtudes, esses sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza, que contrastam com o meio em que nasceram ?
    Por que alguns homens, independentemente da educação, são mais adiantados que outros ?
    Por que há selvagens e homens civilizados ? Se tomarmos uma criança hotentote, de peito, e a educarmos, enviando-a depois aos mais renomados liceus, faremos dela um Laplace ou um Newton ?
    Por que umas nascem na mais extrema miséria e outras na opulência. Umas têm berço de ouro e outras não têm um mísero bercinho para acomodar seu corpinho ?
    Por que algumas pessoas nascem portando doenças incuráveis (sem ser caso de hereditariedade) e sofrem a vida toda, e outras nascem cheias de sa£de e de vigor ? Por que morrem crianças em tenra idade e outras vivem muitos anos ?
    Por que algumas pessoas nascem sem alguns de seus membros, na cegueira, portando numerosas deficiências físicas ?
    Por que uns nascem no seio de povos primitivos e em países inóspitos, e outros nascem no seio dos povos mais civilizados ?
    Por que nascem crianças precoces, no campo da música, da matemática e de outros conhecimentos, e outras, apesar de estudarem e se esforçarem a vida toda, não conseguem alcançar um nível razoável de conhecimento ?
    Por que criaturas más desfrutam de grande prosperidade na vida, e outras, bondosas e moralizadas, vivem uma vida cheia de tropeços e de amargores ?
    Qual a Filosofia ou a Religião que pode equacionar esses problemas sem valer-se da lei das vidas sucessivas ou da Reencarnação ?
    O Espiritismo tem explicação para todos esses problemas, demonstrando que essas discrepâncias ocorrem devido, a maior parte das vezes, aos desvios que a criatura comete, e que exige reajuste perante a justiça do Criador.
    Deve-se, pois, reconhecer que a doutrina da pluralidade das existências é a única a explicar aquilo que, sem ela, é inexplicável; que é altamente consoladora em conformidade com a justiça mais rigorosa, sendo para o homem a tábua de salvação que Deus lhe concedeu na sua misericórdia infinita.
    Desacreditá-la é, no mínimo, afirmar que Deus é injusto.

    A reencarnação está na Bíblia
    Carlos César Barro
    Jesus Cristo havia subido ao monte Tabor com três de seus discípulos para orar: Pedro, Thiago e João. Chegando ao topo, o Mestre se transfigura perante os apóstolos e eis que aparecem junto deles Moisés e Elias, já falecidos há centenas de anos, que conversam com o Senhor. Depois, Ele e seus seguidores desceram da pequena elevação e se envolvem no diálogo que colocamos ao lado.
    Nas Escrituras Sagradas, mais precisamente no livro de Malaquias, há uma profecia afirmando que antes da vinda do Messias, o profeta Elias deveria novamente retornar. Sem entendê-la direito, os Escribas e os Fariseus, religiosos da época e inimigos de Jesus, apegavam-se nela para afirmarem que o Mestre não era o Filho de Deus, pois não tinham visto a Elias.
    Indagado sobre a vinda do profeta, Jesus responde que ele já havia nascido, e que ninguém o tinha reconhecido. Então, os apóstolos compreenderam que se tratava de João Batista, a quem o Mestre se referia.
    Em outra passagem anterior à citada, Jesus também afirma que João era Elias : ...Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça (Mateus 11: 13 a 15).
    João Batista era primo de Jesus, filho de Izabel e Zacarias. É importante não confundir este João com o apóstolo do mesmo nome, chamado o Evangelista. O Batista começou a pregar no deserto, onde morava. Vestia-se de pele de animais e comia mel silvestre e gafanhotos. Sua pregação era muito enérgica, conclamando o povo a seguir os ensinamentos morais das Escrituras. Quando alguém se convertia a sua doutrina, prometia que dali em diante sua vida iria mudar. João mergulhava esta criatura nas águas do Jordão, num ato simbólico de batismo, para selar o compromisso. Este ato foi chamado de "batismo pela água". Daí o nome "Batista". Note que na época só se batizavam adultos.
    Chegando Jesus à margem do Jordão, foi também batizado por João, "para que se cumprissem as antigas profecias". Este acontecimento marcou o início da vida pública do Mestre e o declínio da pregação do Batista. João foi preso pelo rei Herodes, por causa das críticas que ele fazia ao adultério do rei com sua cunhada Herodias, mulher de seu irmão Felipe. No aniversário do rei, Herodias pediu a cabeça de João. A história dos Evangelhos ilustra a vida de trabalho do Batista, à causa do Bem.
    O Evangelho de Lucas, capítulo I, versículos 36 a 45, pode ser analisado. Nele, é contada a história da gravidez de Izabel, mãe do Batista, prima de Maria, a mãe de Jesus. João nasceu de parto normal, como outra criança qualquer. Conclui-se pois, que se Jesus afirmou que João era o Elias da profecia, deu inequívoco testemunho de que o Espírito ou a Alma pode entrar no ventre da mãe para nascer de novo.
    Existem outras passagens que mostram que alguns judeus acreditavam na reencarnação. Muitas vezes perguntavam ao Mestre se ele era um dos antigos profetas que havia voltado (veja Mateus 16: 13 a 16). Se eles assim questionavam, é que entendiam que os Espíritos tinham possibilidade de viverem outras vidas.
    Quanto a Jesus não ter utilizado o termo "reencarnação" naquela época, ele mesmo responde numa conversa com Nicodemos, o fariseu simpático a Jesus:
    Em verdade te digo que aquele que não nascer de novo , não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode retornar ao ventre de sua mãe? Jesus respondeu: Na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito. Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Nicodemos respondeu: Como pode ser isso? Jesus disse: Tu és mestre de Israel e não sabes disso? ... Se vos falei de coisas terrestres e não crestes, como crereis se vos falar das celestiais? (S. João, cap.III - vers. 3 a 12).
    Jesus deixa claro que nem todos estavam aptos a entenderem a verdade como ela hoje nos é apresentada pela Doutrina. Afinal, a encarnação do Mestre foi há quase dois mil anos. Não havia condições intelectuais para se entender as abstrações da vida espiritual. Por este motivo, o Mestre sempre dizia os que têm olhos para ver, vejam; os que têm ouvidos para ouvir, ouçam. Não falou claramente da reencarnação, nem da vida após a morte, mas o fez nas entrelinhas. As Escrituras Sagradas nos fornecem subsídios importantes para crermos na reencarnação como dádiva de Deus. BANCO DE DADOS
    Publicado no Jornal Entenda a Vida, edição 1

    A Reencarnação Segundo a Bíblia
    Machado de Assis (espírito)
    Todos nós somos formados de um intelecto que nos faz ter a compreensão e entendimento das coisas, quer materiais quer espirituais, esse dom nos é dado por Deus nosso Pai de sabedoria e compreensão infinita.
    Alguns são dotados de maior compreensão do que outros, muitas vezes por desníveis culturais, mas é um ou outro privilegiado pelo nosso Pai celeste que levou a critério sua escolha.
    Temos lido a bíblia diversas vezes de capa a capa, e teve alguns trechos que nos chamou a atenção no tocante a reencarnação; que se faz pura e cristalina a sua escrita nas sagradas escrituras, e temos irmãos letrados e até doutos que se fazem de desentendidos em sua interpretação, o que lamentamos porque a humanidade teria outro rumo espiritual e moral em todo o seu bojo, se todos os nossos irmãos em Cristo assimilassem o seu conteúdo de forma clara, como nos é transmitida pelo seu narrador, vou retransmitir na integra alguns trechos do Novo Testamento em sua versão original.
    O Evangelho Segundo Mateus
    Capitulo 11 Jesus prega nas cidades
    Versículo 11 em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele.
    Versículo 12 desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado por esforço, e o que se esforçam se apoderam dele.
    Versículo 13 porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.
    Versículo 14 e, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir.
    Versículo 15 quem tem ouvidos para ouvir ouça.
    Capitulo 17 A transfiguração
    Versículo 10, mas os discípulos o interrogaram: por que dizem, pois, os escribas ser necessário que Elias venha primeiro?
    Versículo 11 então Jesus respondeu: de fato Elias virá e restaurará todas as cousas.
    Versículo 12 eu, porém vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram, antes fizeram com ele tudo quanto quiseram... assim também o filho do homem há de padecer nas mãos deles.
    Versículo 13 então os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista.
    Livro de João
    Capitulo 3 Nicodemos visita a Jesus
    Versículo 1 Havia, entre os fariseus, um homem, chamado Nicodemos, um dos principais judeus.
    Versículo 2 este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
    Versículo 3 a isto respondeu Jesus: em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
    Versículo 4 perguntou-lhe Nicodemos: como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?
    Versículo 5 respondeu Jesus: em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus.
    Versículo 6 o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do espírito, é espírito.
    Versículo 7 não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.
    Versículo 8 o vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabe de onde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do espírito.
    Versículo 9 então lhe perguntou Nicodemos: como pode suceder isto? acudiu Jesus:
    Versículo 10 tu és mestre em Israel, e não compreendes estas cousas?
    Versículo 11 em verdade, em verdade te dito que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho.
    Versículo 12 se tratando de cousas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?
    Versículo 13 ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o filho do homem que está no céu.
    Versículo 14 e de modo por que Moisés levantou a serpente do deserto, assim importa que o filho do homem seja levantado.
    Versículo 15 para que todo o que nele crê tenha a vida eterna.
    Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios
    Capitulo 15 A Ressurreição de Cristo, Penhor da Nossa Ressurreição.
    Versículo 12 ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?
    Versículo 13 e, se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou.
    Versículo 14 e, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a nossa fé;
    Versículo 15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam.
    Versículo 16 porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
    Versículo 17 e se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
    Versículo 18 e ainda mais: os que dormiram em Cristo, pereceram.
    Versículo 29 doutra maneira, que farão os que batizam por causa dos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, porque batizam por causa deles?
    Versículo 30 e porque também nós nos expomos a perigos a toda hora?
    Versículo 31dia após dia morro! Eu o protesto, irmãos, pela glória que tenho em vós outros, em Cristo Jesus nosso Senhor.
    Versículo 32 se, como homem, lutei cem Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos.
    Versículo 33 não vos enganeis; as más conversações corrompem os bons costumes.
    Versículo 34 tornai-vos à sobriedade, como é justo, e não pequeis; porque alguns ainda não tem conhecimento de Deus; isto digo para vergonha nossa.
    Relatamos acima alguns trechos da Bíblia Sagrada, para que todos os irmãos em Cristo pudessem assim assimilar, o discutido tema da reencarnação e com a interpretação própria, assim tirassem suas próprias conclusões, não aceitando falsos profetas, que desvirtuam os conceitos bíblicos para enganar seus seguidores, que são possuídos de pouca leitura, e seguem dogmas já ultrapassados e mesmo que nunca existiram, e se escondem em mantos de comércio extorquindo do povo o que é de mais sagrado, que é a fé, e ainda por não se falar em bens materiais, não podemos viver cobertos ainda com esse véu da hipocrisia, se as santas escrituras nos mostra às claras, a raiz da verdade, para que não sejamos levados, por falsos escribas como fossemos carneirinhos, sem sequer ter o mínimo de auto afirmação, temos que abrir os nossos olhos para a verdade, e para os senhores que tiverem a oportunidade de ler este conceito bíblico, poderão se afirmar pegando a bíblia e olhando capitulo a capitulo e versículo a versículo e tirarão suas próprias conclusões.
    Porque morre o amor, mas não morre a esperança, e não existe lugar onde as mãos de Deus não alcançam.

    Despertando do coma
    Carlos Pereira
    Terry Wallis foi notícia no mundo inteiro porque abriu os olhos novamente depois de dezenove anos em estado de coma após sofrer um acidente de carro, nos Estados Unidos. Fato raro, segundo a Medicina, uma vez que a freqüência comum de reavivamento é de três meses. Terry acordou do longo sono bastante humorado. Primeiro falou com a mãe, depois pediu a terapeuta para fazer amor com ele. Outro caso interessante ocorreu com Patricia White Bull, uma bailarina que durante o parto de seu quarto filho desacordou para somente recobrar a consciência dezesseis anos depois, exatamente no natal de 1999. Embora a ciência tenha avançado bastante sobre o mecanismo de funcionamento do cérebro, especialmente nesta última década, não conseguiu desvendar o mistério para casos como estes de Terry Wallis e Patricia Bull. Não conseguiu porque ainda não levou em consideração a tese do princípio espiritual que anima cada ser vivente.
    O ser humano não é tão-somente um animal racional, é, sobretudo, um ser espiritual que recebe um corpo de carne para passar por experiências de aprendizado no planeta Terra. Para ligar o espírito ao corpo físico existe um corpo específico, semimaterial, que encontra várias denominações como corpo bioplasmático, perispírito, corpo astral etc. A morte somente acontece quando as ligações do corpo físico com este corpo espiritual se efetiva. Um paciente em estado de coma mantém estes laços de vitalidade sem tempo determinado para desligamento. Por isso, a terminologia mais adequada para configurar este fenômeno seria a desencarnação, isto é, a ação de saída do corpo de carne. A miopia científica, porém, para as questões espirituais, faz atrasar os avanços necessários para o tratamento integral do ser humano.
    Um paciente, em estado de coma, está presente no local onde seu corpo fica paralisado, presenciando o que ocorre ao seu redor ou em qualquer lugar, a semelhança do que atestam as pessoas que passaram por experiências de quase-morte. Se familiares, amigos ou médicos conversarem com o paciente podem ter a certeza que ele terá condições de ouvir e ver, sem, contudo, ter a capacidade de dar a resposta. Pode até aparecer normalmente em sonhos, pois quem está aprisionado na cama é o corpo e não o espírito. Mas, qual a razão para alguém passar tanto tempo ausente do mundo? Pode-se afirmar que cada caso é um caso, e compreendendo a Lei Divina como perfeita, é certo que aquela experiência deva servir de resgate de débitos cármicos provocados por ele noutras vidas.
    O desaviso sobre a realidade espiritual pode, também, nos casos de coma profundo por longo período, levar ao raciocínio de abreviação dos sofrimentos do paciente e provocar a eutanásia. O termo eutanásia, proposto pelo filósofo Francis Bacon, em 1623, vem do grego, podendo ser traduzido como boa morte ou morte apropriada e teve a Holanda como o primeiro país do mundo a legalizá-la, em 2001. A eutanásia é outro equívoco. Equívoco porque parte do pressuposto de que a vida pertence à pessoa. A vida, na verdade, pertence a Deus que permite a cada um de nós usufruí-la para a nossa felicidade, não devendo ninguém abreviar a sua ou a de qualquer um, seja qual for a justificativa.
    O sono profundo que necessitamos despertar é o da inconsciência daquilo que realmente somos. Acordar para a dimensão do espírito e vivermos em consonância com ela, modificando nossa forma de pensar e conseqüentemente de agir, sobretudo com os outros, sob a perspectiva da vida futura e da imortalidade que nos é inerente.
    Carlos Pereira é presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Pernambu

    O Espírito na Reencarnação da Humanidade
    Jorge Ândrea dos Santos
    A ciência biológica, como outras ciências, vem apresentando, no dia-a-dia, ampliação de seus horizontes com descobertas bem expressivas.
    O campo da reprodução dos seres, especificamente a humana, diante de percepções nos campos do infinitamente pequeno, vem mostrando novos estudos e preciosos acontecimentos, inclusive algumas conseqüências nas equações espirituais.
    Sabemos que o processo reprodutivo humano está diretamente relacionado ao encontro do espermatozóide com o óvulo, possuindo cada uma dessas células, o número de cromossomos pela metade, porquanto a sua união restabelece o número de 46 que caracteriza a espécie humana.
    O encontro das células genésicas, dum lado o espermatozóide, do outro o óvulo, obedecem um roteiro tão ordenado que nos faz pensar num campo influenciador e orientador desse mecanismo. Ainda mais, o sexo do futuro ser estará na dependência do tipo de espermatozóide existente entre os 200 milhões deles, quando lançados nas vias femininas. Na espécie humana, sabemos que os espermatozóides, possuindo 23 cromossomos, um deles é denominado de cromossomo sexual e mostrando-se de duas variedades, o Y e o X. O óvulo só possui o cromossomo sexual de uma única variedade, isto é, o X. Se a combinação da célula genésica feminina for com o espermatozóide Y, o produto será masculino (Y + X), se com a variedade X, o produto será feminino (X + X). Tudo perfeitamente comprovado pela ciência e onde somente um deles penetrará a célula feminina. Os demais serão absorvidos, porém deixarão uma coroa energética que funcionaria como campo defensivo da célula fecundada.
    Um fenômeno de tal ordem, equilibrado nas polaridades sexuais dos seres, denotando inteligente direcionamento, não pode estar submetido a um acaso biológico. Terá que haver um diretor, um orientador responsável conduzindo o processo. Este só poderá ser o Espírito reencarnante, que traz consigo, no momento de seu mergulho na matriz perispiritual materna, a polaridade sexual de sua necessidade reencarnatória. Daí, passaria a influenciar, pelas suas irradiações, o espermatozóide (X ou Y) que penetrará o óvulo, concluindo a concepção (gravura-1). Temos como certo que o Espírito reencarnante com seus automatismos em irradiação seleciona o espermatozóide que atenda o revestimento corpóreo de suas necessidades evolutivas, se em corpo masculino ou feminino.
    No processo reencarnatório, o Espírito será o campo-organizador-da-forma, embora sem a consciência do processo, o que acontece na maioria das reencarnações. Os automatismos dos lastros espirituais, desenvolvidos nos milênios e sempre com aquisições das experiências pretéritas, ocupando a célula fecundada – o ovo –, passa a direcionar, com seus impulsos, a embriogênese na conclusão do novo ser.
    Os 46 cromossomos que caracterizam as células da espécie humana possuem um total de 100.000 genes, onde cada um deles ou mesmo pequenos grupos afins são responsáveis por determinados fatores de herança. Toda essa imensa rede de genes, em seu bioquimismo, não pode deixar de obedecer a um orientador, um elemento que acione seus potenciais, de modo tão perfeito e adequado, que o resultado seja ajustado e harmonioso. Um simples bioquimismo material não possui condições de proporcionar uma fenomenologia inteligente. O que se passa nos mecanismos genéticos é da mais expressiva precisão, de modo a traduzir uma meta a ser alcançada.
    Por aí, desde logo, percebe-se que, se o orientador ou impulsionador apresentar defeitos, estes, naturalmente, alcançarão os campos a que estão coligados, perturbando o processo em questão. Porém, nada havendo no campo orientador, constituído de energias específicas e desconhecidas, como, também, no campo material onde se instalam os genes, os mecanismos se farão com precisão, obedecendo as respectivas influências que trazem em sua organização.
    A molécula cromossômica que aloja os genes é o conhecido ADN (ácido desoxirribonucleico) e o campo energético que lhe influencia, orienta e conduz é o campo-organizador-da-forma. Este, de há muito era conhecido da filosofia e seitas religiosas orientais. No Egito foi denominado de Ka e na Grécia de Eidolon. Paracelso intitulou essa organização de Campo Sidéreo; outras tantas denominações, amiúde, se tem mostrado. Em meados do século XIX, Allan Kardec teve a feliz idéia de criar o termo perispírito na designação de tal campo, hoje de voz corrente na maioria dos estudos e experiências paranormais.
    Assim, os cromossomos com seus genes estariam como que mergulhados no mundo energético perispiritual sofrendo sua direta influência e que, por sua vez, está submetido à orientação da zona mais nobre e desconhecida do psiquismo, a zona do inconsciente ou espiritual.
    Diante de tais fatos, os genes, em última análise, seriam influenciados pelas fontes ou raízes espirituais, tendo na camada perispiritual um campo adaptador, autêntico filtro energético, de modo a permitir que a "telegrafia espiritual" possa mostrar-se nos campos materiais e dentro das possibilidades dos mesmos. Daí deduzir-se que o conteúdo psíquico estaria sob influência da região central da psique, o Grande Eu, a Luz Espiritual.
    A fim de que o campo perispiritual possa adaptar-se aos genes, bem claro que seria necessário uma afinidade entre os mesmos. Diante de tal conceituação, poderíamos dizer que os genes, alojados na molécula do ADN, não seriam propriamente a sua organização atômico-molecular, mas uma zona específica, que por aí se instale, cujas condições possam atender as duas partes, a energética e a material. Não seriam os genes um campo energético bastante condensado com afinidades pela matéria, mas, ao mesmo tempo, coligado às terminações perispirituais e com que perdendo-se e fundindo-se nos vórtices atômicos do ADN? Isso porque os genes, em sua estruturação, são desconhecidos; conhecemos, sim, zonas nos cromossomos, sob forma de listras, tidas como sendo os próprios genes, a representarem as unidades biológicas.
    É nessa zona dos genes que os pesquisadores, os geneticistas, têm apresentado valorosos trabalhos e descobertas que estão ampliando os campos da ciência. Ao decifrar o denominado mapa genético, se vão localizando os campos dos genes e suas respectivas responsabilidades no processo da herança. Os pesquisadores têm utilizado animais de variada natureza a fim de atender seus intentos científicos. Com as trocas e substituições nas fitas cromossomiais, vão observando os efeitos e atinando com a topografia e situação dos genes, demarcando as zonas de herança, de modo a decifrar, cada vez mais, o mapa genético. Muitos genes já foram avaliados e decifrados. Segundo informações científicas, somente na década de 20 do próximo século conheceríamos em detalhes o total segredo da herança física que, por natural seqüência, abriria o campo ainda desconhecido da herança espiritual com seus mecanismos experienciais, renovatórios e de ampliação evolutiva proporcionados pelas reencarnações.
    Ao lado de tudo isso, os pesquisadores acreditam que, com o mapeamento dos genes cromossomiais, poderemos corrigir muitas doenças congênitas pelo conhecimento de sua origem e tendências nos processos de herança. Acrescentamos que essas posições serão alcançadas, com maior precisão, quando conhecermos os mecanismos da influência perispiritual, ou campo organizador, na zona material, e suas adequadas conseqüências no sistema imunológico do ser.
    A própria ciência já bem situou o processo da herança física. Sabemos que na espécie humana, especificamente, por mais semelhantes sejam os indivíduos no processo de herança (alimentação, educação, lar, condições ambientais), não existe um indivíduo igual ao outro. Mesmo nos gêmeos univitelinos, onde as condições de herança física são idênticas, inclusive indivíduos do mesmo sexo, mesmo assim o biótipo psicológico é diferente. Existe algo bem diverso que nos chama atenção, mostrando existir no processo de herança algo muito importante além da semelhança física. Herdamos semelhanças físicas, até mesmo alguns direcionamentos no sentido de orientação da vida em formação, mas nunca as tendências e o processo afetivo-íntimo, enfim o caráter. Os pais nos proporcionam o corpo, jamais a alma.
    Existem, perante o rosário reencarnatório, aquisições das múltiplas e incontáveis experiências que permitirão, nos processos da herança física, aqui e ali, possam revelar-se com a aquisição de novos genes. Estes devem, a pouco e pouco, mostrar-se em futuras reencarnações, atados a tal mecanismo. Se a herança fosse exclusivamente física, com limites nos genes existentes, ficaríamos num ciclo vicioso sem avanço e a evolução seria a conseqüência de um processo fixista, atualmente sem qualquer condição de defesa. Tudo seria adrede preparado, do mais simples animal até o hominal! Como não pode existir privilégios no concerto universal, o processo renovador das reencarnações será a única explicação lógica na compreensão de tal mister. O princípio inteligente ou espiritual, até alcançar a espécie humana, foi caldeado nos reinos da natureza, em intermináveis épocas, com experiências e retificações de todos os matizes. Em cada reencarnação, o espírito além de proporcionar o nascimento de novos genes, embora muito lento nas jornadas corpóreas, como fixação de experiências, também se mostra em tendências, no caráter e na mais íntima condição da energia criativa que é o amor. Cada ser mostra a condição do amor, com todas as suas vertentes, a seu próprio modo e na posição evolutiva em que se encontra.
    Já foram anotados, nas fitas cromossômicas, além dos genes, pequenos pontos que foram denominados de micro-satélites e que ousaríamos dizer como sendo os responsáveis pela herança dos caracteres adquiridos de colorido espiritual (gravura 2). No sentido espiritual, J. B. Lamarck teria razão quando fez, em 1809, a grande afirmativa da existência da herança dos caracteres adquiridos, que não podem ser computados na cadeia física como sendo direta conseqüência de pai para filho. Quem sabe Lamarck não teve a intuição do mecanismo em pauta e focalizou-o na herança física? O pensamento de Lamarck necessita de revisão, mesmo porque seus estudos permitiram muitos esclarecimentos no interessante trabalho de C. Darwin. A herança adquirida se passou na dimensão espiritual.
    Não pode deixar de existir a herança espiritual que cresce e avança às expensas das experiências corpóreas, embora deixando pequenos e complicados rastros de difícil interpretação. Somente os dias vindouros, em próximas décadas, poderão decifrar os complexos fenômenos de hoje, quando os ritmos perispirituais forem registrados, analisados e bem interpretados, tal qual acontece com os ritmos cerebrais, anotados pelo eletroencefalograma.
    Assim, de futuro, o psiquismo oferecerá novas condições de pesquisa científica, em estudos mais bem calcados num espiritualismo sadio e melhor compreendido que, com suas sondas, irá em busca da definição das raízes do espírito.

    O que diz Mahatma Gandhi sobre o esquecimento
    Mário Boari Tamassia
    No livro "Viva sem Morte", o autor Nils O. Jacobson, destacada figura da psiquiatria e parapsicologia, na Europa, ao fazer um balanço sobre a crença na Reencarnação, verifica que as maiores objeções apresentadas pelos seus correspondentes, se referem ao fato de que "não nos lembramos de quem fomos . E realmente os argumentos, às vezes até mesmo aguerridos dos que têm obrigação religiosa ou profissional de defender a tese anti-reencarnacionista, são sempre ligados ao fato de que estaríamos passando por agruras cujas causas desconhecemos e que, portanto, estaríamos sendo punidos, sem que nos dessem a conhecer as razões do procedimento de Deus-Juiz em relação a cada um de nós.
    No entanto, encontro, de certo modo, no Mahatma Gandhi, uma proposta que seria válida a todas as questões que se levantam no tocante a este assunto. Em "Cartas a um Discípulo", ele diz: "Não conservar a memória das reencarnações anteriores é sinal da bondade da natureza para conosco. Que bem receberíamos por conhecer os particulares dos inúmeros nascimentos que já tivemos? Se fôssemos obrigados a suportar tão terrível carga de memória ao longo do nosso caminho, a vida se tornaria um fardo muito pesado".
    O esquecimento, pois, de nossas vidas passadas não representa um mal, um procedimento draconiano do Governo Divino, mas, pelo contrário, a aplicação da mais profunda sabedoria. Conforme a alma se eleve e se desembarace do seu excessivo personalismo, então sim, ela poderá ter capacidade de num relance conhecer ou ter consciência de toda ou parte da vida pregressa: aqui foi potentado e com a riqueza abusou dos pobres e vilipendiou-lhes os lares, conspurcou-os, desta ou daquela maneira; ali adiante teve de se humilhar, experimentando a dura vida de servo de mau senhor. Num momento, quis enganar a vida, fugindo dela e se acomodando em atitude contemplativa monacal: noutra meteu-se atrás da fortuna, feito louco, perdendo totalmente o equilíbrio.
    Como costumava nos dizer um Guia da nossa intimidade, sem que nisso pretendesse ser original: "Deus é aquele credor compassivo e Justo que não nos tira a responsabilidade para que não nos habituemos a ser marotos, mas, abre-nos novo crédito concedendo-nos novo nome, sobrenome, família, lugar, onde não nos conheçam e não nos cobrem coisa alguma. Pelo contrário, nesse novo estabelecimento concedido apresentamo-nos na abertura do negócio com cara de querubim".
    O curioso é que em revistas, jornais, colunas católicas, os teólogos hábeis que dão respostas, batem na mesma tecla, a que alude Nils O. Jacobson, dizendo que "Deus seria cruel se nos desse vida de provação, sofrimentos indescritíveis, a loucura, a paralisia, o câncer, sem nos mostrar afinal qual teria sido a nossa dívida". No entanto, vejam só, acham natural, até mesmo bacana, na opinião do Cardeal Belarmino, que 99,99% dos filhos de Deus sejam mandados por Ele para o Inferno, onde arderão nas chamas do Fogo. não um espaço de tempo, mas por toda a Eternidade. Eternidade?!
    Fonte: "A Caminho da Luz"

    Por que existe reencarnação?
    Jorge Carmona
    Imagine você vivendo na época da escravidão, sendo de cor branca, dono de uma Senzala, praticando maldades contra negros, seus escravos. Imagine depois, que você morre (desencarna), após tanta maldade.
    E agora ? Irá para o INFERNO ETERNO, ou - como um aluno que repete o ano escolar - irá reencarnar, nascendo de novo (conforme afirma Cristo, em João, 3:3), em situações diferentes, para o aprimoramento moral? Imagine então, que você (seu espírito) renasce (reencarna), porém, nascendo, agora, uma criança negra, na mesma Senzala a qual antes era dono. Agora, sendo negro, esquecido do passado, inicia sua vida de sofrimentos, apanhando, inclusive, de seus ex-empregados, sentindo a dor da discriminação e das chibatadas, reclamando de Deus por ter nascido negro. Após várias desencarnações e reencarnações, sempre nascendo negro, você passa a amar os negros pois vai se acostumando com eles, possuindo pais e filhos negros, casando com negros, vivendo seus costumes, etc...
    Agora sim. Você novamente morre (desencarna), e pode até reencarnar como branco, pois já aprendeu a amar os negros. E isto acontece, ou seja, você nasce de novo, numa família de brancos, onde seu pai maltrata negros, pois é dono de uma Senzala. Você, agora, mesmo sendo branco, luta a favor dos negros, indo contra seu próprio pai.
    Você já está moralmente evoluído, com fins a praticar, inclusive, as ações que Cristo (em Mateus, 25;31/45) menciona ser a condição essencial para viver em um Plano Espiritual Superior, que somente os bons conseguem.
    O exemplo acima, talvez o leve a entender a importância de várias vidas, para nossa evolução moral, ora sendo branco, ora negro, ora rico, ora pobre, etc.. Segundo a Bíblia (Hebreus, 9;27), é dado aos homens morrer uma só vez. Contudo, o espírito que habita o homem não morre nenhuma vez. É este espírito imortal que reencarna em corpo de homem, quantas vezes necessário para sua evolução moral. Por exemplo, Cristo afirma a Nicodemos (João, 3;1/12) ser necessário nascer de novo. Nicodemos, não entendendo como poderia o homem (a carne) nascer novamente, pergunta: "como pode um homem nascer, sendo velho ? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?" Cristo responde: "o que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é espírito." Veja o leitor, que a carne, não pode nascer novamente, mas o espírito pode. O ESPÍRITO NUNCA MORRE.
    É, praticamente, impossível, em tão curto espaço, explicar reencarnação. Contudo, quem se aprofunda no caso, obtém respostas para várias perguntas, tais como: por que crianças (que segundo algumas Doutrinas, não possuem pecados) nascem aleijadas, cegas, surdas, mudas, com câncer, etc.? Propósito de Deus? Deus possui propósito bons para alguns, e ruins para outros ? Na verdade, o Planeta Terra e o nosso corpo, são as ferramentas que possuímos para nossa evolução moral, pois DEUS É JUSTO, DEUS É BOM, DEUS É AMOR.
    (Tribuna do Cricaré)

    Puccini voltou Puccini!
    Giovanni Scognamillo
    "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Tal é a Lei - inscrição no túmulo de Allan Kardec, no cemitério do "Pere-Lachaise", em Paris.
    Relendo a biografia do Maestro Giacorno Puccini, numa antiga edição de "Fratelli Fabbri Editori", de Milão, Itália, descobrimos algo muito interessante e curioso. Vejamos.
    O Maestro Giacomo Puccini nasceu na cidade italiana de Lucca, na Toscaria, em 22 ele dezembro de 1858, e desencarnou em Bruxelas, Bélgica, em 29 de novembro de 1924, com a idade de 66 anos (menos 22 dias), sendo filho de músicos e educado, naturalmente, para seguir a mesma carreira.
    Atentemos agora para este significativo detalhe. O primeiro dos Puccini a se dedicar inteiramente à Música chamava-se (não nos assustemos!) exatamente Giacomo Puccini, nascido na mesma cidade de Lucca, em 1708, e desencarnando em 1781, ainda em Lucca, onde se dedicara a compor sinfonias e música sacra para a catedral, sei se preocupar em , compor ópera, que era a "coqueluche" da época.
    Um dia, indagado por um amigo e admirador o porquê não compunha óperas, tendo toda a facilidade para isto, respondeu ele com expressiva frase, frase que retratava a sua certeza da continuidade da vida e da reencarnação do Espírito. Mas acompanhemos o diálogo:
    - Então, Maestro, quando teremos a alegria de assistir e aplaudir uma ópera com a sua assinatura?
    Resposta textual do "primeiro" Maestro Giacorno Puccini, também consagrado compositor, naquela tarde primaveril do ano de 1778, três anos antes do seu retorno á Espiritualidade:
    - Se algum dia retornar a este mundo, prometo atender ao seu pedido, mesmo que você não aplauda a minha ópera.
    E, com um largo sorriso, enquanto abraçava o amigo, indaga:
    - Voltaremos mesmo?
    Façamos as contas... O trisavô de Giacomo Puccini desencarnou em 1781 e o "nosso" Giacorno Puccini nasceu em 1858, com um espaço de tempo de 77 anos, mais do que suficiente para o Espírito programar uma nova existência na vida física. E escolher, como fez, a mesma família para renascer e dar continuidade ao trabalho interrompido, vindo, porém, tão somente para compor óperas, como prometera 80 anos antes...
    E, por coincidência (?), recebe o mesmo nome que tivera há 150 anos, contando-se da data do seu nascimento até 1858.
    Pesquisadores e estudiosos das composições da família Puccini encontraram "una verosimiglianza tra uno e I'altro a dire che il Puccini del ottocento riprodurre il Puccini del settecento, con piccole variabile" (Uma verossimilhança existe entre um e outro, a tal ponto que o Puccini dos anos oitocentos reproduz o Puccini dos anos setecentos, com pequenas variações).
    Podemos concluir, de nossa parte, que, sem dúvida alguma, o trisavô renasceu como trineto 77 anos depois, em resposta à sua própria indagação:
    - Voltaremos mesmo?
    “Onde o bem permanece, Deus está”Escada de Luz – Emmanuel

    Reencarnação
    Albino A. C. de Novaes
    Elizabeth Clare Prophet dá um tratamento todo especial à reencarnação - pouco comum às pessoas que emergem do movimento evangelista. Ela considera a reencarnação como sendo o ELO PERDIDO DO CRISTIANISMO e dedica seus escritos àqueles seguidores de Cristo que estão preparados para beber o cálice completo de suas mensagens. É a oportunidade de aprender com os nossos erros na Terra e buscar a Deus. É a chave para compreendermos a jornada da nossa alma. Ela empreende uma verdadeira jornada, e convida outros a seguir-lhe os passos, para descobrir como a reencarnação se coaduna com os antigos conceitos cristãos como o batismo, a ressurreição e o reino de Deus. No mergulho voraz na história, explica como os Patriarcas da Igreja suprimiram a reencarnação da teologia cristã e por que a reencarnação pode resolver muitos dos conflitos que atualmente afligem a cristandade.
    Prophet, sem ser espírita, consegue ver a reencarnação e o Cristianismo caminhando juntos, não consegue separar um do outro. Existe um abismo profundo entre a necessidade espiritual das pessoas e o que as igrejas oferecem. A abordagem da VIDA no Cristianismo que herdamos das sucessivas mutilações do movimento dos SEGUIDORES DO CAMINHO, é extremamente árida. “ Se realmente temos apenas uma oportunidade para determinar se a nossa eternidade será passada no céu ou no inferno, o que acontece àquele cujas vidas são encurtadas pela guerra ou pelo câncer? Se Jesus pode simplesmente apagar todos os nossos erros passados, qual é então o sentido das nossas ações na Terra?” .
    “Questões como estas levaram-me a uma nova avaliação do misticismo, que diz que a salvação é uma experiência interior da Deus e não um evento de fim de mundo. Percebi que a encarnação oferece uma alternativa satisfatória para o Cristianismo ortodoxo” (Reencarnação – E. C. Prophet – Nova Era). Por isso , ela decide trabalhar suas idéias sobre Jesus, sobre a reencarnação e o significado intrínseco do Cristianismo no contexto das novas pesquisas sobre o Jesus histórico. Nossos irmãos evangélicos apresentam um Jesus místico sem admitir que ele tenha ensinado algo sobre a reencarnação, um Jesus-Deus, com o poder de dispor sobre a vida e o destino das almas. Quando lemos mais atentamente o Velho Testamento e o Novo Testamento, não obstante as mutilações produzidas no texto, encontramos fortes evidências da reencarnação tanto na tradição do judaísmo como entre os seguidores do Caminho.
    “Uma vez que a alma não pode ser encontrada sem o corpo e todavia não é corpo, pode estar neste ou naquele corpo e passar de corpo em corpo” – são palavras ditas por Giordano Bruno durante seu dramático julgamento em Veneza, 1592. É Elizabeth que nos conta um pouco da história envolvente deste mártir.
    “Tochas acesas iluminavam a pálida manhã de fevereiro. Os espectadores acotovelavam-se para ver a procissão. Aqueles oitocentos metros seriam percorridos lentamente desde a Torre Nona, onde o prisioneiro estivera encarcerado, até o Campo das Flores, uma praça ampla onde seria executado.
    O filósofo de 52 anos caminhou vagarosamente sobre as pedras de calcário que pavimentavam as estradas de Roma. Descalço e acorrentado pelo pescoço, vestia um lençol branco ornamentado com cruzes e salpicado de demônios e chamas vermelhas.
    Os monges da Fraternidade de São João, o Decapitado, caminhavam a seu lado, incitando-o ao arrependimento. De tempos a tempos, aproximavam o crucifixo dos seus lábios, dando-lhe a oportunidade de salvar-se. Peregrinos vindos de toda a Europa amontoavam-se na praça. Atraídos a Roma pelas celebrações do jubileu de 1600 que a Igreja faria ao longo do ano, ansiavam por ver um famoso herético morrer na fogueira. Alguns cuspiam e zombavam, enquanto os guardas despiam o pequeno e magro homem e o atavam a uma estaca de ferro circundada por feixes de lenha. Depois de o homem ter-se recusado mais uma vez a beijar a cruz, amordaçaram-no e, em seguida, empilharam mais lenha misturada com palha em volta da estaca, cobrindo-o até o queixo. Os monges cantavam ladainhas enquanto os oficiais de Roma lhe davam uma última oportunidade para retratar-se. Em seguida, atacaram fogo à pira.
    Enquanto as labaredas chamuscavam-lhe a barba e os seus pulmões enchiam-se de fumaça, teria Giordano Bruno lamentado o caminho que o conduzira à fogueira? Enquanto a pele estalava e o sangue fervia nas chamas, teria ele se interrogado se essa dor se prolongaria por toda a eternidade no inferno? Ou manteve-se firme no seu sonho de ver outros sóis, inúmeros mundos celestiais e de viajar "através do infinito"?
    A morte na figueira era menos freqüente em 1600 do que nos tempos medievais. Apenas vinte e cinco hereges foram queimados em Roma durante todo o século XVI. Como Giordano Bruno, que fora monge dominicano e, durante muitos anos, filósofo errante, acabou recebendo a pena máxima da Igreja?
    Bruno foi morto na fogueira devido aos seus conceitos heréticos, entre eles a idéia de que a alma humana poderia, após a morte, retornar à Terra num corpo diferente, e até continuar a sua evolução em muitos outros mundos além da Terra. Também defendia uma idéia que, muitas vezes, caminha lado a lado com a da reencarnação - a idéia de que o homem pode unir-se a Deus ao longo da jornada da sua alma na Terra. Para ele, a religião era o processo pelo qual a luz divina "exerce domínio sobre a alma, eleva-a e converte-a a Deus. Bruno acreditava que não era necessário esperar pelo fim do mundo para que a união divina ocorresse. Ela pode acontecer hoje mesmo.
    Na visão de Bruno sobre o potencial humano podemos encontrar a semente da causa que levou o Cristianismo a rejeitar a reencarnação: sua visão abalava a autoridade da Igreja. De acordo com o sistema de Bruno, a salvação não dependia do relacionamento do indivíduo com a Igreja, mas sim do seu relacionamento direto com Deus. E foi tanto neste ponto como no da reencarnação que ele entrou em conflito com a Inquisição.
    Bruno havia sido um constante incômodo para a Igreja praticamente desde o momento em que fora ordenado padre dominicano em Nápoles, aos 24 anos. Filho de um soldado de carreira, não se adaptava bem à vida monástica. Era um pensador e leitor voraz, com um temperamento irascível e propensão para irritar as autoridades.
    Quando era um jovem monge, Bruno tinha idéias próprias. Defendia Ano, o herege do século IV, de quem voltaremos a falar mais tarde, e leu as obras proibidas de Erasmo, filósofo e humanista holandês. Quando a sua cópia clandestina do livro foi descoberta num anexo do mosteiro, Bruno viu-se em apuros. Devido às suas heresias, os oficiais da Igreja em Nápoles abriram um processo contra ele, o que o levou a fugir da Itália em 1 578.
    Passou os quatorze anos seguintes perambulando pela França, Inglaterra, Alemanha e Suíça. Apaixonado, intenso e sarcástico, Bruno foi forçado a fugir várias vezes depois de causar grande celeuma com os seus comentários e escritos inflamados. Atacou os membros da Universidade de Oxford por apoiarem Aristóteles e ridicularizou os acadêmicos franceses. Foi julgado em Genebra por ter apontado "erros numa palestra de um teólogo calvinista”.
    Tanto a igreja católica como a protestante o excomungaram (embora, provavelmente ele nunca tenha se tornado protestante). Porém, o seu sonho era reconciliar católicos e protestantes através da filosofia. Discordava das suas teologias e se autodenominava "um cidadão e servo do mundo, um filho do Pai Sol e da Mãe Terra .
    Bruno foi um dos homens mais brilhantes do seu tempo. Instruiu o rei francês Henrique III na arte de memorizar ensinou filosofia na Universidade de Toulouse e freqüentou o círculo literário que rodeava a rainha da Inglaterra, Elizabeth 1. Os seus escritos prolíficos e incomuns conquistaram um número pequeno, mas devotado de adeptos.
    Ele era muito avançado ou muito atrasado para o seu tempo. Embora Bruno não fosse um cientista, suas idéias sobre o universo prenunciaram algumas das descobertas dos físicos do século XX.
    No século XIX, os intelectuais reverenciaram-no como um mártir da pesquisa científica e da liberdade de pensamento, principalmente por ter defendido a teoria de Copérnico sobre a rotação da Terra em torno do Sol. Por isso, os inimigos dos seguidores de Copérnico também se voltaram contra Bruno - um dos seus inquisidores, o cardeal Robert Beilarmine, interrogaria também Galileu a respeito de suas observações sobre a rotação da Terra em torno do Sol. Contudo, Bruno não compartilhava da visão científica que Copérnico tinha do mundo.
    Foram o misticismo e a filosofia que deram a Bruno a sua visão sobre a infinidade de mundos. Bruno concordava com Copérnico que a Terra poderia não ser o centro do universo, mas, de acordo com a sua perspectiva, o Sol também não o era. Ele acreditava que a Terra era apenas um mundo entre um número infinito de mundos.
    Numa época em que a maioria das pessoas pensava que as estrelas estavam permanentemente fixas no céu, Bruno enumerou as suas crenças revolucionárias: "Existe apenas um espaço único, uma imensidão única e vasta a que podemos chamar Vácuo; nele existe uma infinidade de mundos como este em que vivemos e nos desenvolvemos. Consideramos este espaço infinito; nele existem mundos infinitos semelhantes ao nosso.
    Para Bruno, o conceito [da existência] de mundos infinitos abriu as portas para o conceito de infinitas possibilidades humanas. Se existem mundos infinitos, então por que não poderá haver infinitas oportunidades para explorá-los? Uma pessoa, quer esteja dentro ou fora do corpo, "nunca está completa , escreveu Bruno. Ela tem a oportunidade de experimentar a vida de muitas formas diferentes. "Assim como existe à nossa volta um espaço infinito, também a potencialidade, capacidade, receptividade, maleabilidade e matéria são infinitas.

    Reencarnação e Desigualdades
    Deolindo Amorim(1906-1984).
    Como política preventiva, que significa simplesmente atacar o mal ainda na raiz, antes que seja tarde, o programa espírita sempre se esforçou no trabalho de assistência e educação, visando à modificação do ambiente moral e social, até mesmo nos recantos mais sórdidos. Prevenir, portanto, para que a pobreza aviltada não chegue a uma convulsão incontida.
    Se é óbvio que não podemos tratar somente do corpo, mas também, principalmente, do espírito, é óbvio ao mesmo tempo que não devemos relaxar os deveres em relação às necessidades do corpo. Se o espírito precisa de instrumento humano para a comunicação de seus dons, logicamente um corpo doente, abatido pela deficiência alimentar ou depauperado pelo esgotamento, não pode ser bom veículo por causa do desmantelo orgânico.
    E já se sabe que há repercussão recíproca entre o orgânico e o psíquico. Mas a Doutrina adverte, a certa altura, que às vezes uma pessoa pode nascer em "posição difícil e embaraçosa, precisamente para ser obrigada a procurar vencer as dificuldades, nunca, porém, deve deixar a vida correr à revelia, o que seria mais preguiça do que virtude." (O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. V, nº 26). Este ponto, sem dúvida alguma, sugere reflexão sobre o problema das desigualdades sociais à luz da reencarnação.
    Seja, porém, como for, a despeito dos "altos e baixos" dos compromissos reencarnatórios na vida social, não nos compete fazer julgamento, mas temos o dever de trabalhar pela melhoria do homem. E com fazê-lo sem ir ao encontro dos focos de revolta e decadência? Disse muito bem o dr. João Pompílio de Almeida Filho:
    "Devemos ir ao encontro dos necessitados, para dar-lhes o que precisam, moral e materialmente, antes que eles venham até nós arrancar o que lhes falta, e destruir as riquezas, que são nossas, mas exigem emprego inteligente, com distribuição de parte em favor dos que têm fome, sofrem frio, vivem envilecidos nos vícios, constituindo verdadeiro peso-morto à margem da sociedade". Tese oficial - 1° Congresso Espírita do Rio Grande do Sul-1945.
    Realmente. Tais palavras estão inteiramente abonadas pela Doutrina Espírita. A esmola é uma doença da sociedade. Ainda não temos uma consciência de solidariedade capaz de suprir as falhas no rastro da pobreza extrema e da invalidez relegada.
    Mas a palavra esmola não teria mais razão de ser, dentro de uma organização social mais espiritualizada ou mais aproximada do Evangelho. Em vez de esmola, diríamos acertadamente dever. Se é verdade que os males sociais, em grande parte, têm relação com o nosso passado e, por isso, também é verdade que cabe à criatura humana fazer a sua parte, a fim de que ninguém seja privado pelo menos do essencial à subsistência nos flancos mais ínfimos da sociedade.
    Melhoramento social engloba estabilidade e libertação do medo, mas não significa que todos tenham de ser ricos ou venham a possuir automóvel como requinte de bem-estar; mas todos têm o mesmo direito a uma condição de vida condizente com a dignidade humana, por mais frisante que seja a desigualdade dos níveis sociais.
    O Espiritismo não propõe a eliminação total das desigualdades, notadamente no estágio evolutivo em que nos encontramos, pois a sociedade é toda diversificada, com ricos e pobres, inteligentes e parvos, empreendedores e preguiçosos, progressistas e retrógrados, homens de bem e homens trapaceiros, por exemplo. Sem pensarmos, porém, na utopia de um mundo sem falhas e disparidades, como se fosse um paraíso terrestre, podemos e devemos, contudo, dar o quinhão que a Doutrina Espírita nos atribui, porque temos a nossa parte de responsabilidade no conjunto:
    "Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na Justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação.
    Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns". (O Livro dos Espíritos-Parte 3a, Cap. XI).
    Como se vê, a Doutrina Espírita não absorve a idéia de fatalismo como explicação genérica dos desacertos sociais, nem a tese da reencarnação levaria a tanto.
    O fatalismo social seria a condenação de pessoas ou grupos a uma vida de privações indefinidamente, como se fossem todos marcados pela adversidade inarredável. Não. Nesta ordem de considerações o que a Doutrina afirma nada tem de radical: os males deste mundo são de duas ordens, isto é, os que têm vínculos com o passado, por causa de atos praticados noutra existência, e os que resultam de erros e abusos cometidos no presente. Nem tudo, portanto, se deve lançar na conta do passado.
    A incapacidade ou a falta de escrúpulos na gestão administrativa, a negligência na vida pessoal e os desperdícios são responsáveis por muitas crises na sociedade. O cotidiano das ocorrências bem o demonstra. São fatos da presente existência. A interpretação unilateral seria muito inconveniente, pois os problemas exigem, antes de tudo, análise conjuntural. Dois fatores são indiscutivelmente relevantes neste passo: a educação e a reforma moral.
    Na confluência dos problemas com que nos defrontamos, de um lado e do outro, não seria lógico pôr de lado a interferência de "situações cármicas". Há criaturas humanas sujeitas ao determinismo de uma existência difícil ou penosa em razão do que fizeram antes, não se sabe onde ou em que época.
    Quem, suponhamos, explorou o suor alheio, quem abusou da riqueza ou da autoridade como verdadeiro tirano ou corruptor, certamente vai ter que lutar muito contra a humilhação, as aflições e os embaraços, ainda que trabalhe e estude com o maior afinco para subir pela inteligência e pela tenacidade.
    Por mais que insista na tentativa de afastar os empecilhos, fica sempre na planície social, em posição apagada, obrigado a executar serviços inferiores, segundo os valores convencionais do nosso mundo.
    Mais adiante se nos depara o varredor de rua, um homem que já fora lorde noutra época e, agora, volta à Terra para reeducar-se na humildade, pois impusera humilhação a muita gente quando estava na opulência.
    Semelhantemente, não seria um despropósito admitir que antigo e orgulhoso aristocrata, daqueles que faziam pouco caso das pessoas que estivessem abaixo de sua camada social, venha a reencarnar com uma prova que o coloque nas calçadas como engraxate, vivendo à margem das multidões nos grandes centros urbanos. Noutros tempos, tinha criados sobre os quais tripudiava com arrogância e desumanidade.
    O fato de engraxar sapato nada tem de deprimente para quem trabalha honestamente, tanto quanto a profissão de gari e outras profissões tidas como das mais modestas não aviltam as mãos honradas.
    Se a sociedade precisa de médico para os problemas de saúde pública, também precisa do gari, ao mesmo tempo, porque sem a limpeza da cidade e a remoção dos detritos e entulhos transmissores de vermes e alimentadores de mosquitos os planos sanitários ficam seriamente comprometidos. O cavalheiro elegante, habituado a vestir-se com apuro, não pode fazer "boa figura" em público se não tiver quem lhe engraxe os sapatos no momento necessário. E quem vai fazê-lo?
    O titular de um cargo importante? O funcionário de status mais elevado? Claro que não. É o engraxate, que se torna uma figura indispensável naquele momento.
    Naturalmente é uma prova para o espírito que reencarna, como se diz, nas "classes baixas" da sociedade e não consegue projetar-se, porque tem débitos pesadíssimos de outras existências. O tipo inteligente ou espertalhão de outrora, muito afeito a espertezas com prejuízo de terceiros, depois de ter tantas e tantas vezes abusado da inteligência para fins inconfessáveis, sem jamais ter sido alcançado pela justiça terrena, não poderá reincorporar-se à mesma sociedade a que pertencera, mas agora reencarnado como servente ou trabalhador explorado, sempre em aperturas financeiras, lesado aqui, sacrificado ali? É uma contingência admissível no desenrolar do processo reencarnatório.
    É a lei de causa e efeito.A justiça nunca deixa de vir, cedo ou tarde, segundo as nossas noções de tempo. A reencarnação está na vida social, não tenhamos dúvida. Conseqüentemente, não se exclui em tudo e por tudo a reencarnação como um dos dados de avaliação nos desajustes sociais, ainda que não seja razoável generalizar, o que daria motivo a conclusões muito rígidas.
    Se, de fato, há circunstâncias que se sobrepõem aos nossos desejos e meios de ação, porque decorrem de uma carga de responsabilidade individual ou coletiva de outras etapas da vida, há obstáculos e eventualidades que denunciam apenas a falta de vigilância ou a displicência nesta existência. E se o homem fosse conduzido pelo passado em todos os instantes não haveria mudança nem disposição do livre-arbítrio.
    A vida seria uma sucessão fatal de episódios predeterminados. Como corpo de idéias, baseado em fatos que comprovam a sobrevivência do espírito além do corpo e a sua comunicação com o nosso mundo, o Espiritismo também se interessa pelo ser humano na vida de conjunto, o que quer dizer: o homem na sociedade.
    Sem a vida social ninguém teria como se desenvolver e renovar-se, pois a penitência reclusa, distante dos problemas, ignorando o sofrimento de seu próximo, sem dar sequer um pouco de si, não faz nenhum santo.
    É na forja social realmente que adquirimos experiência e exercitamos as nossas possibilidades latentes, ora caindo, ora levantando, até que nos modifiquemos para melhor. Não sendo, portanto, fatalista, como já dissemos e fazemos questão de repetir, está bem claro que a Doutrina Espírita se preocupa com as desigualdades humanas, cujas causas devem ser atacadas para que se corrijam as injustiças.
    Muitas chagas sociais já teriam sido extirpadas se houvesse mais sentimento de humanidade, mais respeito às razões éticas, tanto no plano do poder público quanto no plano particular. Há desigualdades que são o flagrante resultado do egoísmo, da ambição e, por fim, das incongruências de uma sociedade discriminativa na distribuição dos bens indispensáveis à vida humana.
    Uma sociedade em que a vivência real do Cristianismo ainda está reduzida a compartimentos limitados, porque o Cristo é apenas objeto de devoções formais, sem ação nas profundezas do coração, a não ser das pessoas abnegadas, cujo espírito de sacrifício vem contrabalançar o peso da indiferença ou da frieza dominante.
    Pois bem, é contra esse tipo de sociedade, ainda vigente, que invocamos os princípios espíritas, sem compromisso com ideologias e facções políticas.
    Não estamos defendendo a igualdade maciça ou mecânica, pois seria uma pretensão visionária. Como igualar os elementos de um aglomerado humano composto de criaturas desiguais?
    Sim, desiguais espiritualmente, desiguais no temperamento, na formação moral, tanto quanto desiguais intelectualmente, etnicamente, psiquicamente. Neste ponto, exatamente, a noção de igualdade, tão mal situada nas discussões doutrinárias ou políticas, tem dois sentidos muito naturais: somos iguais pela natureza e pela origem, porque somos criaturas de Deus e pertencemos à espécie humana, mas não somos iguais nas aptidões, no caráter, na educação, na cultura, nas decisões do livre-arbítrio.
    Teoricamente, "todos são iguais perante a lei". Seria, de fato, o ideal de uma sociedade bem equilibrada. Como seres humanos, todos têm o direito a uma vida normal, uma vez que todos têm aspirações, compromissos e deveres compatíveis com as necessidades biológicas e espirituais. Necessidades inerentes à natureza humana e, por isso mesmo, não se condicionam, pelas categorias sociais.
    No entanto, há muitos casos em que animais de estimação, como cavalos, cachorros e gatos são mais bem tratados do que as próprias crianças que ficam em volta desses animais. Que os animais sejam bem cuidados e defendidos, mas que não se despreze o ser humano. A proteção do reino animal é uma prova de adiantamento de uma civilização.
    É válido indiscutivelmente o conceito de igualdade na acepção de respeito aos direitos comuns, os direitos intrínsecos da pessoa humana em qualquer nível social: preservação da integridade física, oportunidades para estudar e melhorar-se, liberdade de escolha de seus objetivos profissionais, intelectuais e religiosos. Igualdade, portanto, nos direitos essenciais.
    Nosso conceito de igualdade, porém, não vai ao irrealismo de imaginar uma sociedade em que todos tenham o mesmo "trem de vida", as mesmas regalias, as mesmas qualificações sociais. Na luta pela vida, sob a pressão das competições, sempre se defrontam capacidades diferentes, com interesses conflitantes.
    O emprego do livre arbítrio, por sua vez, está sujeito às variações circunstanciais nos empreendimentos e nos modos de proceder ou de julgar as coisas. Ao lado, por exemplo, dos que querem vencer e, por isso, estudam, trabalham, enfrentam todos os reveses, há muitos que não querem sair da comodidade, não se esforçam para mudar de posição, porque preferem ficar onde estão, cultivando a displicência como regra de vida.
    Ora, o indivíduo operoso e realizador, porque leva a vida a sério não se confunde com o preguiçoso, que se anula por si mesmo no grupo social.
    Figuremos de passagem o caso de dois irmãos, cujo pai tenha dado oportunidade ou chances, como se diz correntemente, tanto a este como àquele. O primeiro trabalhou, não esbanjou o tempo, preparou-se para ocupar lugares mais altos, enquanto o segundo deixou tudo correr à vontade, fazendo suas farras, abusando das energias da mocidade.
    Mais tarde, na "idade madura", quando as ilusões já estão desfeitas, um irmão está em boa situação, com estabilidade, mas o outro, completamente despreparado, desgastado pelas extravagâncias, está de mãos vazias, nulificado na planície social. De quem a culpa? ...
    Iguais na origem, no lar de onde saíram, mas visivelmente desiguais na organização/ temperamental, na vontade, nas inclinações.
    A sociedade, em suma, é um somatório das desigualdades individuais. Seria então irrealizável a igualdade em termos absolutos. A reencarnação não invalida totalmente o livre-arbítrio. Justamente por isso, se estamos encarando a questão à luz do pensamento espírita, precisamos ter uma visão mais elástica.
    De um lado, há quem afirme, por exemplo, que as desigualdades são problemas sociais e, portanto, "nada têm a ver com a reencarnação"; do outro lado, com o mesmo acento categórico, afirma-se que as desigualdades sociais são "conseqüências de nosso passado", e, assim, seria inútil qualquer tentativa de modificação.
    Então, a única solução é "deixar como está". São entendimentos contrários à verdadeira índole da Doutrina Espírita, de um lado e do outro. Nossa posição há-de ser a do meio termo, nunca das definições intransigentes diante da realidade social.
    Há, de fato, situações que inferiorizam o indivíduo socialmente, durante uma reencarnação ou mais, por causa da rede expiatória de envolvimentos que o acompanham do passado. Se não cabem no vocabulário espírita as palavras "azar", "má sorte", "capricho do destino" e outras, de uso comum, naturalmente há uma razão para que certos casos perdurem na sociedade, a despeito de todo o empenho que se faça para afastá-los ou atenuá-los.
    Se a razão determinante do sofrimento ou das dificuldades não está nesta existência, teremos de encontrá-la no passado, sob a ação da lei moral de "causa e efeito", não pelo que os pais fizeram, mas pelo que o próprio culpado fez, não importa se neste ou noutro século.
    Daí, porém, não se segue que todas as injustiças da Terra, efeitos da maldade, do engodo e do orgulho, por exemplo, sejam projeções do passado e, por isso, irremediáveis. Não. Até certo ponto, as deficiências sociais podem ser retificadas pelas atitudes reparadoras, pela luta contra o mal e pelas reações da parte mais sadia da sociedade.
    E sempre houve, felizmente, em todos o grupos humanos, os elementos que não se contaminam, ainda que sejam obrigados a transitar pelas mesmas vielas por onde passam o ódio, a baixeza, o vício e a hipocrisia bem enroupada.
    Os desafios são uma contingência desse estado de coisas, mas nem todas as ocorrências são fatais. A reparação das brechas que se abrem no organismo social exige a reforma periódica de suas estruturas. É um fenômeno inevitável, sem o que a sociedade não se adaptaria às mudanças impostas pelas necessidades.
    Mas as reformas estruturais não eliminam a relevância da reforma moral, é ponto em que insistimos. São instâncias concomitantes.
    A reforma de uma estrutura política, administrativa, religiosa ou educacional, por exemplo, pode ser muito inteligente, como boa base de sustentação, mas o funcionamento vai depender do homem. E se o homem não estiver preparado para conviver com os novos mecanismos, não apenas do ponto de vista intelectual ou técnico, mas também do ponto de vista moral, a melhor estrutura possível corre o risco da poluição, apesar das boas aparências. (...).
    Que poderíamos esperar de uma casa muito bem traçada, muito bonita por fora, mas construída com material de péssima qualidade, sem alicerce seguro?
    Então, embora as reformas de estruturas sejam necessárias, o equilíbrio social não dispensa a reforma moral de alto a baixo. Não se reformam costumes por leis ou pela força. Por mais bem intencionada e cuidadosa que seja uma lei, não está isenta de acomodações e distorções quando o homem quer usá-la em benefício de seus caprichos ou de conveniências ocultas.
    A lei por si só não reforma a sociedade, pois os resíduos da imoralidade e das artimanhas sempre subsistem enquanto o homem, por sua vez, também não se modifica interiormente. Dentro dessa concepção, que está na ordem geral das idéias que até aqui explanamos, naturalmente nos defrontamos com o problema da propriedade.
    Como já recordamos, o Espiritismo nos põe diante de uma concepção igualitária quanto aos direitos essenciais da criatura humana. Mas também estabelece a distinção entre a propriedade privada e a propriedade destinada ao uso geral.
    Não usa terminologia jurídica nem muito menos formulações técnicas, mas divide, claramente, em termos técnicos, o bem comum, a que todos têm direito, e a fortuna de uso particular. Reconhecemos, por isso mesmo, a legitimidade da propriedade privada, obtida à custa do trabalho honesto, sem prejuízo de ninguém, como ensina a Doutrina.
    E porventura não tem o direito de usufruir o resultado de seu esforço todo aquele que trabalha e sabe perseverar e economizar para conseguir um padrão de vida melhor? É lógico e humano. Isto não implica aceitar ou defender a transformação de recursos ou bens de uso geral em propriedade particular, para o enriquecimento de uns poucos em desfavor de muitos.
    É o que significa, sem tirar nem pôr, a monopolização de um patrimônio coletivo. A propriedade e o capital são, portanto, valores relativos. Se a Doutrina Espírita não é contra o capital em si, coerentemente não apóia a designação depreciativa do dinheiro como o "vil metal".
    O homem é o responsável pelos efeitos do capital, pois o dinheiro é apenas um instrumento que tanto pode servir de peça decisiva de um sistema de corrupção e violência.
    O problema é com o ser humano, não é com o dinheiro, pois já sabemos muito bem que as melhores coisas deste mundo, quer materialmente, quer intelectualmente, podem ser usadas para o mal ou para o bem, na medida em que o livre-arbítrio pende para um lado ou para outro.É o que aprendemos na Doutrina Espírita:
    "Se a riqueza houvesse de constituir obstáculo absoluto à salvação dos que a possuem, conforme se poderia inferir de certas palavras de Jesus interpretadas segundo a letra e não segundo o Espírito, Deus, que a concede, teria posto nas mãos de alguns um instrumento de perdição, sem apelação nenhuma, idéia que repugna a razão". (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVI). Coincidentemente - apesar da grande distância no tempo e nas circunstâncias - o presidente Franklin Roosevelt, dos Estados Unidos, chefe de uma nação capitalista, dizia isto:
    "Os capitalistas vorazes serão devorados pelo fogo que eles atearam... O capital é essencial; razoáveis compensações ao capital são essenciais; porém o mau uso dos poderes do capital ou a egoística supervisão de seu emprego precisa ter fim, ou o sistema capitalista se destruirá pelos seus próprios abusos".
    Roosevelt estava então fomentando a política do New Deal, um plano econômico realmente revolucionário. Roosevelt defendia até veementemente a propriedade privada, mas ressalvou logo que a propriedade "não pode ser sujeita à manipulação desumana dos jogadores profissionais da bolsa ou dos conselhos de administração". O sentido humano da propriedade, em suma. São idéias que se encontram com as idéias espíritas:
    "O que por meio do trabalho honesto, o homem junta, constitui legítima propriedade sua, que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que resulta do trabalho é um direito natural, tão sagrado como o de trabalhar e viver". (O Livro dos Espíritos - capítulo XI, parte 3a, nº 882).
    Outra coincidência relevante, sobretudo pelo espaço de tempo (90 anos) entre o pensamento espírita e o pensamento de um economista contemporâneo, o que demonstra, mais uma vez, as antecipações da Doutrina Espírita em relação a problemas de nosso tempo:
    1947. H. Hansen: "Numa fase de industrialização e urbanização, o indivíduo não pode ordenar a sua vida isoladamente. Só conseguirá resolver os complexos problemas hodiernos mediante esforço conjugado e a ação cooperativa dos seus semelhantes".
    1857. O Livro dos Espíritos: "O homem tem que progredir. Isolado não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contacto com os outros homens. No isolamento ele se embrutece e estiola".
    No fundo, o que resulta de suas conceituações de origens tão diferentes é um apelo de ordem ética, porque contrário ao egoísmo, mas identificado com o espírito de solidariedade, que continua a ser uma força social das mais ponderáveis."Uma sociedade que se baseia na lei e na justiça de Deus - diz a Doutrina Espírita - deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação".
    É o caso da esmola, que humilha e não resolve os problemas. Mas o assunto provoca reflexões no campo sócio-econômico, o que será objeto de próximo capítulo.
    Texto publicado originalmente no livro "O Espiritismo e os Problemas Humanos". Edição USE, 1985. Primeira edição em 1948.

    Reencarnação e o progresso espiritual
    Carlos Toledo Rizzini
    A escola espírita têm a evolução espiritual não somente como provada, mas também como necessidade lógica. O princípio espiritual, criado por Deus, desenvolve-se ao longo do tempo, aprimorando-se paulatinamente. Por isso são desiguais as idades dos espíritos e o curso da evolução (pelo respeito ao livre-arbítrio quando surge), há homens em todos os níveis de adiantamento, desde o selvagem até Einstein e Gandhi. Por hora, o estado moral do nosso planeta admite a heterogeneidade, que ‚ útil às lutas evolutivas. O progresso do espírito processa-se pela assimilação de experiências vividas e conhecimentos adquiridos. Esse material, em cada existência, é absorvido e manipulado pela mente consciente; mas, a sua integração no acervo acumulado no espírito dá-se pela transferência para o inconsciente (subconsciente), onde fica armazenado. Contudo, isso não o anula, porquanto, sempre que preciso, renasce como aptidão e vocação.
    A evolução espiritual consiste na transferência dos novos elementos de progresso do consciente para o inconsciente e, nesta passagem, na transformação deles (conhecimentos e experiências) em faculdades - donde as aptidões e vocações, não raro bem manifestas em crianças.
    A reencarnação atende à evolução, pois, sendo múltiplas as experiências e variados os conhecimentos, uma só vida material pouco representa na eternidade do espírito imortal! E os erros, os crimes, os vícios, a ignorância? Como repará-los, se o faltoso morre em falta? Vê-se logo que a reencarnação ‚ noção que se impõe tão pronto a mente se desembarace de certos entraves íntimos.
    A assimilação de experiências vividas, acima explicada exige ampla cota de tempo e, daí, a volta à carne muitas vezes. Em inúmeras de suas vidas terrenas, o espírito comete erros naturais e violações intencionais, adquirindo dívidas perante a Lei de Deus, cuja justiça ‚ infalível e minuciosamente exata.
    Numa vida subseqüente, terá de viver de modo a reparar ou diminuir tais débitos. E isto ‚ feito por meio da expiação (resgate) e da reparação. O princípio que assegura a continuidade das vidas de um Espírito unindo logicamente os fatos de uma aos da seguinte, é a chamada "Lei de Causa e Efeito", que declara o homem livre para agir, mas sujeito às conseqüências da ação: ele pode lançar causas, mas terá de reabsorver os efeitos danosos. Se numa vida espoliei outro e aproveitei o produto do furto, noutra passarei privações; se fiz alguém perder um braço, perderei um braço mais tarde em circunstâncias equivalentes. Estas experiências, assimiladas, darão ao Espírito esclarecimento para libertá-lo mais cedo ou mais tarde, do mau impulso levando-o a ser correto, e afastar-se do mal como meio de obter vantagem agora (e dores depois).
    A reencarnação fornece a única explicação lógica e natural acerca das desigualdades sociais, que as pessoas consideram como injustiças, donde as lutas pela decantada "justiça social".
    Afirmar o contrario seria dizer que Deus ‚ injusto !.
    Retirado de "Evolução Para o Terceiro Milênio".

    Reencarnação
    Jorge Borges de Souza
    A doutrina dos renascimentos, pregada pelo espiritismo, não é nova; encontra-se em todas as religiões e filosofias dos povos antigos.
    Não é, pois uma criação do Espiritismo.
    A ansiedade dessas idéias é mais uma prova importante a apresentar para assegurar a veracidade da doutrina. Os sábios e filósofos do passado estudaram e investigaram bastante o assunto de modo que ofereceram à presente geração um patrimônio considerável de princípios palingenésicos que encontraram abrigo em todos os corações ao tempo em que o orgulho, o interesse e os prejuízos eram esmagados pelo desejo de conhecer a verdade.
    Passaram-se os séculos, passaram os homens e as suas obras, mas se transmitiu de geração em geração a idéia vencedora transferindo-se, por assim dizer, de uma filosofia a outra de uma a outra religião em virtude dos ensinos velados ou explícitos dos profetas e dos grandes Instrutores da humanidade.
    Os Vedas considerados pelos brâmanes como o livro sagrado por excelência, em que se contem a ciência das ciências, ostentando o código, da ensinam a necessidade dos renascimentos, através de uma linguagem, ora simbólica, ora positiva. Os hinos védicos feitos há cerca de 60.000 anos, falam-nos na lei da reencarnação e afirmam que é preciso reencarnar e fazer o bem para estar “novos laços com outros corpos em outros mundos”.
    Eduardo Schure no seu maravilhoso livro "Grandes iniciados", aludindo a Rama, a sua doutrina e aos seus contemporâneos, escreve: "Os poetas védicos não se preocupam somente com o destino da alma; inquietam-se também com sua origem. Onde nasceu a alma? Ela existe nos que vem para nós e regressa nos que regressam e tornam a voltar".
    Eis, em duas palavras, a reencarnação, que desempenhara mais tarde, um papel capital no bramanismo e no budismo, entre os egípcios e os orficos na filosofia de Pitágoras e de Platão, o mistério dos mistérios, o arcano dos arcanos.
    Nada mais simples e maior que a religião védica onde um profundo naturalismo se mistura a um espiritualismo transcendente. Se lermos os princípios do Bhagavadgita, maravilhoso fragmento interpolado no grande poema de Mahabharata, considerado pelos brâmanes um dos mais sagrados livros, veremos que eles se referem em muitas partes a essa doutrina. “Tu trazes em ti mesmo, - diz o Bhagavadgita - um amigo que desconheces”.
    Porque Deus reside no Intimo de cada ser, mas poucos sabem, que o trazem lá. 0 homem que sacrifica os seus desejos, e as suas obras ao Ser de que procedem aos princípios de todas as cousas e por Quem o universo foi formado, obtém por esse sacrifício a perfeição. Aquele que encontra em si mesmo a sua felicidade, sua alegria e, em si mesmo também, a sua luz, identifica-se com Deus. "Ora; sabei-o, a alma, que encontrou Deus, libertou-se do renascimento e da morte, da velhice e da dor, e bebe a água da imortalidade".
    Na verdade a alma que encontrar Deus, que se purificar, que as culminâncias de espiritualidade, não sofrerá mais a encarnação material. Liberar-se-á do aguilhão da morte, não mais envelhecerá por não ter mais corpo físico, já não sentirá a dor e, por tudo isso, terá vida eterna. Buda dizia: "Se não nascêssemos e renascêssemos, não estaríamos sujeitos à dor, à doença à miséria, à velhice à morte”.
    Krisma, o inspirado de Mahadeva, numa linguagem de um simbolismo oriental, doutrinando, sobre o destino da alma, depois da morte, ensina que ela não foge à ação da lei universal da transformação, mas obedece sempre ao plano divino. “Como ao raiar das estrelas se abrem às profundezas do céu, assim as profundezas da vida se alumbram ao raiar desta verdade”.
    Quando o corpo está dissolvido, logo que Sativa (a sabedoria) domina, a alma evola-se as regiões desses seres puros que têm conhecimento do Todo Poderoso.
    Quando, o corpo se desfaz, enquanto Raga (a paixão) o domina, a alma vem habitar de novo entre aqueles que estão apegados às cousas da terra.
    Pela leitura desse trecho, compreende-se que ele ensina que a alma muito evoluída sobe aos mundos mais elevados, onde se pode conhecer a felicidade e ter de Deus melhor concepção, ao passo que a que pouco progrediu volta novamente a renascer, entre os homens naturalmente até que se purifique e adquira a necessária sabedoria.
    João Pessoa, Janeiro de 1971.
    (Jornal o Clarim - 15/Junho/1971)

    Reencarnação
    Juvanir Borges de Souza
    Recente pesquisa anunciada pelos meios de comunicação de massas, em dezembro de 1996, dá o percentual de 35% da população brasileira como aceitando a doutrina da reencarnação, ou das vidas sucessivas, enquanto que 52% lhe são contrários. Os restantes 13% são os indecisos e os que não quiseram opinar.
    Considerando que a grande maioria da nossa população é constituída de católicos romanos, adeptos das igrejas reformadas (protestantes) e materialistas confessos, os quais são radicalmente contrários à doutrina das vidas sucessivas, a conclusão lógica, diante dos números da pesquisa, é que católicos e protestantes estão aderindo à idéia reencarnacionista. Os materialistas ficam à margem dessa consideração, por não admitirem a existência da alma, ou espírito.
    Essa dedução lógica mostra-nos, antes de mais nada, a força da realidade viva triunfando sobre dogmas e interpretações humanas divorciadas da verdade. Induz, outrossim, à constatação de que muitos religiosos seguidores das igrejas tradicionais, embora não se desligando de sua fé, não aceitam mais as imposições absurdas de doutrinas dogmáticas, contra a lógica dos fatos.
    Por que a doutrina da reencarnação vai-se tomando cada vez mais difundida e aceita no mundo ocidental, onde impera o dogmatismo das igrejas oriundas do Cristianismo?
    Em primeiro lugar, ela se firma por estar na natureza das coisas. É lei divina, que pode ser rejeitada e até anatematizada pelo fanatismo dos homens, mas não deixa de atuar como lei pela simples oposição dos que não a aceitam.
    A própria Igreja dos primeiros séculos não se opunha à reencarnação. Havia divergências interpretativas. Muitos padres seguidores de Orígenes (século II) admitiam a reencarnação, que só foi repelida e condenada pelo Sínodo Permanente de Constantinopla, no ano de 543. O papa Virgílio aprovou a rejeição da tese anti-reencarnacionista baseado na decisão daquele Sínodo, acrescentando que a idéia da reencarnação era incompatível com a noção de que "Deus salva o homem pela morte e ressurreição de Jesus-Cristo."
    Posteriormente, diversos outros Concílios proscreveram a doutrina reencarnacionista, o último dos quais foi o Vaticano II, em 1965.
    A Igreja criou, assim, sua doutrina, com base em diversas decisões de seus concílios, através dos séculos. Foram decisões infelizes, divorciadas da realidade.
    Isto não quer dizer que a doutrina autenticamente cristã, ou seja, aquilo que exsurge dos ensinos do Cristo expressos nos quatro Evangelhos, exclua ou repila a reencarnação.
    O mal causado pelas interpretações humanas dos Evangelhos é evidente.
    Se todos os obstáculos de nossas vidas foram superados pelo Cristo, que, segundo a doutrina da Igreja, assumiu todos dos os pecados na cruz e na ressurreição, bastando que a criatura aceite ser incluída no rol dos redimidos, qual o interesse de cada um em proceder corretamente e praticar as leis de Deus e dos homens, se sua salvação está assegurada de antemão?
    Como fica a responsabilidade individual dos que praticam o mal conscientemente?
    Onde a Justiça Divina, se o malfeitor, o criminoso, o corrupto, o mau, o indiferente são tratados da mesma forma que o caridoso, o sensível aos sofrimentos alheios, o que se sacrifica pelo seu próximo?
    Há uma total injustiça nessa doutrina, que desestimula a prática do bem e a submissão aos ensinos evangélicos, que acena com o sacrifício de si mesmo, o trabalho individual dirigido ao bem, o amor ao próximo como condições de aperfeiçoamento. O progresso individual, a evolução contínua é que é a salvação e não uma espera de julgamento indefinida no tempo, como quer a doutrina ultrapassada da Igreja.
    É evidente que o Cristo de Deus é o Salvador da Humanidade, oferecendo sua Mensagem de vida eterna como roteiro, como o caminho e a verdade que Ele mesmo se proclamou. Ele é exemplificação e modelo, mas compete a cada criatura seguir o caminho indicado, com esforço, com amor, com dedicação e não ficar de braços cruzados à espera da salvação.
    Pregar que a redenção da criatura se faz simplesmente pela cruz e pelo batismo e não pelo esforço de cada um, através de vidas sucessivas, é incentivar a indiferença pela vida, igualando bons e maus. É, igualmente, desprezar a Justiça Divina, na sua função de dar a cada um segundo suas obras, como ensinou o Cristo.
    O mundo caminhou muito nos séculos que sucederam a Nova Era inaugurada com a presença de Jesus entre os homens.
    Se seus ensinos não puderam ser apreendidos no seu sentido real, verdadeiro, por deficiência do entendimento dos homens, o tempo, o progresso das ciências e, sobretudo, a Nova Revelação trazida pelo Espírito Verdade e seus prepostos proporcionaram um conhecimento e um juízo mais consentâneo com a realidade.
    A verdade e o entendimento justo dos Evangelhos estão à disposição dos homens, através do Consolador prometido e enviado pelo Cristo.
    Compete aos homens, sobretudo às organizações religiosas tradicionais, atentarem para os novos tempos e aceitarem a nova interpretação dos textos evangélicos e não se petrificarem no entendimento antigo, contraditório, injusto e ingrato para com o próprio Cristo, cuja doutrina é de Amor, de Justiça e de Caridade.
    É preciso atentar que o homem, enquanto se preparava para novos tempos, podia conviver com as trevas da Idade Média, guiado em suas carências intelectuais e morais por aqueles que eram os guias e intérpretes das Escrituras Sagradas.
    Entretanto, após séculos de preparo e de progresso da Ciência, nas suas múltiplas divisões e aplicações, após tantas retificações de antigos enganos e, sobretudo, após o socorro do Alto com a vinda do Consolador, soou a hora das retificações necessárias dos erros cometidos pelos homens na interpretação dos textos sagrados, para que as religiões não mais cometam a injustiça de atribuir a Deus e ao Cristo os enganos de seus concílios e suas resoluções transformadas em dogmas.
    É necessário que as Igrejas retifiquem seus enganos interpretativos para proveito de seus seguidores, seus fiéis, que se vêem desorientados com prejuízo evidente no desenrolar de suas vidas.
    É desolador constatar que, nos albores do Terceiro Milênio da Era Cristã, as Igrejas ainda não tenham percebido a realidade da reencarnação como lei natural e a combatam com tanta veemência, numa contradição que muito tem a ver com o obscurantismo, já que tudo aponta para essa realidade antiqüíssima: a ciência, as experiências, o bom-senso, a razão e o próprio texto dos Evangelhos, em algumas de suas passagens.
    Como está claro na Doutrina Consoladora, o progresso das almas é resultado do esforço de cada uma. Sendo livres, trabalham com maior ou menor intensidade, segundo a própria vontade, acelerando ou retardando sua evolução e o encontro com a felicidade.
    Portanto, são os Espíritos os próprios autores de sua situação feliz ou infeliz, de conformidade com o ensino de Jesus: A cada um segundo as suas obras.
    Todos estão de acordo neste ponto:
    "Existem, portanto, dois mundos: o corporal, composto de Espíritos encarnados; e o espiritual, formado dos Espíritos desencarnados. Os seres do mundo corporal, devido mesmo à materialidade do seu envoltório, estão ligados à Terra ou a qualquer globo; o mundo Espiritual ostenta-se por toda parte, em redor de nós, como no Espaço, sem limite algum designado." ("O Céu e o Inferno" - 1ª parte, cap. III, nº 5.)
    Ora, se existem dois mundos que estão em relacionamento, se do mundo espiritual partem as criaturas para o mundo corporal, encarnando-se e depois desencarnando, o que impediria que se repetisse a encarnação? Não é ela muito mais lógica que uma só vida na carne?
    Se o corpo se destrói, de acordo com a lei natural e se o Espírito volta à sua condição livre, por que não poderia repetir a encarnação em novo corpo, que, por sua vez, será destruído também, repetindo-se assim a operação, enquanto a lei da evolução o determinar?
    A dificuldade das Igrejas está nas próprias resoluções tomadas em seus concílios. Entenderam elas que a alma é criada no momento do nascimento do ser, ou de sua concepção, não admitindo que ela preexiste ao renascimento. Tudo o mais fica difícil de conceber diante dessa concepção discrepante da realidade, que é a da criação da alma no nascimento do ser, em contraposição à preexistência do ser espiritual.
    Quando meditamos sobre os ensinos do Mestre Incomparável, como nessas passagens admiráveis:

    Amai os vossos inimigos.Bendizei os que vos maldizem.Não julgueis para não serdes julgados.No mundo tereis tribulações.Eis que vos envio como ovelhas no meio dos lobos.Entre vós, o maior seja servo de todos.Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me;torna-se impossível ter no Cristo um doador de vida fácil, sem sacrifícios.
    Como nos mostra Emmanuel, se o Cristianismo é esperança sublime, fé restauradora e amor celestial, é também trabalho sacrificial para o aperfeiçoamento contínuo.

    A reencarnação é confirmada pela bíblia
    Paulo Afonso da Mata Machado
    1) INTRODUÇÃO
    "É certo que os vivos nascem dos mortos; que as almas dos mortos renascem ainda." (Phèdre)
    A noite estava começando e meu filho mais velho e eu comentávamos sobre fatos da História. De repente, ele fez uma pergunta difícil para sua idade:
    - Será que nós fomos os maus de antigamente?
    Pergunta intrigante! Católico que eu era, respondi-lhe que isso não era possível. Todavia, guardei na memória esse questionamento, principalmente porque ele perguntou se fomos os maus! Por que os maus e não os bons? Mais tarde, estudando a doutrina das vidas sucessivas, concluí que essa pergunta indicava uma reminiscência do passado, muito presente em crianças com idade inferior a sete anos.
    A doutrina das vidas sucessivas ou reencarnação é chamada também de palingenesia, que se origina do grego palin (novo) e gênese (nascimento). Ela também foi aceita na Índia antiga, conforme se encontra nos Vedas: "Da mesma forma que nos desfazemos de uma roupa usada para pegar uma nova, assim a alma se descarta de um corpo usado para se revestir de novos corpos."
    A doutrina da reencarnação foi introduzida na Grécia por Pitágoras, o matemático famoso que deu nome ao teorema de que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Sócrates e seu discípulo Platão adotaram as idéias de Pitágoras sobre as vidas sucessivas. A escola platônica da Alexandria ensinava a reencarnação precisando a vantagem desta evolução progressiva para as condições da alma.
    Há, na Antigüidade, outros adeptos da doutrina das vidas sucessivas, como Plotino, que a cita várias vezes no curso de suas Eneidas. É um dogma, disse ele, muito antigo e universalmente ensinado que, se a alma comete faltas, é condenada a expiá-las submetendo-se a punições nos infernos tenebrosos, depois do que é admitida a voltar em um novo corpo para recomeçar suas provas. Diz ele que "a providência de Deus assegura a cada um de nós a sorte que lhe convém e que é harmônica com seus antecedentes, segundo suas existências sucessivas."
    Jamblico trata do mesmo assunto: "Assim as penas que nos afligem são freqüentemente castigos de um pecado do qual a alma se rende culpada em sua vida anterior. Algumas vezes, a razão do castigo nos é ocultada por Deus, mas nós não devemos duvidar de sua justiça."
    Entre os romanos que adquiriram a maior parte de seus conhecimentos na Grécia, Virgílio exprime claramente a idéia dos renascimentos nestes termos: "Todas as almas, ainda que por milhares de anos tenham retornado à roda desta existência (no Elísios ou no Tártaro), Deus as chama em numerosos enxames ao rio Léthé, a fim de que, privadas de recordações, revejam os lugares superiores e convexos e comecem a querer voltar ao corpo."
    Os Gauleses acreditavam nas vidas sucessivas. César escreveu na Guerra de Gales: "Uma crença que eles buscam sempre estabelecer, é que as almas não perecem de forma alguma e que após a morte elas passam de um corpo para outro."
    Em suas obras, o historiador Joseph fez profissão de sua fé na reencarnação; relata que essa era a crença dos fariseus.
    O Zoar diz: "Todas as almas são submetidas às provas da transmigração" e a Cabala: "São os renascimentos que permitem aos homens se purificar."
    Os judeus tinham uma idéia muito confusa a respeito da reencarnação, mas há indícios no Talmude de que o assunto não era desconhecido dos iniciados: "A alma de Abel passou ao corpo de Set e mais tarde ao de Moisés." Além disso, acreditavam que o retorno de Elias sobre a Terra devia preceder o do Messias.
    Também alguns padres da Igreja Católica admitiram a teoria das vidas sucessivas. O Pe. Didon, em sua Vida de Jesus, diz o seguinte: "Então se crê, entre o povo (judeu) e mesmo nas escolas, no retorno à vida da alma dos mortos." O sábio beneditino Dom Calmet se exprime assim em seu Comentário: "Vários doutores judeus crêem que as almas de Adão, Abraão e Phinées animaram sucessivamente vários homens de sua nação."
    Contudo, entre os padres católicos, Orígenes é o que afirmou de forma mais precisa, em numerosas passagens de seu Princípios (livro 1°), a reencarnação ou renascimento das almas. Sua tese é esta: "A justiça do Criador deve aparecer em todas as coisas."
    Alguns teólogos da Igreja Católica também foram simpáticos à idéia. São Jerônimo afirma que a transmigração das almas fazia parte dos ensinamentos revelados a um certo número de iniciados. Em suas Confissões, Santo Agostinho expressa dúvida com relação à reencarnação: "Minha infância não sucedeu a um idoso morto antes dela?... Mesmo antes desse tempo, tinha já estado em qualquer parte? Fui alguma pessoa qualquer?"
    Ainda no século quinze, o cardeal Nicolas de Cusa sustentava em pleno Vaticano a teoria da pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados, não somente com o assentimento, mas com os encorajamentos sucessivos de dois papas: Eugênio IV e Nicolau V.
    Por que, então, a Igreja Católica combate tão veementemente a doutrina da reencarnação? Trata-se de um erro histórico. O Imperador Justiniano tomou como esposa uma ex-prostituta, de nome Teodora. Esta, na tentativa de libertar-se de seu passado, mandou matar cerca de quinhentas antigas "colegas". Mais tarde, alertada de que havia criado para si um débito que poderia ser quitado em outras encarnações, ela se empenhou em eliminar da exegese católica toda a crença na reencarnação como se, dessa forma, estivesse eliminando, de fato, as vidas sucessivas e, por extensão, o seu débito. Seu marido mandou seqüestrar o Papa Virgílio em Roma e o manteve prisioneiro durante oito anos. Nesse período, convocou um concílio ecumênico, que tomou o nome de Segundo Concílio de Constantinopla. Do total de 165 bispos presentes, 159 eram do Oriente, o que tornou fácil o trabalho do Imperador para conquistar os votos de que necessitava. Todavia, de acordo com a doutrina católica, as decisões de um concílio ecumênico somente têm valor se assinadas pelo papa e Virgílio recusou-se terminantemente a assinar o documento aprovado pelos bispos. Os Papas que o sucederam, embora se referissem ao Segundo Concílio de Constantinopla, também não o assinaram. Dessa forma, a Igreja Católica não dispõe de um documento oficial contra a reencarnação.
    Nos tempos modernos, é maior o número de pensadores que admitem a reencarnação. Leibnitz, estudando o problema da origem da alma, admitiu que o princípio inteligente, sob a forma de mônada, tinha podido se desenvolver no reino animal. Numerosos pensadores se reuniram à reencarnação: Dupont de Nemours, Charles Bonnet, Lessing, Constant Savy, Pierre Leroux, Fourier, Jean Reynaud. A doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada para o grande público por autores como Balzac, Théophile Gautier, George Sand e Victor Hugo.
    Hoje, as provas de reencarnações são, em geral, obtidas pela terapia de vidas passadas (TVP). O homem aprendeu que, pela hipnose, pode fazer a pessoa regredir mentalmente a vidas anteriores. Entre os pesquisadores que trabalham com a TVP estão: Dr. Morris Netherton, psiquiatra americano; Dr. Dehtlesfsen, catedrático de Psicologia da Universidade de Munique, Alemanha; Dra. Helen Wambach, psiquiatra americana e autora de "Recordando Vidas Passadas"; Dr. Roger Woolger, destacado psiquiatra americano, autor de "As Várias Vidas da Alma"; Dr. Ken Wilber, célebre psicológico americano, com grande influência na Psicologia Moderna, e autor de "O Espectro da Consciência"; Dr. Joel Whitton, catedrático de Psicologia da Universidade de Toronto, Canadá, e autor de "Vida - Transição - Vida".
    Se a reencarnação é objeto de análise no mundo científico, o mesmo não acontece no mundo religioso ocidental, porque padres e pastores dizem que a Bíblia fala de céu e de inferno e que ambos seriam incompatíveis com a doutrina da reencarnação.
    O propósito do presente trabalho é listar algumas referências bíblicas a respeito da reencarnação. Provaremos, também, à luz da Bíblia, que a doutrina simplista do céu ou do inferno não passa de uma figura de pensamento e que Jesus jamais a sancionou. As citações bíblicas da reencarnação são, algumas vezes, mais claras, mas, em outras, somente são entendidas por aqueles que têm olhos de ver...
    2) Ressurreição ou reencarnação?
    Quando nossa alpercata
    Já não presta mais para nada,Atiramos no monturoPor estar invalidadaSe ela ficasse novaSeria ressuscitada.
    Quanto à reencarnação,O processo assim se dá:O corpo é uma roupaQue serve para agasalharO espírito e é trocadaSe ela não mais prestar.
    (autor desconhecido)
    Narram os evangelistas que Jesus perguntou qual era a opinião dos homens acerca de sua natureza espiritual (Mt,16,13; Mc,8,27). Os discípulos responderam:
    - Uns dizem que és João Batista; outros, que Elias; outros, que Jeremias ou algum dos profetas. (Mt, 16,14)
    Pela resposta dada, podemos avaliar os comentários que deviam estar surgindo a respeito de Jesus. Uns o consideravam João Batista ressuscitado, outros a reencarnação de Elias ou de Jeremias.
    João Batista havia morrido havia pouco tempo e os que diziam que Jesus e ele eram o mesmo indivíduo, estavam pensando em uma ressurreição. Deviam ser a minoria, pois a família de Jesus era conhecida. (Mc, 6,3) Os que conheciam seus familiares não poderiam pensar que Jesus fosse João Batista que voltara do túmulo.
    Os outros, isto é, a maioria, devia dizer que Jesus seria Elias, Jeremias ou outro profeta. Nesse caso, como eles haviam morrido séculos antes, trata-se de um caso líquido e certo de crença na reencarnação e não de que Jesus houvesse saído do túmulo.
    Façamos uma pausa e analisemos o fato de Jesus ser considerado como Elias. O 2° Livro de Reis conta que Eliseu viu Elias ser arrebatado ao céu. É estranho que alguns acreditem que Elias tenha deixado a Terra em seu corpo material, sem morrer, quando o próprio Cristo somente deixou o planeta após a cruz. É óbvio que não foi isso o que aconteceu. Se lermos atentamente 2Rs, 2,2-11, concluiremos que essa foi apenas a impressão de Eliseu. Este, sabendo que Elias estava no fim de sua missão, pediu-lhe a duplicação de seu espírito, ou seja, os seus poderes, hoje, ditos mediúnicos. Elias lhe respondeu:
    - Se tu vires quando me arrebatarem de ti, terás o que me pedes. (v. 10)
    Eliseu teve uma visão fugaz, que logo desapareceu: viu Elias em algo como um carro de fogo e uns cavalos de fogo. (v. 11) Em outras palavras, Eliseu viu Elias após ter-se desprendido do corpo físico. É evidente que o profeta não poderia ter deixado a Terra no meio de um fogaréu em seu corpo carnal, senão ele se queimaria todo. Tendo visto Elias partir, Eliseu demonstrou que tinha o que hoje se chama mediunidade. Prova disso é que havia cinqüenta dos filhos dos profetas, (v. 7) mas somente Eliseu viu o carro de fogo levar Elias.
    Voltando à resposta dos discípulos a Jesus, percebemos que os judeus acreditavam que tanto poderia o espírito animar o próprio corpo (Jesus seria João Batista ressuscitado) como outro corpo (comentava-se que Jesus seria a reencarnação de Elias, de Jeremias ou de algum dos profetas). E Jesus, que disse dessa teoria? Não se manifestou sobre ela, apenas perguntou:
    - E vós, quem dizeis que eu sou? (Mt, 16,15)
    Se Jesus fosse contrário à teoria da reencarnação, certamente teria repreendido seus discípulos. Em outra ocasião, eles manifestaram novamente esse pensamento e Jesus também não os repreendeu. Trata-se do episódio da cura do cego de nascença, do qual trataremos mais adiante.
    A palavra ressurreição nos textos evangélicos é, às vezes, tomada como sinônimo de aparição do espírito. Foi nesse sentido que Mateus a usou, referindo-se à visão de mortos ocorrida no dia em que Jesus foi crucificado:
    E abriram-se os sepulcros e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados. E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa e apareceram a muitos. (Mt, 27, 52-53)
    Nesse caso, o uso da expressão apareceram a muitos demonstra que nem todos os viram e, portanto, eles não voltaram a seus corpos de carne.
    3) Jesus Falou do Batismo a Nicodemos?
    Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. (Jo, 3,3).
    Dentre os quatro evangelistas, João é aquele que sabe ser sucinto, quando lhe convém, e detalhista, quando julga necessário. No encontro de Jesus com Nicodemos, dada a sua importância, João não economizou palavras. Boa parte do capítulo terceiro de seu evangelho é dedicada apenas a esse diálogo.
    Por que terá Nicodemos procurado Jesus? Ele o via fazendo prodígios e ensinando com autoridade e imaginou que ali estivesse alguém enviado por Deus. Se fora enviado por Deus, Jesus já existia antes do próprio nascimento. Nesse caso, só podia ser verdadeira a idéia da reencarnação.
    Nicodemos deve ter pedido a opinião de algum colega a respeito de Jesus, mas como ninguém pudesse lhe dar uma resposta convincente, concluiu que apenas o Mestre poderia lhe tirar essa dúvida. Decidiu-se, então, procurá-lo para indagar se ele viera da parte de Deus e como isso se dera. Chegando à casa onde Jesus estava hospedado, ele o saudou da seguinte forma:
    - Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruir como um doutor, porquanto ninguém poderia fazer os milagres que fazes se Deus não estivesse com ele. (v. 2)
    Jesus lhe respondeu:
    - Em verdade, em verdade, digo-te: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. (v. 3)
    Percebe-se que Jesus não comentou o que Nicodemos disse, mas o que ele estava pensando. Este não manifestou nenhum espanto, mas aproveitou o ensejo para perguntar:
    - Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe para nascer segunda vez? (v. 4)
    Percebe-se que mesmo Nicodemos, um doutor da lei, tinha idéia confusa acerca do fenômeno da reencarnação. Jesus, que sabia disso, explicou:
    - Em verdade, em verdade, digo-te: Se um homem não renasce da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito. Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo. O espírito sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem ele, nem para onde vai; o mesmo se dá com todo homem que é nascido do espírito. (v. 5-8)
    Essa resposta de Jesus merece ser analisada parte por parte:
    Se um homem não renasce da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus.
    A palavra água é tomada no sentido que lhe empresta a Bíblia: o elemento gerador absoluto. É o mesmo sentido que lhe foi dado nas passagens seguintes:
    O Espírito de Deus era levado sobre as águas. (Gn, 1,2)
    Que o firmamento seja feito no meio das águas. (Gn, 1, 6)
    Que as águas que estão debaixo do céu se reúnam em um só lugar e que apareça o elemento árido. (Gn, 1, 9)
    Que as águas produzam animais vivos que nadem na água e pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento. (Gn, 1,20)
    Jesus faz distinção entre a água (matéria) e o espírito, dizendo que é preciso renascer da água e do espírito. Esse é o sentido original do ensinamento de Jesus. Mais tarde, alguns entenderam que ele se referia à água do batismo, o que é absolutamente improvável, devido ao tema que estava sendo discutido. Além disso, o batismo fora criado por João Batista e nem todos os judeus se batizaram. Portanto, não era um assunto que poderia preocupar Nicodemos.
    O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do espírito é espírito.
    Aí está clara a distinção entre carne e espírito. É uma declaração formal de que o ato sexual produz apenas o corpo de carne; o espírito é dado por Deus. (Ecl, 12,7)
    Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo.
    Jesus volta a insistir no tema da reencarnação.
    O espírito sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem ele, nem para onde vai.
    Essa frase retira qualquer dúvida a respeito do pensamento de Jesus. Você não sabe de onde o espírito veio (se ele fosse criado no instante da concepção do corpo, você saberia) nem para onde vai (coloca em cheque a doutrina simplista do céu ou do inferno), mas ouve sua voz, ou seja, quem fala pelo homem é o espírito.
    Após os ensinamentos de Jesus, Nicodemos perguntou:
    - Como pode isso se fazer? (v. 9)
    Jesus lhe respondeu:
    - Pois quê! És mestre em Israel e ignoras tais coisas? (v. 10)
    Nicodemos tinha conhecimento da reencarnação, embora não a entendesse bem, não porque lhe faltassem estudos, mas porque resistia a aceitá-la. Jesus não respondeu sua pergunta porque já havia dito tudo que Nicodemos precisava saber.
    Querer reduzir todo esse diálogo a uma simples apologia do batismo é um insulto ao trabalho maravilhoso que João fez de procurar reconstituí-lo.
    4) A reencarnação está presente em Isaías
    Os teus mortos viverão, os meus a quem tiraram a vida ressuscitarão. (Is, 26,19)
    Isaías é, sem dúvida alguma, o maior dos profetas. Ele descreveu fatos da vida de Jesus com tal riqueza de detalhes que o grande teólogo católico conhecido como Santo Agostinho disse que ele mais parecia um evangelista que um profeta.
    Ao dizer que “os teus mortos viverão, os meus a quem tiraram a vida ressuscitarão” ele está usando dizendo que todos viverão de novo. Se o profeta estivesse falando que os mortos iriam viver no mundo espiritual, certamente diria: ainda vivem e não: viverão. Além disso, se estivesse se referindo aos que iriam para o céu, diria alguns ressuscitarão. Mas Isaías não fala que alguns viverão de novo, mas que todos que estavam mortos ressuscitarão, ou seja, viverão de novo, e não que irão para o céu ou para o inferno. É um formal desmentido à teoria simplista do céu ou do inferno.
    5) O Livro de Jó
    Decerto Deus não condena sem razão, nem o Onipotente atropela a justiça. (Jó, 34,12)
    Entre os livros do Antigo Testamento, aquele que mais fala veladamente da reencarnação é o Livro de Jó. Jó sofria muito, sem saber que pagava por erros que havia praticado. É advertido por Eliú (texto acima), que também lhe diz:
    - Se pecares, que dano farás tu a Deus? Se as tuas iniqüidades se multiplicarem, que farás tu contra ele? Além disso, se obrares com justiça, que lhe darás ou que receberá ele da tua mão? A tua impiedade só poderá fazer mal a um homem, que é teu semelhante; e a tua justiça poderá ser útil ao filho do homem. (Jó, 35, 6-8)
    Esse parágrafo tem ensinos fundamentais. Primeiramente, diz que o pecado não causa nenhum dano a Deus. Destrói, assim, a idéia de que Deus se sentiria ofendido com o pecado.
    Se o pecado não produz nenhum efeito sobre Deus, também o ato positivo não o afeta em nada. Portanto, fazer o bem a alguém ou cantar hinos de louvor a Deus beneficia apenas àquele que o faz.
    Mas não termina aí o parágrafo. Diz que a tua piedade só poderá fazer mal a um homem, que é teu semelhante. Mas quem é esse homem semelhante a mim, que receberá o mal causado por minha impiedade? Será outro homem ou serei eu mesmo?
    A dúvida parece se extinguir quando vemos o complemento do texto:
    - A tua justiça poderá ser útil ao filho do homem. (Jó, 35, 8)
    Quem será esse filho do homem que se beneficiará com meu ato de justiça? Só pode ser eu mesmo, senão nesta, em outra encarnação.
    O Livro de Jó, lido atentamente, vai nos apontar em direção à reencarnação. Compreenderemos as lamúrias de Jó, que se achava justo e que, mesmo assim, foi castigado por Deus.
    6) O Livro de Oséias
    Eu os remirei do poder do inferno e os resgatarei da morte; onde estão, ó morte, as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição? (Os, 13,14)
    Pelo texto acima, percebe-se que Oséias não admite um inferno eterno, senão não teriam sentido as suas palavras. Mas há algo mais importante nesse versículo. Ele fala em resgate da morte. Está aí uma forma velada de se falar da reencarnação. Ao perguntar onde estão as pragas da morte e a destruição do inferno, ele reforça a idéia de que, tanto um, como outro não são definitivos.
    7) O primeiro mandamento
    Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças: este é o primeiro mandamento. (Mc, 12,30)
    Todos nós que fomos católicos aprendemos no catecismo que o primeiro mandamento é: Amar a Deus sobre todas as coisas. No entanto, se formos consultar Êxodo, o primeiro mandamento tem a seguinte redação:
    Não farás imagens esculpidas das coisas que estão em cima, nos céus, nem embaixo, sobre a terra, nem nas águas, sob a terra. Não te prostrarás diante delas; não as adorarás, nem as servirás, porquanto eu sou o Eterno teu Deus, o Deus forte e cioso que puno a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta gerações dos que me odeiam e que uso de misericórdia, na sucessão de mil gerações, sobre os que me amam e guardam meus mandamentos. (Ex, 20, 4-6)
    Ao lermos o texto do primeiro mandamento, uma dúvida nos vem à cabeça: em que sentido está empregada a palavra gerações? É evidente que não é no sentido que normalmente lhe atribuímos, porque isso seria a negação da justiça divina. Deus puniria inocentes pela única razão de terem pais, avós ou bisavós que pecaram. É oportuna a observação de um dos maiores teólogos da Igreja Católica, conhecido como Santo Agostinho:
    - Por que Deus, que me perdoa os meus próprios pecados, vai-me responsabilizar pelos pecados de outrem?
    Portanto, a palavra gerações não está empregada no seu sentido usual. Como devemos, então, interpretá-la? O sentido real dessa palavra é o de encarnações. Aquele que cometeu a falta recebe, ele próprio, a punição, até a terceira e quarta encarnações. É a chamada lei do retorno, que Jesus ensinou a Pedro, quando este cortou a orelha de Malco, pensando que agia corretamente.
    É interessante verificarmos como a língua hebraica era pobre e o mesmo termo tinha diferentes significados. Jesus também empregou a palavra geração diferente do sentido que lhe é próprio:
    - Em verdade, em verdade vos digo que não passará essa geração sem que todas essas coisas se cumpram. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. (Mt, 24, 34-35)
    Muitos interpretaram que os acontecimentos que ele havia previsto (guerras, catástrofes) aconteceriam ainda naquela geração. É o que se chamou de parusia entre os primeiros cristãos e que hoje se chama fim do mundo. No entanto, se prestarmos atenção nessas previsões, vamos perceber que o evangelista faz uma ressalva:
    - ... o que lê, entenda... (Mt, 24, 15)
    Isso quer dizer que a profecia está feita em sentido figurado, isto é, trata-se de uma parábola.
    Portanto, nesse texto de Mateus, geração tem o sentido de grupo de entidades que habitam a Terra. No texto que se segue, essa palavra foi empregada nesse mesmo sentido:
    É para que sobre vós venha todo o sangue inocente que há sido derramado na terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar. Em verdade vos digo que tudo isso virá sobre essa geração. (Mt 23, 35-36).
    É evidente que aqueles homens não poderiam ser responsabilizados por mortes que não praticaram. Jesus queria dizer que as pessoas que mataram os profetas seriam responsabilizadas por isso e, naturalmente, muitas delas estavam ali reencarnadas. Reforça esse pensamento com a expressão a quem matastes entre o templo e o altar. Se estivesse anunciando punição a inocentes, o que seria um absurdo, diria que foi morto entre o templo e o altar.
    Citando Abel que, segundo Gênesis, foi a primeira vítima de assassinato, Jesus afirma que todos os culpados serão punidos, não importa quando a falta tenha sido cometida. Não quer, com isso, dizer que Abel existiu ou não. Na realidade, como veremos, Abel é uma figura lendária.
    Voltemos ao texto do primeiro mandamento, que se completa assim: “uso de misericórdia, na sucessão de mil gerações, sobre os que me amam e guardam meus mandamentos”.
    Se tomarmos esse texto ao pé da letra, estará consignado um verdadeiro absurdo. Uma pessoa gozaria da misericórdia de Deus se um antepassado longínquo agiu conforme os mandamentos. Outra, que não teve um antepassado assim, mas que não tem nenhuma culpa disso, não teria a mesma oportunidade. Onde estaria a justiça de Deus, se fôssemos interpretar o texto da forma como ele está escrito?
    Se levarmos em conta que o mandamento fala, veladamente, sobre a reencarnação, o texto passa a ter sentido. A palavra mil, por exemplo, não quer dizer 1000. Quer dizer sempre. Portanto, mil gerações significa as encarnações restantes. Em outras palavras, se seguirmos os ditames de nossa consciência e não cometermos atos pelos quais venhamos a nos arrepender, nada teremos a temer. Nas encarnações que ainda venhamos a ter, não teremos que cumprir a lei de talião, que Jesus confirmou a Pedro no Monte das Oliveiras. (Mt, 26,52)
    8) A Cura do Cego de Nascença
    Quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego? (Jo, 9,2)
    Recorremos novamente a João, o Evangelista. Ele conta que Jesus e seus discípulos viram Bartimeu, um cego de nascença e fizeram a Jesus a pergunta acima.
    Vamos analisar essa pergunta. A cegueira não poderia ser um castigo a um pecado por ele cometido, já que nascera cego. Os discípulos, no entanto, perguntaram a Jesus se sua cegueira fora causada por algum pecado cometido por ele. Isso indica que eles acreditavam na reencarnação.
    Os discípulos colocaram uma alternativa. Sua cegueira poderia ter sido causada por um pecado de seus pais, pois, pela crença dos judeus, os filhos pagavam pelos pecados dos pais.
    Entretanto, atribuir tal injustiça a Deus é uma perfeita heresia. Já vimos que a referência ao castigo de Deus nas sucessivas gerações do pecador indica a punição que o próprio culpado sofre nas sucessivas encarnações. Portanto, punir o filho pelo pecado do pai, o neto pelo pecado do avô ou o bisneto pelo pecado do bisavô jamais aconteceu nem jamais acontecerá, pois seria a própria negação da justiça de Deus.
    Alguns argumentarão que Deus castiga a humanidade pelo pecado de seus primeiros pais: Adão e Eva. Será que Deus age dessa forma? Pune a todos nós pelo pecado de Adão e Eva?
    Se nos reportarmos ao texto bíblico, vamos verificar que está dito em Gênesis que Adão foi construído por Deus da mesma forma que um oleiro faz uma estatueta de barro (Gn, 2,7). É evidente que isso não passa de uma linguagem figurada, para mostrar que o homem, como tudo o mais, é fruto da vontade de Deus. Eva, por sua vez – ainda segundo o texto bíblico – foi retirada de uma costela de Adão (Gn, 2, 21-22). Há, aí, um grande simbolismo: homens e mulheres são iguais em direitos e deveres.
    Hoje, está suficientemente provado que a linguagem de Gênesis é totalmente simbólica. Lá, há a criação da Terra antes de se criar o Sol e a Lua (Gn 1, 14-15), sendo esses dois astros criados para iluminarem a Terra de dia e à noite. Isso é um reflexo da teoria geocêntrica, que atribuía à Terra o privilégio de ser o centro do Universo e de ser o único corpo celeste em que o homem podia habitar. A ida do homem à Lua provou que não é bem assim...
    Se, no passado, a defesa da letra da Bíblia mandou muita gente para a fogueira, hoje isso não acontece mais. Sabemos que o texto de Gênesis é totalmente simbólico e jamais poderemos admiti-lo ao pé da letra, pois algumas partes desse mesmo livro nos mostram isso. Por exemplo, vejamos o que se diz em Gn 4,17: E Caim conheceu sua mulher, a qual concebeu e deu à luz Henoc.
    Como poderia Caim encontrar uma mulher para se casar, se toda a população da Terra – se tomarmos a letra da Bíblia – se restringia, àquela época, a Adão, a Eva e ao próprio Caim? É algo que a Bíblia não explica e que, a admitirmos seja real a história de Adão e Eva, teremos dificuldade em explicar. Completando a leitura do versículo, ficaremos ainda mais pasmos:
    E edificou uma cidade, que chamou Henoc, do nome do seu filho. (Gn 4,17)
    Poderíamos forçar a interpretação de que a mãe de Henoc fosse irmã de Caim, também filha de Adão e Eva, embora a Bíblia não fale nada a esse respeito. O incesto seria explicado pela absoluta falta de possibilidade de Caim encontrar outra mulher. Entretanto, não teríamos como imaginar a construção de uma cidade apenas com Caim, sua mulher e Henoc.
    Um argumento a favor da veracidade da história de Adão e Eva viria do fato de que Lucas fez uma genealogia de Jesus até Adão (Lc, 3, 23-38).
    Na realidade, essa genealogia difere da que foi feita por Mateus (Mt, 1,1-17) e que parte de Abraão. Se de Abraão a José há divergências, imagine-se tentar levantar dados anteriores ao patriarca dos judeus, sem que haja nenhum registro escrito.
    As genealogias descritas por Mateus e Lucas não foram aceitas pacificamente pelos primeiros cristãos. Na realidade, devem ter causado muita polêmica, porque Paulo escreveu a Timóteo nos seguintes termos:
    - Como te roguei, quando partia para a Macedônia, que ficasse em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinassem doutrina diversa, nem se preocupassem com fábulas ou genealogias sem fim ... (I Ti, 1,3-4)
    Percebe-se que Paulo não aprovou seu discípulo Lucas ter tentado fazer uma genealogia de Adão a José. Repetimos que, se até Abraão, em que talvez houvesse registros, não há concordância entre os evangelistas, a genealogia anterior a Abraão não tem nenhuma confiabilidade. Por isso, o fato de Lucas citar Adão como antepassado de José não quer dizer que o primeiro existiu.
    Se a história de Adão e Eva é uma linguagem figurada, que representa? Qual é o seu simbolismo? Antes de procurarmos seu significado, vamos nos lembrar do que Jesus disse a seus discípulos o que João transcreveu:
    - Há muitas moradas na casa de meu pai (Jo, 14,2).
    A casa de Deus é o Universo, pois não podemos imaginá-lo confinado a um determinado local. Ao dizer que há muitas moradas na casa de Deus, Jesus quis dizer que há muitos locais onde as pessoas possam habitar. A Terra, por ser um planeta ainda bastante atrasado, onde o mal permanece bastante presente, foi escolhida para receber um grupo de espíritos que teimava em permanecer no mal. O exílio desse grupo de espíritos está bem patente na passagem seguinte:
    - E o Senhor Deus lançou-o fora do paraíso de delícias, para que cultivasse a terra (Gn, 3,23).
    “Expulso” de um planeta mais adiantado, onde já não existia o trabalho braçal, o grupo de espíritos que Adão e Eva representam veio para a Terra, onde havia quase exclusivamente o trabalho braçal.
    Se lermos com atenção o Apocalipse, vamos também encontrar esse exílio para a Terra, mas exposto de uma forma diferente:
    Houve no céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão e o dragão com os seus anjos pelejava contra ele; porém estes não prevaleceram, nem o seu lugar se encontrou mais no céu. Foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama demônio e satanás, que seduz todo o mundo... (Ap, 12, 7-9)
    Há uma interpretação errônea de que João estaria descrevendo uma batalha no céu. O Apocalipse é todo ele em sentido figurado, pois se trata de visões que João teve na Ilha de Patmos. Além disso, como poderia ocorrer uma batalha em um local onde tudo é espiritual?
    Foi essa passagem do Apocalipse que deu origem à lenda de Lúcifer e de seus anjos. Entretanto, se lermos o texto com atenção, vamos verificar que o dragão e os seus anjos não foram precipitados no inferno, como reza a lenda. Hoje, católicos, protestantes e evangélicos reconhecem que não há como circunscrever o inferno a um lugar físico e, portanto, é uma mera crendice pensar que a figura do dragão representa um anjo de luz chamado Lúcifer, que teria sido “expulso” do céu.
    A queda do dragão e de seus anjos é espiritual e não física. Ela simboliza o exílio daqueles que habitavam um planeta mais elevado e vieram para a Terra. O termo satanás, usado por João,simboliza o mal de forma abstrata e não algo concreto. A propósito, Jesus também empregou essa palavra no mesmo sentido usado no Apocalipse, quando disse a Pedro:
    - Retira-te de mim, satanás; tu serves-me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus, mas dos homens (Mt, 16,23).
    A visão de João foi fantasiada, dando a satanás o corpo de um anjo de luz, a que se denominou Lúcifer. Segundo, ainda, essa crendice, Lúcifer teria sido o anjo preferido de Deus (como se Deus tivesse preferência por qualquer uma de suas criaturas) e foi precipitado no inferno por seu orgulho. Essa história não tem respaldo na Bíblia e não tem a menor lógica. De fato, tendo Deus a presciência absoluta, não beneficiaria um anjo em detrimento dos demais, pois saberia que isso seria motivo de sua queda.
    Portanto, Lúcifer, com esse nome ou com outro que o povo lhe tenha dado (Diabo, Demônio, Cão, Diacho, Capeta, etc.), não existe. Quando a Bíblia se refere a satanás, quer dizer o mal e não alguém que pratique o mal.
    Alguns argumentam que o próprio Jesus foi tentado pelo Diabo. Para isso, citam Mateus e Lucas. Como veremos, a chamada tentação de Cristo não passa de uma parábola, pois é simplesmente inadmissível que Jesus tenha permitido a aproximação de um espírito das trevas para o tentar. Trataremos desse assunto oportunamente.
    Voltemos à cura de Bartimeu. Comentávamos a pergunta dos discípulos: quem havia pecado para que Bartimeu nascesse cego? Jesus não os repreendeu por manifestarem, dessa forma, sua crença na reencarnação. Respondeu-lhes da seguinte forma:
    - Nem ele nem seus pais pecaram. Mas foi para manifestarem nele as obras de Deus (Jo, 9,3).
    Pela resposta de Jesus, percebemos que a sua cegueira não foi uma punição. Ela aconteceu para que ele participasse da obra de Jesus. Qual foi o critério adotado para se escolher uma pessoa para nascer cega? Se o espírito fosse criado no momento da concepção, não haveria como fazer essa escolha, muito menos que o interessado dela participasse.
    Na realidade, foi o próprio Bartimeu quem concordou em nascer cego, para ser curado por Jesus. Chegamos a essa conclusão lendo o restante da narrativa de João. Ele era muito mais evoluído que seus pais. Enquanto estes se recusavam a admitir que Jesus curara seu filho (Jo, 9,21), Bartimeu enfrentou corajosamente os fariseus, a ponto de ser expulso da sinagoga (Jo, 9-34).
    Como se explica essa diferença de comportamento entre ele e seus pais, se não pela pré-existência da alma? Bartimeu era muito mais adiantado sob o ponto de vista espiritual e, certamente, não fora naquela vida que ele conseguira esse progresso, pois, até aquele momento, vivia pedindo esmolas e jamais havia enxergado. É mais uma prova de que Deus nos concede várias oportunidades para a nossa evolução.
    9) Parábolas de Jesus
    "Vai e faze tu o mesmo." (Lc, 10,37)
    9.1 Parábola do Filho Pródigo
    Uma das mais bonitas parábolas de Jesus é a do filho pródigo (Lc, 15, 11-32). Quem não se emociona ao ler sobre aquele rapaz que dilapidou a fortuna do pai e foi recebido por ele de braços abertos? O pai, que todos os dias saía de casa à espera do filho, que o trocara pelos prazeres do mundo, é a figura de Deus, sempre à nossa espera. Querer limitar a bondade de Deus ao período curto de uma existência (principalmente quando esse período não é igual para todos, pois uns vivem 5 anos, outros 60, outros morrem ao nascer) é duvidar da bondade desse Pai amoroso. Mais que isso, é duvidar de sua infinita justiça, pois ele não poderia esperar “de braços abertos” alguém por 80 anos, quando outro teria menos de 20 anos de existência. Pior ainda: é duvidar de sua presciência, pois Deus não faria uma criatura, sabendo que ela estaria fadada ao sofrimento eterno. Sem a infinita bondade, a infinita justiça e a presciência absoluta, Deus não seria Deus.
    Deus está sempre à espera do Filho e sempre o receberá de braços abertos. João diz, no primeiro capítulo de seu Evangelho, que Jesus:
    “... veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes a autoridade de se tornarem filhos de Deus.” (Jo, 1, 11-12)
    Portanto, no entender de João, todos nos tornamos filhos de Deus a partir do momento em que recebemos Jesus, ou seja, quando praticamos a doutrina que ele veio nos trazer. Uma pergunta precisa ser feita: E aqueles que nunca ouviram falar de Jesus, aqueles que nasceram numa província da China ou no deserto do Saara? Será que eles estão abandonados por Deus? Justiniano, um dos primeiros cristãos, interpreta os versículos citados da seguinte maneira:
    Todos os que hão vivido em conformidade com a razão e o Verbo, são cristãos, ainda que parecessem não estar ligados a nenhum culto. Tais foram, entre os gregos, Sócrates e Heráclito, e, entre os bárbaros, Abraão, Ananias, Azarias, Mizael, Elias e muitos outros, cujos nomes e ações, se fossem relembrados, formariam uma lista demasiado longa. Do mesmo modo, os que entre os antigos viveram antes de Jesus Cristo, e não se conduziram de conformidade com a razão e o Verbo, foram inimigos de Jesus Cristo e perseguiram os que viviam uma vida conforme a razão e o Verbo. Mas, os que viveram e ainda vivem agora segundo a razão e o Verbo são cristãos, estão isentos de todos os temores e nada os perturba.
    Na opinião de Justiniano, a condição de cristão e, portanto, de filho de Deus, não se obtém por qualquer ato exterior. Basta a renovação interior, conforme disse João Batista:
    - Eu, na verdade, batizo-vos em água para penitência, mas o que há de vir depois de mim é mais poderoso do que eu, e eu não sou digno de lhe levar as sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. (Mt, 3, 11)
    Portanto, conforme se depreende da parábola do filho pródigo, Deus está sempre à espera de seu filho, tenha ele sido ou não batizado em água. Conforme o pai amoroso da parábola, Deus nunca rejeita o pecador que queira se reabilitar e não limita sua capacidade de reabilitação à duração de uma única existência terrena.
    9.2 Parábola do juízo final
    Uma outra parábola de Jesus tem causado muita celeuma, pois muitos a tomam ao pé da letra. Trata-se da parábola do juízo final (Mt, 25, 31-46). Nessa parábola, Jesus diz que o Filho do Homem se sentará no trono da sua majestade (v. 31). Está aí uma clara alusão à expectativa dos judeus de um Messias guerreiro, que restabeleceria o reino de Israel. Ele diz que todos seriam convocados para uma seleção e ele os separaria como um pastor separa os cabritos das ovelhas, pondo aqueles à sua esquerda e estas à sua direita.
    Nessa parábola, o que chama mais a atenção é o critério adotado na seleção entre uns e outros. Irão para a direita os que forem caridosos, os que demonstrarem amor ao próximo. À sua esquerda estarão aqueles que forem duros com seus irmãos. Falando assim, Jesus indica que o caminho do progresso passa, necessariamente, pela caridade para com o próximo. Era essa a sua mensagem principal. Isso fica ainda mais claro na passagem seguinte:
    - De que aproveitará, meus irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Poderá a fé salvá-lo? Se o irmão ou irmã estiver nu e carente do alimento cotidiano e algum de vós lhe disser: “Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos”, mas não lhe derdes com que satisfazer à necessidade do corpo, que adiantaria (Tg, 2, 14-17)?
    Paulo concorda com Tiago ao comparar a fé com a caridade, que ele chama de amor:
    ... ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria (I Cor, 13,2).
    Jesus insiste, em outra parábola, que de nada valem práticas exteriores para se obter a “salvação”. Na parábola do fariseu e do publicano, o primeiro diz que jejuava duas vezes por semana e pagava o dízimo de tudo quanto possuía (Lc, 18,12). Jesus diz que não este, mas o publicano, que reconheceu suas culpas, saiu justificado. Portanto, o jejum e o pagamento do dízimo são práticas exteriores, que não logram melhorar o homem e que, portanto, não colaboram para o seu progresso.
    Voltemos à parábola do juízo final. Tentando levar ao pé da letra o que é uma simples parábola, muitos têm dito que, quando Jesus fala em todas as gentes congregadas diante dele (Mt, 25,42), refere-se a vivos e mortos, ou a encarnados e desencarnados. Seria, portanto, um grande tribunal, em que a sorte de cada um seria dada sem apelação. Reforçam a sua teoria com as palavras do versículo 46:
    Esses (os que foram duros com seu próximo) irão para o suplício eterno, os justos para a vida eterna.
    A dúvida principal está com relação à palavra eterno, que não tinha a conotação que hoje lhe damos. De fato, seria exigir muito de um povo simples, como eram os judeus, que só pensavam no tempo presente, que compreendessem uma palavra que se refere a algo que não termina. Para eles, eterno tinha o significado de uma coisa que dura muito.
    O pensamento de Jesus fica mais claro numa outra parábola, quando diz:
    - Entra logo em acordo com teu adversário enquanto vais com ele a caminho do foro, para não suceder que ele te entregue ao juiz, e o juiz ao oficial de justiça e sejas posto na cadeia. Pois em verdade te digo: dali não sairás até teres pago o último centavo (Mt, 5, 25-26).
    Por essa passagem, vê-se, claramente, que não há uma pena eterna. Aquele que não entrar em acordo com seu adversário (isto é, maltratar o seu próximo) a caminho do foro (isto é, enquanto estiver encarnado), será posto na cadeia (isto é, expiará suas faltas). Há, no entanto, uma esperança: sairemos da “cadeia” assim que pagarmos o último centavo.
    Essa parábola destrói completamente a teoria da eternidade das penas. É tão claro o ensino de Jesus, que a Igreja Católica viu nele uma forma de destino diferente do céu e do inferno. Foi esse o principal versículo que gerou a interpretação do purgatório. Posteriormente, a teoria do purgatório se constituiu em uma grande fonte de lucro, pois se passou a vender “indulgências”, que seriam uma espécie de abatimento do período em que deveríamos ficar no purgatório. A venda de “indulgências” foi a principal razão da reforma de Lutero, de forma que os protestantes e os evangélicos não aceitam a existência do purgatório. Entretanto, não deveriam aceitar também o inferno, pois sua existência está formalmente desmentida por essa última citação.
    A parábola do juízo final causou muita polêmica entre os primeiros cristãos, que a interpretaram ao pé da letra. Como dissemos, havia e ainda há o pensamento de que ocorrerá uma ressurreição em massa e de que Jesus é o "rei" que "julgará" a todos: vivos e mortos. A crença nessa ressurreição em massa é antiga e João a descreve nas palavras de Jesus a Marta, irmã de Lázaro, dizendo-lhe que seu irmão ressuscitaria. Marta lhe respondeu:
    - Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia. (Jo, 11,25)
    Essa crença não deveria mais acontecer. De fato, quando um corpo se decompõe, seus elementos são absorvidos por bactérias e podem entrar na formação de uma planta ou de um corpo de homem ou de animal. Portanto, quando uma pessoa ingere vegetais ou carne de animais, pode estar ingerindo elementos que pertenceram aos corpos de outras pessoas. Pergunta-se como poderíamos ressuscitar em nossos próprios corpos, se os seus elementos constituintes já se dispersaram e podem ter pertencido aos corpos de várias outras pessoas?
    Além disso, haveria uma grande dificuldade: como os mortos ressuscitados poderiam ir para o reino de Deus carregando seus corpos de carne? Teriam que morrer novamente?
    Paulo desfaz essa dúvida, dizendo:
    E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo... (Hb, 9,27)
    Portanto, o “juízo” não é coletivo, mas individual, e não ocorrerá no “fim do mundo”, mas sim após a morte do corpo.
    Muitos procuraram ver nessa passagem uma condenação à reencarnação, mas Paulo estava apenas desfazendo a confusão criada pela interpretação literal das palavras de Jesus. Em carta aos coríntios, Paulo deixa bem clara sua posição contrária a alguém ir para o plano espiritual em corpo de carne:
    Digo-lhes, irmãos, a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade (I Cor, 15,50).
    Ao dizer que a corrupção (o corpo mortal) não pode herdar a incorruptibilidade (o plano espiritual), Paulo desfaz qualquer dúvida com relação a uma ressurreição do corpo de carne como premissa para se deixar a Terra. Cuidaremos desse assunto oportunamente.
    Voltemos à parábola em que muitos enxergam o fim do mundo. Verificamos que Jesus fala numa separação entre ovelhas e cabritos, muito semelhante à do joio e do trigo (Mt, 13, 24-30).
    Para entendermos essas duas parábolas, é preciso termos olhos de ver. Como dissemos, Adão e Eva representam espíritos que deixaram um planeta mais adiantado e vieram habitar a Terra. A lei de evolução é uma constante na obra de Deus. Os habitantes da Terra também vão evoluir e haverá um momento em que muitos de nós serão relegados a planetas inferiores. Aí está a síntese do pensamento de Jesus na parábola da separação das ovelhas e dos cabritos e do joio e do trigo, a qual pode ser confirmada pelo sermão do monte:
    - Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. (Mt, 5,4)
    Mesmo com as sucessivas encarnações, haverá aqueles recalcitrantes no erro. Quando esses indivíduos estiverem comprometendo o progresso de seus irmãos, eles serão relegados a mundos inferiores, operando-se a separação gradual do joio e do trigo.
    Antes, porém, que seja permitido aos que serão exilados da Terra reencarnarem em planetas menos adiantados, eles serão lançados na fornalha do fogo, onde haverá prantos e ranger de dentes. (Mt, 13,42) Os culpados, rebeldes, voluntariamente cegos, serão lançados ao fogo dos remorsos morais apropriados e proporcionados às faltas que hajam cometido, propiciando-lhes a oportunidade do arrependimento e do desejo de reparação das faltas.
    Percebe-se, assim, que, até na maneira de punir, Deus manifesta sua bondade. Pela teoria da vida única, em que o destino do homem fica irremediavelmente definido após sua morte, Deus fica sem oportunidade de exercer a sua bondade para retirar o filho faltoso da lama do erro, dando-lhe nova oportunidade de se redimir. Isso fica ainda mais claro nas palavras de Jesus:
    Qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, dar-lhe-á uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, dar-lhe-á uma serpente? (Mt, 7, 9-10)
    Aqui, Jesus compara Deus a um pai carnal. O pai carnal, em geral, tem pelo filho uma ternura muito grande. Como poderíamos imaginar que Deus pudesse ter menor amor por suas criaturas que um pai tem por seus filhos? É para isso que Jesus chama a atenção. Deus não pode condenar eternamente uma de suas criaturas, pois isso seria demonstração de falta de amor por ela.
    Alguns estudiosos da Bíblia enxergaram no termo criaturas a chave para a solução do problema. Deus não poderia mandar ao inferno um filho, mas poderia condenar uma criatura. Haveria, portanto, distinção entre nós: uns seriam filhos, outros, apenas criaturas. Para esses últimos, não haveria compaixão.
    É evidente que tal tese não tem nenhuma razão de ser e foi inventada apenas para tentar justificar a existência do inferno. Jesus destrói completamente essa tese com a frase que completa o pensamento anterior:
    Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem? (Mt, 7, 11)
    Jesus fala em vosso Pai. Se alguns dos ouvintes não passassem de meras criaturas, ele não poderia usar o termo vosso, já que Deus não seria Pai de todos, mas apenas pai de alguns.
    Para aqueles que continuam achando que existirá realmente um tribunal para o “juízo final”, lembramos que Mateus diz que “o rei dirá aos que estão à direita... (Mt, 25,34)
    Sempre que Jesus se referia a "rei", estava falando de forma figurada. Quando o condenaram sob a alegação de que ele se fizera passar por rei dos judeus, foi porque não entenderam o sentido metafórico de suas palavras.
    9.3 – Parábola do Membro Arrancado
    Há outra parábola que suscitou inúmeros debates na tentativa de interpretá-la ao pé da letra. Essa parábola tem apenas dois versículos:
    Se o olho direito leva você a pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor perder um membro, do que o seu corpo todo ser jogado no inferno. Se a mão direita leva você a pecar, corte-a e jogue-a fora! É melhor perder um membro do que o seu corpo todo ir para o inferno (Mt, 5, 29-30).
    A primeira tentativa de interpretação dessa parábola foi ao pé da letra. Se algum membro de seu corpo estivesse levando você a pecar, seria melhor cortá-lo e lançá-lo fora. Mais de um padre na Idade Média cortou seus órgãos genitais por não conseguir manter a castidade.
    É evidente que Jesus não queria colocar na carne uma culpa que é toda do espírito. O corpo morto não passa de um cadáver e, quando vivo, é mera vestimenta da alma. Querer culpá-lo por nossos erros é o mesmo que um assassino colocar a culpa do crime no revólver que usou para matar.
    Que quis Jesus dizer com arranque-o e jogue-o fora? Para entendermos melhor o pensamento de Jesus, não podemos dissociar essa parte da frase seguinte: É melhor perder um membro, do que o seu corpo todo ser jogado no inferno. Mas que inferno é este que abriga o corpo físico ou parte dele?
    A palavra inferno não tinha a conotação que tem hoje. João de Freitas (www.joaodefreitas.hpg.ig.com.br/babel.htm) lembra que inferno é tradução do hebraico sheol, que quer dizer morte. É nesse sentido que o salmista usou para prever a ressurreição de Cristo:
    Não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que teu Santo veja corrupção. (Sl, 15,10).
    A Igreja Católica usava a palavra inferno em seu credo, anteriormente ao Concílio Vaticano II:
    “... Creio em Jesus Cristo, um só seu Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu aos infernos...”
    É evidente que, se os infernos fossem um lugar criado por Deus para torturar eternamente os que tivessem a desventura de morrer em pecado, como ainda hoje pregam as Igrejas Católica, Protestantes e Evangélicas, a descida de Jesus a esse local não teria razão de ser. Jesus não teria nada a fazer lá se os que lá estivessem dali não pudessem sair.
    Na realidade, Jesus precisava visitar o que chamamos de infernos. Um de seus companheiros de vida pública, Judas Iscariotes, estava sofrendo pelo seu ato insensato. Jesus não abandonaria o companheiro e foi visitá-lo para pedir que ele próprio se perdoasse, pois Jesus já o havia perdoado. O perdão de Jesus aos responsáveis por sua condenação está presente na narração de Lucas:
    - Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que estão fazendo. (Lc, 23,34)
    Quanto a Judas, não podemos nos olvidar de que Jesus havia-lhe dito que ele teria um lugar de destaque em sua glória:
    - Em verdade vos digo a vós que me seguistes, que na regeneração, quando o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, sentar-vos-eis também vós sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. (Mt, 19,28)
    As palavras de Jesus foram ditas de forma emblemática, mas o número doze, dito duas vezes, relaciona-se aos doze que ele havia escolhido para segui-lo. Judas, portanto, não está excluído. Se fosse condenado a um inferno eterno, não haveria como Jesus cumprir sua promessa.
    Voltemos à parábola. Devemos entender o pensamento de Jesus de forma mais ampla. Ele não estava mandando ninguém violentar seu próprio corpo. Se o recebemos de Deus, é para cuidarmos dele enquanto vivermos. Portanto, esse corte da mão ou do olho se refere ao que acontece conosco antes de nossa encarnação. Chico Xavier conta um caso que ilustra bem essa situação. Certa vez, chegou-se a ele uma mãe com um filho cego e sem os dois braços. Além disso, estava com uma infecção em uma das pernas e o médico já havia dito a essa mãe que a solução seria a amputação. Ela procurou Chico aos prantos, perguntando onde estaria a justiça de Deus, que fazia seu filho sofrer tanto, enquanto outras crianças eram saudáveis.
    Chico Xavier ouviu de Emanuel, seu mentor espiritual, a explicação para o caso. Aquela criança era um suicida de várias encarnações. No plano espiritual, o suicídio é o que se pode considerar um crime hediondo. O suicida violenta não apenas seu corpo físico, mas provoca um atraso significativo em sua evolução espiritual.
    Aquele espírito, suicida renitente, pediu para nascer sem condições de suicidar-se novamente. Deus concedeu-lhe a graça de nascer cego e sem os braços. Ele, no entanto, já estava imaginando como se jogar de um precipício próximo a sua casa. Certamente o teria feito se sua perna não apresentasse a infecção que levou à sua amputação.
    Foi a casos como esse que Jesus se referiu. É melhor entrarmos na vida com um membro ao invés de, com o corpo completo, sermos conduzidos ao inferno de nossos remorsos.
    Essa parábola alerta, também, aqueles que julgam a eutanásia como uma forma de caridade. Penetrando na vida ou ficando, durante ela, sem um braço, uma perna, cego, paralítico etc.,
    9.4 – Parábola da Tentação de Cristo
    Há uma outra parábola que causa muita confusão. É a da tentação de Cristo. Muitos a tomam ao pé da letra e dizem que Jesus ficou à mercê de um espírito maligno, que o fez subir ao pináculo do templo e que lhe ofereceu os reinos do mundo se ele o adorasse. Será isso verdade? A parábola começa da seguinte maneira:
    Então o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo (Mt, 4,1).
    É algo absolutamente inacreditável que Jesus pudesse ser conduzido por alguém para ser tentado. Quem seria esse Espírito interessado em colocar Jesus à prova e que teve poder sobre ele?
    A narração continua:
    O tentador se aproximou e disse a Jesus: "Se tu és Filho de Deus, manda que essas pedras se tornem pães!"(Mt, 4,3)
    É incrível que o tentador soubesse que Jesus tinha poder para transformar pedras em pães e quisesse pô-lo à prova. E se Jesus tivesse concordado em fazer a transformação, qual seria o problema? Apenas provaria que ele tinha poder sobre a matéria.
    Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o na parte mais alta do Templo (Mt, 4,5).
    Se tivéssemos alguma dúvida de que a narração de Mateus seja apenas uma parábola, esse versículo tiraria toda a dúvida. É inadmissível que Jesus tenha se recusado a transformar pedras em pães, mas tenha aceitado a companhia do "diabo" para ir à parte mais alta do templo (talvez o telhado). Como o diabo não estaria visível a não ser para Jesus, muitos teriam visto o Mestre na parte mais alta do templo, falando sozinho. Todos o achariam louco! O versículo seguinte tira a dúvida do mais cético:
    E lhe disse: "Se tu és Filho de Deus, joga-te para baixo! Porque a Escritura diz: 'Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra.' " (Mt, 4,6)
    O “diabo” estaria querendo tapear Jesus e induzi-lo ao suicídio. É curioso que Jesus tivesse ido na conversa dele e o acompanhado até a parte mais alta do templo, sem saber qual seria a proposta que ele lhe faria.
    O lance seguinte é ainda mais inverossímil:
    Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares (Mt, 4, 8-9).
    Qual seria o monte para o qual o "diabo" teria levado Jesus? Se tivessem ido ao Monte Everest, o mais alto do planeta, não conseguiriam ver reino algum. Mas, independente disso, é inadmissível que Jesus tenha se submetido ao “diabo” e sido conduzido por ele tanto à parte mais alta do templo quanto a uma montanha elevada. Isso contradiz o que ele próprio disse:
    Todo o poder me foi dado no céu e na terra (Mt, 28,18).
    A parábola se fecha com Jesus ordenando ao "diabo" que vá embora, de forma idêntica à que usou com Pedro (Mt, 16,23):
    Vá embora, Satanás, porque a Escritura diz: “Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele servirás." (Mt, 4,10)
    Tanto nessa passagem como em Mt, 16,23, satanás é usado para indicar o mal e não uma entidade específica. O próprio Pedro usou esse termo com Ananias (At, 5,3), como veremos em outro item.
    Há outras passagens na Bíblia que parecem justificar a existência de Satanás. Uma delas está em Isaías:
    Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. (Is, 14, 12-14)
    Seria Satanás a estrela da manhã? Se lermos atentamente o texto, vamos verificar que a linguagem é totalmente figurativa. "Céu", nesse caso, tem o sentido de "o que é muito alto". Vem, em seguida, a queda, também figurada. O sentido se presta mais a alguém que teve grande poder, certamente um rei, sendo, depois, "lançado por terra", isto é, destronado. O rei "debilitava as nações", isto é, conquistava-as pela força.
    Os estudiosos entendem que Isaías se referia ao rei da Babilônia, o que pode ser verificado pela leitura de todo o capítulo 14.
    Em uma outra passagem do Antigo Testamento, temos a citação expressa de Satanás:
    "Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor." (Zac, 3,1)
    Nesse caso, a palavra Satanás é uma transliteração do hebraico satan, que significa um acusador no sentido legal, um queixoso que tem uma acusação a apresentar. Em outras palavras, segundo a visão de Zacarias, Josué tinha um espírito bondoso ("um anjo do Senhor"), mas, também, um espírito que lhe ajudava nas acusações. Não se pode depreender desse texto que Zacarias viu Josué sendo tentado pelo espírito a que se chama Satanás.
    Em Ezequiel, encontramos o seguinte texto:
    "Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do monte de Deus, e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras." (Ez, 28,12-16)
    Quem foi esse querubim que se vestia de pedras preciosas e que foi lançado fora do monte de Deus?
    Satanás não pode ser. De fato, lemos em Gênesis que Adão e Eva foram tentados no Éden por uma serpente que muitos interpretam como sendo Satanás. Ora, se Satanás estava tentando Adão e Eva e se interpretarmos ao pé da letra o que está em Gênesis, concluiremos que Satanás já tinha sido "expulso do Paraíso".
    No texto de Ezequiel, há a citação do Éden, mas o querubim que alguns querem relacionar com Satanás estava no Jardim do Éden coberto de pedras preciosas e permanecia no "monte santo de Deus".
    Na realidade, o texto não fala sobre Satanás, mas sim sobre o rei de Tiro. Ezequiel profetizou sua queda, o que, de fato, aconteceu.
    Finalmente, temos um caso, segundo o qual, o próprio Cristo teria dito que viu Satanás cair do céu. Vejamos o texto:
    "Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago." (Lc, 10,18)
    Para estudarmos esse texto, devemos começar por sua análise gramatical. O verbo empregado está no pretérito imperfeito, indicando uma ação que ainda não terminou. Caso Jesus estivesse se referindo a um fato acontecido teria dito "eu vi Satanás caindo do céu" e não "eu via".
    O tempo verbal nos remete à situação em que isso foi dito.
    Jesus havia enviado setenta discípulos às cidades onde ele havia de ir (Lc, 10,1). Quando os discípulos voltaram e deram conta de sua missão, dizendo que até os demônios se lhes submetiam (Lc, 10, 17), Jesus disse que via Satanás como um relâmpago cair do céu.
    Analisando a frase de Jesus dentro do contexto, concluímos que ele estava usando o termo Satanás não como um espírito que caía do céu, mas como o mal que era substituído pelo bem que os setenta discípulos haviam feito. Não há como inferir dessas palavras de Jesus qualquer ligação com a lenda de Lúcifer.
    Voltemos à parábola da tentação de Cristo. O tentador, representado pelo "diabo", simboliza as nossas próprias imperfeições. São os nossos sentimentos de gula, a nossa sede de poder, o nosso exibicionismo. Quanto à adoração ao "diabo" em troca dos reinos do mundo, isso significa que, muitas vezes, trocamos a nossa honra, a nossa dignidade, os nossos sentimentos mais nobres pelo dinheiro e pelo poder. Aliás, Jesus falou outras vezes contra a cobiça das coisas materiais, dizendo ser impossível servir a dois senhores, a Deus e às riquezas (Lc, 16,13).
    9.5 – Parábola dos Dois Filhos
    Disse Jesus:
    Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha.
    Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi.
    E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. (Mt, 21, 28-30)
    Após contar essa parábola, Jesus perguntou aos fariseus:
    Qual dos dois fez a vontade do pai? (Mt, 21, 31)
    Os fariseus responderam que foi o primeiro. Então, Jesus lhes disse:
    - Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entrarão adiante de vós no reino de Deus. (Mt, 21,31)
    Essa resposta de Jesus tem uma conseqüência lógica: não há como imaginar que, após a morte, a sorte da pessoa esteja irremediavelmente definida.
    Pela teoria simplista do céu e do inferno, se A morre dez minutos antes de B, A vai para o céu ou para o inferno dez minutos antes de B.
    Jesus disse que os publicanos e as prostitutas entrarão no reino de Deus antes dos fariseus. De duas, uma: ou Jesus não estava se referindo ao céu ou a sorte da pessoa não fica irremediavelmente definida após sua morte.
    De fato, pela teoria simplista do céu e do inferno, se um fariseu morrer antes de um publicano, ele vai para o céu ou para o inferno antes deste. Ora, Jesus usou os termos prostituta e publicano porque eram profissões de pessoas tidas como pecadoras e que, conseqüentemente, não deveriam ir para o céu. Mas elas vão para o reino de Deus primeiro que os fariseus...
    O pensamento de Jesus era exatamente esse: os pecados que publicanos e prostitutas cometiam eram muito menores que o pecado de orgulho dos fariseus e, por isso mesmo, era muito mais fácil de aqueles se converterem antes destes. O orgulho e o egoísmo são as duas maiores chagas da humanidade e são os defeitos mais difíceis de se extirpar.
    As prostitutas e os publicanos não levariam muitas encarnações para se redimirem. Há o caso de Maria Madalena, Mateus, Zaqueu e outros que se redimiram ainda naquela encarnação. Quanto aos fariseus, os Evangelhos registram muito poucos casos de mudança de atitude frente ao orgulho ainda naquela encarnação. Eles eram como o filho mais novo da parábola, que disse que iria para a vinha, mas não foi.
    Jesus trata novamente da questão do orgulho, e o faz de forma bastante veemente, na parábola do fariseu e do publicano (Lc, 18, 1-14), já citada. Nessa parábola, o fariseu, que jejuava, pagava dízimo, etc. não saiu do templo em paz com sua consciência por causa de seu orgulho. O publicano, pelo contrário, que reconheceu humildemente sua condição de pecador e pediu perdão por isso (evidentemente, fazendo o propósito de se regenerar), saiu do templo em paz com sua consciência.
    10) Caso de Reencarnação na Bíblia
    "Ele mesmo é o Elias que há de vir." (Mt 11, 15)
    Até agora falamos na reencarnação sob o ponto de vista teórico. Existirá, no entanto, algum exemplo inequívoco de reencarnação na Bíblia?
    Existem revelações que atestam reencarnações de personagens bíblicos. Temos o caso de Abraão, que se reencarnou como Pedro. Jacó, por sua vez, se reencarnou como Daniel e como João Evangelista e, mais tarde, como Francisco de Assis. Há, também, deduções. Por exemplo, Judas Iscariotes traiu e vendeu Jesus por trinta moedas. Em conseqüência desse ato, Jesus foi preso e condenado à morte pelas autoridades civis e religiosas. Para que Judas se redimisse, seria preciso que passasse por situação semelhante. Joana d’Arc foi traída e vendida, presa e condenada à morte pelas autoridades civis e religiosas de sua época e morreu, não na cruz, que já não era usada, mas na fogueira. É possível que Judas e Joana d'Arc sejam a mesma entidade.
    Nada disso, no entanto, podemos concluir da letra da própria Bíblia. Apenas um caso é inequívoco: João Batista era Elias reencarnado. Disso não temos a menor dúvida, pois foi Jesus quem disse:
    - Ora, desde o tempo de João Batista até o presente, o reino dos céus é tomado pela violência e são os violentos que o arrebatam; pois que assim o profetizaram todos os profetas até João, e também a lei. Se quiserdes compreender o que vos digo, ele mesmo é o Elias que há de vir. (Mt 11, 12-15)
    É fora de questão que Jesus se refere à reencarnação de Elias como João Batista. O único argumento contrário se refere ao tempo do verbo usado por Jesus. Ele é o Elias que há de vir. O tempo correto seria que haveria de vir. Devemos convir, no entanto, que o hebraico antigo era uma língua pobre e que não tinha o futuro do pretérito.
    A reencarnação de Elias como João Batista fica ainda mais patente quando Jesus conclui seu pensamento com a seguinte frase:
    - Ouça-o aquele que tiver ouvidos de ouvir. (Mt, 11,15)
    Todas as vezes que Jesus pronunciava essa frase, significava que algo precisava ser entendido além do que ele havia dito.
    Em outra oportunidade, Jesus falaria novamente que João era Elias reencarnado. Foi no episódio do Tabor. Jesus tomou consigo os três apóstolos que estariam aptos a ver o grande acontecimento que se revelaria naquele monte. Lá, ele se transfigurou e recebeu a visita de espíritos desencarnados. Tratava-se de um acontecimento invulgar, que marcaria a sua passagem pelo planeta.
    Ao lermos o texto de Mateus, (17, 1-13) percebemos que ele não encontrava palavras para contar o que se passou com Jesus:
    Seu rosto ficou refulgente como o sol e as suas vestimentas tornaram-se luminosas de brancas que estavam. Então lhe apareceram Moisés e Elias. (v. 2-3)
    Mateus relata um fato que nos mostra que a materialização dos dois foi completa. Diz que Pedro se ofereceu para fazer três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias, mas, enquanto falava, uma nuvem envolveu os dois espíritos e os discípulos não mais os puderam ver.
    Na descida do monte, os discípulos manifestaram sua surpresa por terem visto Elias desencarnado, quando ele deveria estar encarnado, anunciando a vinda de Jesus. Um deles lhe perguntou:
    - Por que dizem, pois, os escribas que Elias deve vir primeiro? (v. 10)
    A pergunta dos discípulos tinha razão de ser. Malaquias havia previsto que um anjo seria enviado para preparar o caminho de Jesus:
    Eis que mando eu o meu anjo, o qual preparará o caminho diante da minha face. (Ml, 3,1)
    Anjo, nesse caso, está em seu sentido original, ou seja, de mensageiro. Mas quem seria esse mensageiro que o Senhor enviaria para preparar seu caminho? A resposta é dada pelo próprio profeta Malaquias:
    Eis que vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o dia grande e horrível do Senhor. Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais; para não suceder que eu venha e fira a terra com anátema (Ml, 4, 5-6).
    Voltemos ao episódio do Monte Tabor. À pergunta dos discípulos de que Elias deveria vir primeiro, Jesus respondeu:
    - Elias certamente há de vir e restabelecerá todas as coisas. Digo-vos, porém, que Elias já veio e não o reconheceram, antes fizeram dele o que quiseram (Mt, 17, 11-12).
    Mateus conclui a sua narrativa dizendo:
    Então os discípulos compreenderam que lhes tinha falado de João Batista (v. 13).
    Não há, portanto, a menor dúvida a esse respeito porque foi Jesus quem disse, em ambos os casos, que João Batista era o mesmo Elias (Mt, 11,15; 17, 11-12). Mediante todas essas provas, não há como duvidar: João e Elias são a mesma entidade. Allan Kardec, judiciosamente, diz o seguinte a esse respeito:
    “Aqui não há equívoco; os termos são claros e categóricos, e para não entender é preciso não ter ouvidos, ou querer fechá-los. Sendo estas palavras uma afirmação positiva, de duas uma: Jesus disse a verdade, ou enganou-se. Na primeira hipótese, a reencarnação é por ele atestada; na segunda, a dúvida é lançada sobre todos os seus ensinos, pois se se enganou num ponto, pode ter-se enganado sobre os outros.”
    Sabia João que era Elias reencarnado? Não, porque não é comum alguém saber o que foi em uma encarnação anterior. Isso está presente em (Jo 1, 21), na pergunta que os fariseus lhe fizeram e em sua resposta:
    - És tu Elias? Ele respondeu: - Não sou.
    Finalmente, podemos perceber que há um outro fato que nos aponta na identidade de João Batista como Elias. No 1° Livro dos Reis (18, 21-40), é relatado um episódio em que há uma disputa entre Elias e os sacerdotes de Baal, vencida pelo primeiro. Elias, então, mandou cortar a cabeça a todos seus adversários, que o texto diz terem sido 450 (v. 22). Mais tarde, João Batista teve sua cabeça cortada (Mt, 14, 1-12), cumprindo-se o que Jesus diria a Pedro:
    - Todos os que tomarem a espada, morrerão à espada (Mt, 26,52).
    Se, nesse caso, houve a reencarnação, conforme confirmado por Jesus, por que seria uma exceção e não uma regra?
    11) Ananias e Safira
    "Houve um grande temor em toda a igreja." (Atos 5,11)
    Os argumentos anteriores são bem conhecidos. Quase todos foram retirados do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo e, para muitos deles, existem tentativas de contestação, também muito conhecidas. Entretanto, há uma passagem da Bíblia que chama a atenção porque se percebe, nas entrelinhas, a questão da reencarnação. É a história de Ananias e Safira, relatada em At, 5, 1-11.
    Conta Lucas que os primeiros cristãos que possuíam casas ou campos vendiam-nos e levavam o dinheiro para os apóstolos, que os distribuíam a cada um, conforme sua necessidade.
    Um dos cristãos, chamado Ananias, vendeu um campo e deve ter recebido por ele mais do que esperava, porque procurou sua esposa e combinou com ela guardar parte do dinheiro da venda. Em seguida, procurou Pedro e lhe deu a parte restante.
    Sabemos, perfeitamente, que Pedro tinha um alto grau de mediunidade. Todas as vezes que havia fenômenos mediúnicos durante a estada de Jesus na Terra, como na transfiguração, (Mt, 17, 1-8) na ressurreição da filha de Jairo, (Lc, 8,51) na agonia no Getsâmani, (Mc, 14,33) lá estava Pedro. Lucas relata que Pedro tinha visões (At, 10, 9-20), falava línguas (At, 2, 9-11) e acreditava-se que curava até mesmo com sua sombra (At, 5,13-14). Por isso, não lhe foi difícil perceber que Ananias não lhe entregava o dinheiro integral e chamou-lhe a atenção por isso:
    - Ananias, como é que satanás se apossou de teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do dinheiro do campo? (At, 5,3)
    Nesse contesto, a palavra satanás significa o sentimento de cobiça.
    Disse-lhe, ainda, que ele poderia ficar até com todo o dinheiro, deixando claro que a reprimenda era apenas pela mentira. Logo em seguida, Ananias sucumbiu. As pessoas que estavam por perto pegaram seu corpo e o enterraram.
    Passadas menos de três horas, Safira, sua viúva, chegou à casa onde residiam os apóstolos e Pedro lhe perguntou por quanto fora vendido o campo. Como ela também mentisse, ele lhe contou que seu marido morrera e estava sepultado e que o mesmo lhe sucederia. Ela caiu morta.
    Causa espanto à primeira vista uma história dessas. Os exegetas se surpreendem que um relato desses seja descrito exatamente por Lucas, cujo evangelho prega o amor incondicional de Deus às criaturas.
    Observe-se que Pedro repreendeu Ananias por ter mentido e ele, em seguida, morreu. Sua morte não comoveu Pedro nem um pouco, tanto que procurou Safira e, como ela também mentisse, anunciou que ela também morreria. Lucas fala que houve "temor em toda a Igreja"(At, 5, 11). Certamente, surgiram comentários desse tipo: - Os discípulos de Jesus matam os outros por causa de dinheiro!...
    Se analisarmos a questão sob o ponto de vista da vida única, Pedro teria cometido uma grande falta. Ananias havia mentido e, portanto, havia pecado. Percebendo que ele morreria por causa disso e não fazendo nada para evitá-lo, Pedro teria permitido que ele morresse em pecado. Caso Pedro pensasse que temos apenas uma vida e que, após a morte, nosso destino ficasse irremediavelmente definido para toda a eternidade, tal ato seria de uma total irresponsabilidade.
    A irresponsabilidade seria ainda maior se recordarmos que o próprio Pedro havia mentido, dizendo que não conhecia Jesus (Mc, 14, 66-72). Jesus por acaso provocou sua morte? Pelo contrário, perdoou-o e mandou-o apascentar suas ovelhas. (Jo, 21,15-17) Será que Pedro estava cumprindo o que Jesus lhe mandou fazer?
    Se sob a ótica da vida única não há explicação razoável para a atitude de Simão Pedro, o caso muda de figura quando o olhamos sob a ótica das vidas múltiplas.
    Pedro sabia, porque Jesus havia dito, que os cristãos enfrentariam muitas perseguições. (Mt, 13, 20-21) O grupo dos primeiros cristãos deveria ser composto de homens e mulheres dispostos a enfrentar o perigo e a dar a vida por Cristo. Será que Ananias e Safira, ainda apegados aos bens materiais, estariam dispostos a morrer pela causa do Evangelho? Não terá sido muito melhor para eles morrerem naquele momento, evitando uma deserção no futuro, como aconteceu com muitos? Pedro sabia que temos muitas vidas e, por isso, não fez nada para impedir a morte de ambos. Eles, certamente, vieram a ser úteis à causa do Evangelho em outra oportunidade, já depurados do apego demasiado aos bens terrenos.
    Esse episódio traz implícita a teoria das vidas múltiplas. No entanto, para isso é preciso termos olhos de ver, como disse Jesus.
    12) Contestação
    "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo." (Heb, 9, 27)
    Sempre que se procura dizer que a Bíblia é contra a reencarnação, cita-se a passagem acima, que pertence à Epístola de Paulo aos hebreus. Seria essa a demonstração de que não há reencarnação sob o ponto de vista bíblico?
    Primeiramente, devemos analisar que Jesus jamais combateu a reencarnação. Nunca falou contra ela e nem repreendeu seus discípulos quando estes falavam algo a respeito dela, como no episódio do cego de nascença, (Jo, 4) em que os discípulos perguntaram se o deficiente havia pecado anteriormente para nascer assim. Seria, portanto, incoerente que um dos apóstolos de Jesus pregasse algo que não está em sua doutrina. Mas não há nenhuma incoerência. Paulo não quis se referir à reencarnação.
    Lembremo-nos que, na parábola do juízo final (Mt, 25, 31-46), Jesus fala em um grande tribunal. Interpretando essa parábola ao pé da letra, muita gente entendeu que haveria uma ressurreição em massa e que Jesus julgaria a todos, vivos e mortos. A parábola não diz isso, trata-se de uma mera interpretação da mesma, mas isso causou grande polêmica entre os primeiros cristãos. Um dos questionamentos era o seguinte: se todos vão ressuscitar para serem julgados, como vão voltar para o céu ou para o inferno com seus corpos de carne? Surgiu, então, a idéia de que haveria uma segunda morte para que cada um pudesse seguir seu destino.
    Paulo, sempre atento às questões que surgiam nas igrejas, enviou carta aos hebreus e, entre outros assuntos, tratou da questão do juízo. Não querendo polemizar mais sobre algo que já estava causando tanta polêmica, ele chamou a atenção para o fato de que o juízo era individual e não coletivo. É por isso que ele fala sobre morrer apenas uma vez (e não duas vezes, se fosse ocorrer o juízo final).
    Devemos ter muito cuidado em aplicar a palavra juízo com relação ao que ocorre após a morte do indivíduo. Na realidade, o "tribunal" que nos julga é o mais implacável de todos, contra o qual não adiantam argumentos: o “tribunal” da nossa consciência.
    Alguns tentaram compatibilizar o texto literal da parábola do juízo final e a epístola de Paulo, dizendo que haveria dois juízos: um, particular, e outro, geral, sendo que, após esse último, as pessoas não precisarão morrer novamente, pois seus corpos serão transformados e, assim, poderão seguir com eles de volta para o céu ou para o inferno. Nesse caso, o juízo final não teria propriamente o caráter de um julgamento, a não ser para aqueles que ainda estivessem vivos, pois os demais já haviam tido conhecimento de seus destinos no juízo particular.
    Se isso fosse realmente acontecer, pergunta-se porque Jesus retiraria os “condenados” do inferno para fazê-los passar por um vexame e depois mandá-los de volta para um castigo eterno, sem que isso tivesse qualquer utilidade para eles. Pensar que Jesus seria capaz de uma maldade dessas é se esquecer de que ele veio nos trazer a lei de amor e que nos mandou não apenas perdoar, mas amar os próprios inimigos.
    13) Conclusão
    "A tese da reencarnação passou da esfera religiosa e filosófica para a área da pesquisa científica." (Carlos Antônio Fragoso Guimarães)
    Reproduzo, a título de conclusão, as declarações de um psicólogo a Richard Simonetti, que foram publicadas em O Reformador de março de 2002:
    - Já não tenho dúvidas sobre a Reencarnação. Eu a vejo, clara, inconfundível, nas reminiscências induzidas, em que meus pacientes descobrem, surpresos, acontecimentos de ontem que repercutem hoje em seu psiquismo. E superam muitos problemas a partir dessas experiências, particularmente aqueles decorrentes de acontecimentos traumáticos de vidas anteriores. Passam a lidar melhor com fobias e desajustes diretamente relacionados com eles.”
    O texto de Simonetti mostra que já se está provando cientificamente a reencarnação. Vejamos agora o texto de Carlos Antônio Fragoso Guimarães:
    Hoje em dia, como vimos, a tese da reencarnação passou da esfera religiosa e filosófica para a área da pesquisa científica. Devemos ficar, pois, atentos ao progresso desta pesquisa, com as conseqüências sem dúvida de grande gravidade que elas poderão trazer à nossa visão de mundo e, conseqüentemente, à forma de como nos comportamos em relação a nós mesmos e a nossos semelhantes. E, como nos falam os Doutores James Fadiman e Robert Frager, "se há a possibilidade de aceitar o fenômeno, então a possível origem da personalidade e das características físicas pode incluir eventos ou experiências de encarnações anteriores. Tudo o que se pode afirmativamente dizer é que existe uma evidência fatual que não pode ser facilmente descartada" (Fadiman & Frager, 1986, p. 176).
    Para encerrar, um caso de reencarnação ocorrido na Inglaterra, que encontrei na Internet, no site www.fenomeno.trix.net/fenomeno_fenomenos_1_ar-reenc.htm.
    O doutor Joe Keeton era um médico que trabalhava com regressões através da hipnose. Certa vez, recebeu a visita do jornalista Ray Bryant, de O Evening Post, para dar uma entrevista sobre o tema da paranormalidade.
    Ray quis dar à matéria um enfoque pessoal e pediu a Keeton que o hipnotizasse, embora jamais tivesse sido hipnotizado. Sob efeito hipnótico, o jornalista lembrou-se de várias identidades que tivera no passado, inclusive a do soldado Reuben Sttaford, que lutou na Guerra da Criméia e que, ao retornar à Inglaterra, passou os últimos anos da vida trabalhando como barqueiro no Tâmisa.
    De acordo com as lembranças durante a regressão, a vida de Sttaford começara em 1822, quando ele nasceu em Brighthelmston, terminando no ano de 1879, quando morreu afogado em um acidente em Londres. Em sua personalidade anterior, o jornalista londrino adquiriu um acentuado sotaque da região de Lancashire, detalhe que refletia o fato de que Stafford passara grande parte de sua vida no norte da Inglaterra.
    Dois membros da equipe de Keeton, Andrew e sua esposa Margaret Selby, resolveram tirar a prova da existência do soldado Sttaford e a obtiveram na biblioteca Guildhall, onde encontraram uma lista com nomes de vítimas da Guerra da Criméia. Dela constava o sargento Reuben Stafford, que servia no 47º Regimento de Infantaria de Lancashire, e que fora ferido na mão, na Batalha dos Quarries. O documento também fornecia detalhes da carreira posterior do sargento, que havia recebido condecorações por bravura antes de ser reformado.
    Na sessão de hipnose seguinte, saíram espontaneamente da boca de Ray Bryant a data, o local, e o nome da batalha, assim como outros fatos da sua carreira militar.
    O casal decidiu continuar sua pesquisa e descobriu a certidão de óbito de Reuben Sttaford: o militar morrera por afogamento, tendo sido enterrado em East Ham, confirmando o que o jornalista havia dito na primeira sessão de hipnose.
    Histórias como essa têm sido cada vez mais freqüentes, provando que a reencarnação não é uma mera invenção.

    Reencarnação: Prova da Justiça de Deus
    Carlos Alexandre Fett
    O ser humano tem a curiosidade como uma de suas características básicas. Através dela é que se faz o progresso, já que o interesse pelo desconhecido leva o homem a pesquisar.
    Dentro dessa linha de raciocínio, vários são os porquês que ainda nos incomodam no dia-a-dia, principalmente os relativos à vida. Muitos dos que crêem em Deus não conseguem entender o motivo de tantas desarmonias na sociedade. Por que haveria pessoas que sofrem, que parecem ser perseguidas pelo azar, enquanto para outras a vida se mostra mais fácil? Por que existem crianças que nascem doentes, enquanto outras vêm ao mundo sadias? Por que muitas vezes o indivíduo mal-intencionado tem mais oportunidades na vida do que aquele que parece ser honesto?
    Algumas respostas surgem aqui e acolá: "Tudo é obra do destino de cada um"; "Saúde e doença são explicadas pela genética"; "É a vontade de Deus, por isso fulano sofre". São opiniões válidas, porém, para aquele que crê na justiça e bondade de Deus, elas são incompletas.
    Se acreditarmos na existência de um Deus, justo e superior a tudo e a todos, temos que entender porque acontecem essas diferenças, sem que Ele esteja cometendo injustiças. Somente afirmar que Deus é Pai e sabe o que faz, não satisfaz o raciocínio do século XX. Deus não cria mistérios para seus filhos. Pelo contrário, deu a eles a inteligência para discernir o certo do errado, tirando as próprias conclusões.
    Se acreditarmos no "destino", este não poderia ser obra do acaso. Alguém estaria pré-estabelecendo a vida. Fazendo uns bons e outros maus, Deus estaria sendo autoritário, coisa inconcebível ao Criador do Universo.
    Quanto ao fator genético, sabemos cientificamente que ele influi na organização funcional e anatômica do homem. Mas, não deixa de ser uma Lei da Natureza e, como tal, também criada por Deus. O homem não cria nada. Só descobre as maravilhas do mundo que o cerca.
    Analisando essas colocações, concluímos que Deus está por detrás de tudo o que acontece na vida. Ele rege a atuação da justiça através de uma Lei superior, chamada Lei de Causa e Efeito ou Ação e Reação. Ela é colocada em prática através das reencarnações. Na visão espírita, a reencarnação é a oportunidade que Deus concede aos seus filhos para que possam reparar seus erros, próprios da imperfeição humana. Há religiões sérias que acreditam que depois da morte a pessoa boa irá para o Céu, e a má para o Inferno, sofrendo penas ou gozos eternos. Há outras, também respeitáveis, que crêem que após a morte, a alma permanecerá no túmulo, esperando o chamado Juízo Final, quando então será julgada pelos bons ou maus atos praticados.
    Mas, num mundo como a Terra, onde o bem e o mal se confundem, devido à miserabilidade cultural, como afirmar que uma pessoa é totalmente má? Ou então, quem de nós ousaria, defronte ao espelho, dizer: não tenho pecados, nunca os cometi? Jesus Cristo, nos Evangelhos, questionou-nos sobre isso na passagem da mulher adúltera; e, segundo a história, ninguém teve a coragem de se dizer sem erros. Portanto, é impossível que com uma média de 70 anos de vida, consigamos atingir um estado tal de nos dizermos dignos do Céu.
    Com relação aos condenados ao Inferno, façamos uma comparação: se você é pai e seu filho cometer um erro, você lhe chamará a atenção. Se ele persistir no erro, poderá puni-lo. Não com o intuito de que ele sofra por sofrer, mas para que, através da punição, aprenda o modo correto de viver. Como pai, você nunca o condenaria para sempre, por ele ter cometido uma falha própria de sua inexperiência. Por que, então, Deus daria só uma chance de iluminação aos seus filhos?
    Lembremos Jesus: Se vós, pois, sendo maus, sabei dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhos pedirem? (Mateus cap.7: vers.11).
    Através da reencarnação o Espírito vive muitas vidas, passando por provas e pagamentos de erros cometidos no passado. Na Sua justiça, Deus não nos condena a sofrermos eternamente por causa dos erros. Dá-nos a oportunidade de repará-los por nós mesmos. Assim, entenderemos, com conhecimento de causa, que a prática do bem nos traz felicidade; enquanto a do mal, com certeza nos levará, cedo ou tarde, ao sofrimento. Deus nos dá a liberdade de agir como quisermos.
    O destino estará sendo traçado por tudo o que se fizer. Viveremos bem ou mal, sadios ou doentes, felizes ou tristes, de acordo com nossas atitudes. A plantação é livre; porém, a colheita obrigatória. Tudo em perfeita harmonia com a Justiça Divina.
    Por que não nos lembramos de outras vidas? Dizem os Espíritos que a lembrança do passado, durante nossa existência atual, poderia exaltar nosso orgulho, trazer-nos humilhações ou mesmo cercear nossas atitudes. Deus apenas nos dá ligeiras recordações das vidas anteriores, como: inclinações para tal atividade, gostos apropriados, aptidões inatas e mesmo alguns lampejos de memória do pretérito. Às vezes, ao encontrarmos alguém pela primeira vez, temos a impressão de conhecê-lo há muito tempo, gerando uma simpatia ou antipatia instantânea.
    A Doutrina Espírita afirma que o Espírito nunca regride moral e intelectualmente. Ou estaciona ou evolui. Portanto, basta vermos nossas atitudes atuais para termos idéia do que fomos e tomarmos consciência do que precisamos ser. Ao desencarnarmos (a morte do corpo material) e chegarmos no mundo espiritual - chamado por Jesus de verdadeira vida -, nosso Espírito irá rever algumas de suas vidas passadas e compreenderá o porquê das dificuldades da última existência. Absorverá toda a experiência para chegar ao progresso almejado. Reencarnação, portanto, é sinônimo de justiça e bondade de Deus.
    Façamos nossa parte, procurando sermos melhores hoje do que fomos no dia de ontem. Com certeza, a vida nos sorrirá com mais freqüência, abrindo-nos novos horizontes, sem as dores e frustrações atuais.
    Publicado no Jornal Entenda a Vida, edição 1

    Reencarnação, uma idéia libertadora
    Marcus Vinicius de Azevedo Braga
    A - RELIGIÃO E DOMINAÇÃO:
    Durante milênios infindos, o homem tem sua relação com Deus mediada por estruturas sociais de cunho dominador. Estados teocráticos, onde o poder institucional sempre se confundiu com os ministros religiosos. A esperança das pessoas em uma vida melhor no futuro aproveitada na famosa " Exploração do homem pelo homem", onde talvez por isso Karl Marx tenha citado a religião como o "ópio do povo".
    A doutrina das penas eternas é o arcabouço ideológico que patrocina esta dominação. Vivemos ainda sob o espectro de penas eternas, em um modelo importado do paganismo, onde o céu encontra-se no alto, como o Olimpo dos gregos. O inferno nos lugares baixos, como o Deus Hades da mitologia. Um fogo que arde e não queima, associado por muitos ao enxofre na crendice popular. Conceitos absolutos de destino após a morte, remediados por subterfúgios teológicos, como o limbo e o purgatório, tão artificiais como a Santíssima Trindade e o conceito de Espírito Santo, estranhos ao dito nos evangelhos.
    Uma palavra perigosa permeia toda esta relação entre fiel e religião que é o individualista conceito da salvação. Este conceito, embutido do medo do que nos espera na vida futura, faz do inferno e seus habitantes mais famosos e propalados nas histórias e filmes, para assustar as almas, como assustam crianças para não mexer no pote de mel. Um Deus bárbaro e impiedoso, imagem e semelhança dos seres que são valorizados no mundo, condicionado a preces e favores intermediados para libertar as almas do suplício eterno.
    Hoje o homem conhece o átomo, vislumbra a grandeza do universo, conhecendo leis e forças que impulsionam o mundo. Mas, acendemos o écran da televisão e vislumbramos espetáculos de crenças no Deus dos Exércitos, com um inferno ardente consumindo uma leva de infiéis. O rompimento destes paradigmas se faz de forma lenta e desigual, não sendo patrocinada por poderes que se beneficiam da subjugação das idéias de penas eternas.
    B - REENCARNAÇÃO, UMA IDÉIA LIBERTADORA:
    Mas, desde o início da civilização, caminha pelo mundo a libertadora idéia das vidas sucessivas. A reencarnação, crença comum entre os gregos, os egípcios, os Vedas, citada textualmente nos evangelhos por Jesus e defendida por espíritas, Hinduístas e Budistas, traz no seu escopo conceitos que permitem classificá-la como uma idéia libertadora. Libertadora pois permite ao espírito caminhar por si só, sem grilhões que o condenem. Tais conceitos são:
    Conceito concreto de Vida após a morte : A doutrina da Reencarnação desmistifica idéias de um céu de contemplação ou a espera de um dia do Juízo, construindo um panorama concreto da vida após a morte, mostrando que como no mundo de cá (Ou seria o contrário), a vida é eterno movimento e transformação.
    Reconhecimento da responsabilidade individual: Ao invés de terceirizar as responsabilidades de nossas mazelas para seres malignos, a idéia da Reencarnação avoca para o espírito encarnado esta responsabilidade pela sua salvação, fornecendo-lhe os meios para tal empreitada. Ou seja, ao invés de transferir o fardo da vida para outros á vista, a Reencarnação traz, de forma justa, esta responsabilidade para a criatura humana, á prazo.
    Salvação pela ação individual do espírito: Uma das questões dialéticas da vida sucessiva, desvendada de forma brilhante na doutrina espírita é que a " salvação", ou seja o progresso, se dá pela esforço individual do espírito, que só tem sentido no coletivo. Nada vale nos isolarmos na montanha para a melhoria, pois o progresso ocorre na atuação no palco do mundo, no concreto do cotidiano, nos burilando com os nossos pares.
    Eliminação de intermediários ou vinculações segmentárias : A Reencarnação elimina caminhos exclusivos ou intermediários para o progresso, libertando o homem da dominação da consciência, do atrelamento a grupos ou nações para seu encontro com Deus. O seu progresso está subordinado ao seu burilamento em vidas sucessivas, onde seu esforço construirá um caminho para o crescimento.
    Isenção de ameaças e imagem de um Deus Justo e bom: Demonstrando que todas as dores do mundo tem sua causa, isenta a criatura humana de ameaças amedontradoras quanto a ao futuro, que será construído no agora pelo espírito, colhendo o que ele plantou e semeando o seu futuro. Sem medo, cai a dominação. Reforça também a idéia do Deus Justo e bom e pai amantíssimo. Jesus, quando fala da Parábola do Filho Pródigo no evangelho fala muito mais do que o perdão dos pais pelos filhos e sim sobre a grandeza da filosofia da vida, onde o pai sempre deixa uma porta para o retorno de seu filho, consubstanciando bem a idéia da Reencarnação.
    C - SE É UM FATO A REENCARNAÇÃO, POR QUE NÃO É UMA CRENÇA DIFUNDIDA:
    Essas reflexões nos conduzem a uma conclusão também contraditória. A Reencarnação hoje, após os estudos do professor Hemendras Banerjee, no seu " Vida pretérita e futura", do professor Ian Stevenson no seu " 20 casos sugestivos de Reencarnação" e da obra de Brian Weiss em " Muitas vidas, muitos mestres", todos popularizados, é crença difundida pelo mundo.. Após as revelações das vidas sucessivas por meios mediúnicos e pelas revelações da Transcomunicação Instrumental e a adoção da terapia de Vidas Passadas pelos psicólogos, a Reencarnação consubstancia-se em amplamente crença aceita pela força de sua filosofia e de sua cientificidade. Outrossim, formalmente o mundo nega esta crença. Se é tão óbvio, tão claro, tão libertador, por que o mundo nega essa realidade?
    O primeiro fator que temos de analisar é a questão do achismo numérico. Estatísticas recentes colocam 28% do mundo como Reencarnacionista, incluindo aí os Hinduístas e Budistas. Mas, crer que esses 72% não reencarnacionistas, compostos de Católicos, protestantes e Islâmicos na sua integra não crê na Reencarnação, é pouco provável. A religião professada para muitos se apresenta como um fator cultural. Aqui no Brasil, onde Mãe menininha do Gantoais, a mais famosa Babalorixá do Brasil, declara-se católica diante das câmeras e que o censo 2000 revelou que o maior número de adeptos dos cultos afro-brasileiras está no Rio Grande do Sul, demonstra o desconhecimento das pessoas do que é a sua convicção pessoal sobre o mundo e o que é a sua participação culturalmente em uma religião. Muitos até acreditam nos pilares espíritas, mas presos aos cultos exteriores, que para eles se fazem necessários, dizem não ser o espiritismo uma religião (SIC) e sim uma crença, que pode ser compartilhada com outras. Filmes como " Ghost", " Sexto sentido", " Os outros", trataram dos postulados espíritas de forma séria e ao invés de serem rechaçados por essa maioria não reencarnacionista, obtiveram altas bilheterias e comentários diversos. A própria representação social de nosso irmão Chico Xavier, desencarnado recentemente, demonstra o apreço do povo por essas verdades, independente de suas religiões professadas. Desse modo, não podemos acreditar que em um mundo plural e com acesso a informação que temos hoje, essa gama de pessoas acredita que iremos para o céu ou o inferno. O que existe é um aprisionamento a práticas exteriores, de cunho cultural, que mantém as pessoas nestas outras denominações. Religião é fator cultural, passado de pai para filho. Nossas festas, nossas datas, nossa estrutura social é fruto e ainda muito vinculada as estruturas religiosas.
    Um outro fator a ser analisado é que a doutrina das penas eternas e seu terrorismo com a glória futura, serviu sempre aos interesses das classes dominantes, no seu objetivo de manter os povos no " Cabresto", reservando em todas as religiões essas discussões e conhecimentos aos iniciados nas cúpulas do poder. Obviamente, ninguém patrocinará a idéia libertadora das vidas sucessivas, quando se pode jogar com a esperança das pessoas, através de promessas e vinculações salvacionistas a grupos sectários, que durante a história serviram e se confundiram com o poder institucional. Livros sagrados, mistérios e dogmas incontestáveis ainda permeiam a vida das religiões no mundo e as idéias reencarnacionistas taxadas de subversivas.
    As próprias implicações das idéias reencarnacionistas constituem entraves a sua aceitação por muitos. Como explicar a um norte-americano racista que ele poderá reencarnar como um negro. Ou como aceitará um nobre inglês que ele poderá nascer pebleu. Na índia, a idéia da reencarnação recebeu o conceito de castas para aplacar o orgulho das pessoas, que não aceitariam mudar de posição social. No mundo que valoriza as posses, a posição social, muitos cegos não querem ver que tudo pode mudar, para atender aos ditames do progresso.
    D - CRER E VIVER, EIS O DESAFIO:
    Como o dia que nasce, nos sucedemos neste planeta...Apesar de muitos não acreditarem ou aceitarem tal fato, a vida se perpetua e o amor é a lei. Sim, mais do que acreditar na pluralidade das existências, cabe-nos viver como seres eternos. Vivermos olhando a vida com a ótica da pluralidade, vendo a dor, a doença, a miséria e a morte sob esse novo prisma e não trazer a nossa crença como algo para responder no momento do censo ou na conversa com os amigos. O progresso é a base de tudo. Não o progresso discriminatório que faz do homem europeu superior aos demais e sim o progresso da pluralidade de vivências em diversos povos e situações que nos conduzem a perfeição. Nosso compromisso é com a lei e a lei é de amor. Sob este prisma que seremos interrogados após a morte... E pela nossa própria consciência.
    Referências Bibliográficas:
    Kardec, Allan- O evangelho segundo o espiritismo, FEB.
    Kardec, Allan- O céu e o inferno, FEB.
    Kardec, Allan- O Livro dos Espíritos, FEB.
    Denis, Leon- O Porquê da vida, FEB.
    Dellane, Gabriel- A reencarnação, FEB.
    Nascido em 07-01-1974, Marcus Vinicius de Azevedo Braga é Compositor, Poeta, Artista Plástico e cursa Pedagogia na Universidade Federal Fluminense. Frequentador do G.E.Meimei, em Angra dos Reis- RJ, publicou em 2000 o livro " Alegria de servir " pela Editora da Federação Espírita Brasileira.

    Reencarnação: Uma Lei Natural
    Alamar Régis Carvalho
    A reencarnação é a base do Espiritismo.
    Afinal de contas, o que é reencarnação?
    As religiões tradicionais, do ocidente, ensinam que nós nascemos, vivemos, morremos e nada mais. Dizem que tudo começa no berço e termina no túmulo.
    Dizem também que depois que as pessoas morrem, elas ficam esperando milhares de anos por um tal "juízo final", quando Jesus voltará à Terra, para fazer a ressurreição de todo mundo e julgará. Sinceramente, eu não sei de onde Jesus voltará, pois ele sempre esteve e sempre estará por aqui.
    Dizem que uns vão para um tal Inferno, local comandado por um cidadão chamado Satanás, para se queimarem por toda a eternidade num sofrimento sem fim.
    Outros, privilegiados, vão para o Céu, que é um local onde ninguém faz absolutamente nada, vivendo apenas para adorar e bajular um velho, que é o chefe de tudo lá, vaidoso ao extremo, que adora puxa-sacos, gosta de sentir cheiro de animais em holocaustos, é adepto de castigar os outros, gosta de vingança, fica com raiva por qualquer motivo e gosta muito de destruir povos, cidades, etc... Dizem que esse velho é o próprio Deus.
    Absurdo, mas é isto que ensinam.
    Usemos a lógica, os conhecimentos elementares da ciência e perguntemos se tem sentido esse tal de "juízo final":
    Em princípio, o próprio Jesus ensinou: "Não julgueis para não serdes julgados".
    Como é que poderá Ele mesmo vir aqui, contradizer-se, julgando todo mundo?
    Talvez nessa vinda Ele dirá: "Olha, gente, o que eu disse antes não vale nada, todo mundo será julgado. Eu estava brincando, da outra vez, quando disse que ninguém deveria julgar para não ser julgado.".
    Mas tem outra questão:
    Sabemos que quando alguém "morre", o corpo é sepultado no chão coberto por terra, em alguma catacumba toda revestida por pedras e cimento, ou queimado transformando-se em cinzas.
    Nestes dois primeiros casos o corpo de desintegra. Na terra, em aproximadamente cinco anos, ficam apenas os ossos. Na catacumba de cimento, é mais rápido, em apenas três anos. Depois deste período, os coveiros retiram esses ossos das sepulturas para dar o lugar a outro defunto, levam para uma vala comum e os queima. A partir daí, nem ossos existirão mais. Tudo vira cinza.
    No processo de cremação, tudo é destruído imediatamente, transformando-se em cinza.
    Quando a pessoa morre numa explosão de avião, por exemplo, e os pedaços caem no mar, os peixes devoram aqueles pedacinhos e os expelem mais tarde em forma de excrementos.
    Cadê o corpo? JÁ ERA.
    Percebemos que a matéria está totalmente desmoralizada. Sobrarão alguns átomos espalhados por aí, por sua vez divisíveis. Quem conhece as noções elementares da química, certamente já deve ter ouvido falar nos prótons, elétrons e nêutrons bem como nos imensos espaços livres existentes entre eles. É assunto para outra ocasião.
    E daí, como é que fica?
    Nessa tal ressurreição, se existir, vai ser a maior confusão que o mundo terá oportunidade de ver em todos os tempos. O que vai ter de gente brigando por causa de átomos, não vai ser fácil.
    - Largue aí, esse átomo é meu.
    - Negativo, eu é quem fui enterrado neste local.
    - Não lhe dou, de jeito nenhum, você já está com muitos e eu encontrei muito pouco dos meus.
    - Mas isso é problema seu. Eu tenho que estar ressuscitado de corpo inteiro.
    - Cuidado com esse seu egoísmo. É Jesus quem está aí e Ele vai ficar com muita raiva e provavelmente você não irá para o Céu.
    Enfim, a coisa seria mais ou menos assim.
    Com todo respeito que são merecedoras as religiões que pregam esse "fim", o Espiritismo não pode concordar, por questão de lógica, com isto.
    Vamos raciocinar juntos:
    Se, por acaso, tudo começasse no berço e terminasse no túmulo, como pregam, Deus seria a maior expressão de injustiça do Universo. Ele seria um grande e inconseqüente discriminador. Pois algumas pessoas nascem em berço de ouro e outras na miséria absoluta.
    Deus não seria justo se tivessem razão aqueles que recusam aceitar a lei da reencarnação.
    Claro, pois nada explica a discriminação "divina" que permite alguns nascerem em berço de ouro e outros na mais absoluta miséria.
    Certo dia, eu visitava uma Igreja Protestante, (gosto muito de visitar igrejas de várias religiões, para conhecer cada uma e procurar ter o mínimo de condições para falar com conhecimento de causa), e o pastor, que fora avisado por alguém da presença de um divulgador Espírita no recinto, adotou como tema da sua pregação a condenação da reencarnação.
    Alegava o religioso, que o fato de algumas pessoas nascerem na miséria, mutiladas ou na carência absoluta é uma forma de Deus castigar os seus pais.
    Raciocinemos, mais uma vez:
    Um rapaz, irresponsável, namora uma garota, também irresponsável, com objetivos apenas de fazer sexo. Na primeira relação, às vezes até na rua, em pé, encostados numa árvore, surge a gravidez. O sem-vergonha se manda, e a menina faz tudo para evitar mas não consegue livrar-se do parto. Nasce a criança com problemas diversos.
    A mãe irresponsável abandona o nenem numa lata de lixo. Alguém ampara a criança e percebe que ela é cega, surda e provavelmente muda, além de portar mutilações nos membros.
    Quem vai querer adotar uma criança nessas condições?
    Partindo do princípio que a nossa sociedade discrimina até mesmo crianças normais, simplesmente pela cor da pele ou pela aparência, imaginemos num caso deste.
    E daí? Será que Deus, ao impor tanto sofrimento a uma indefesa criança, estaria castigando os irresponsáveis dos pais que nunca fizeram a menor questão do filho?
    Tem lógica, um argumento deste?
    Você, que teima em recusar a reencarnação, aponte uma razão lógica e plausível que justifique coisas como estas que acontecem todos os dias, em milhões e talvez bilhões de famílias no planeta Terra.
    Somente a reencarnação explica essas coisas.
    A vida não pode ser limitada apenas à uma existência terrena. Nós já passamos por aqui várias outras vezes e, provavelmente, passaremos inúmeras outras. Já cometemos muitos erros e, por uma questão de Justiça de Fato temos que resgatá-los. Queiramos ou não.
    Mas é preciso que esse conceito não seja confundido com certas definições que muitos espíritas mal esclarecidos tentam dar às nossas vidas, afirmando que estamos aqui para sofrer e para pagar débitos anteriores. É mentira.
    Não estamos aqui para pagar coisa alguma. Estamos aqui, na condição de escola, para nos educarmos e evoluirmos sempre. O pagamento de um débito é um fato natural.
    Se tomamos, por exemplo, um dinheiro emprestado, podemos optar por pagar de uma só vez, se tivermos condições, ou em prestações. A relação é a mesma.
    Alguns fazem muito esforço em dedicar-se às causas nobres servindo ao próximo, outros vivem no mundo apenas para se servirem do próximo. Logicamente os primeiros estão se livrando mais rápido dos seus débitos, atingindo mais depressa a felicidade, os outros, por sua vez, estão contraindo mais débitos, conseqüentemente mais afins com as angústias e os problemas diversos.
    Queiramos ou não, a reencarnação não é uma questão religiosa e sim científica. Não é também uma invenção do Espiritismo, pois é milenar.
    Condenada pela Bíblia, jamais. Pois a própria Bíblia, em várias passagens, cita-a como realidade. Vale lembrar, principalmente àqueles que não apenas se postam como escravos da Bíblia, mas que já tiveram a oportunidade de estudar a sua história, que a reencarnação sempre esteve presente nas suas páginas, de forma muito clara e indiscutível, até o momento em que a Rainha Eudóxia resolveu mandar retirar a palavra dos escritos, com medo de reencarnar com escrava.
    Sugerimos a leitura atenciosa das obras básicas do Espiritismo, sem qualquer pretensão de querer convencer ninguém a ser Espírita.

    Estudos sobre reencarnação
    I - Limites da reencarnação.
    A reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito; mas do momento em que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e anular os efeitos de sua reação sobre o moral, a reencarnação não tem mais nenhuma utilidade nem razão de ser. Com efeito, o corpo é necessário ao Espírito para o trabalho progressivo até que, tendo chegado a manejar esse instrumento à sua maneira, a lhe imprimir a sua vontade, o trabalho está realizado. É-lhe preciso, então, um outro campo para a sua caminhada, para o seu adiantamento no infinito; lhe é preciso um outro círculo de estudos onde a matéria grosseira das esferas inferiores seja desconhecida. Tendo sobre a Terra, ou em globos análogos, depurado e experimentado suas sensações, está maduro para a vida espiritual e seus estudos. Tendo se elevado acima de todas as sensações corpóreas, não tem mais nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade: ele é Espírito e vive pelas sensações espirituais que são infinitamente mais deliciosas do que as mais agradáveis sensações corpóreas.

    II - A reencarnação e as aspirações do homem.
    As aspirações da alma ocasionam a sua realização, e esta realização se cumpre na reencarnação enquanto o Espírito está no trabalho material; eu me explico. Tomemos o Espírito em seu início na carreira humana; estúpido e bruto, sente, no entanto, a centelha divina nele, uma vez que adora um Deus, que ele materializa segundo a sua materialidade. Nesse ser, ainda vizinho do animal, há uma aspiração instintiva, quase inconsciente, rumo a um estado menos inferior. Começa por desejar satisfazer seus apetites materiais, e inveja aqueles que vê num estado melhor do que o seu; também, numa encarnação seguinte, ele mesmo escolhe, ou antes, é arrastado a um corpo mais aperfeiçoado; e sempre, em cada uma de suas existências, deseja uma melhoria material; não se achando jamais feliz, quer sempre subir, porque a aspiração à felicidade é a grande alavanca do progresso.
    À medida que suas sensações corpóreas se tornam maiores, mais refinadas, suas sensações espirituais despertam e crescem também. Então o trabalho moral começa, e a depuração da alma se une à aspiração do corpo para chegar ao estado superior.
    Esse estado de igualdade das aspirações materiais e espirituais não é de longa duração; logo o Espírito se eleva acima da matéria, e suas sensações não podem ser satisfeitas por ela; é-lhe preciso mais; lhe é preciso o melhor; mas aí o corpo, tendo sido levado à sua perfeição sensitiva, não pode seguir o Espírito, que então o domina e dele se desliga cada vez mais, como um instrumento inútil. Volta todos os seus desejos, todas as suas aspirações, para um estado superior; sente que as necessidades corpóreas, que lhe eram um objeto de felicidade em suas satisfações, não são mais do que uma tortura, um rebaixamento, do que uma triste necessidade da qual aspira se libertar para gozar, sem entraves, de todas as felicidades espirituais que ele pressente.

    III - Ação dos fluidos na reencarnação.
    Sendo os fluidos os agentes que colocam em movimento o nosso aparelho corpóreo, são eles também que são os elementos de nossas aspirações, porque há fluidos corpóreos e fluidos espirituais, que todos tendem a se elevarem e se unirem aos fluidos da mesma natureza. Esses fluidos compõem o corpo espiritual do Espírito que, no estado encarnado, age por eles sobre a máquina humana que está encarregado de aperfeiçoar, porque tudo é trabalho na criação, tudo concorre para o adiantamento geral.
    O Espírito tem seu livre arbítrio, e procura sempre o que lhe é agradável e o satisfaz. Se é um Espírito inferior e material, procura suas satisfações na materialidade, e então dará um impulso aos seus fluidos corpóreos que dominarão, mas tenderão sempre a crescer e a se elevar materialmente; portanto, as aspirações desse encarnado são materiais, e, retornado ao estado de Espírito, procurará uma nova encarnação onde satisfará as suas necessidades e seus desejos materiais; porque, notai bem, a aspiração corpórea não pode pedir, como realização, senão uma nova corporeidade, ao passo que a aspiração espiritual não se prende senão às sensações do Espírito. Ela será solicitada por seus fluidos que deixou se materializarem; e como no ato da reencarnação os fluidos agem para atrair o Espírito ao corpo que foi formado, houve, pois, atração e união dos fluidos, a reencarnação se opera em condições que darão satisfação às aspirações de sua existência precedente.
    Ocorre o mesmo com os fluidos espirituais com os fluidos materiais, se são eles que dominam; mas então, quando o espiritual se sobrepôs sobre o material, o Espírito, que julga diferentemente, escolhe ou é atraído por simpatias diferentes; como lhe é necessária a depuração, e que não é senão pelo trabalho que a alcança, as encarnações escolhidas são mais penosas para ele, porque, depois de haver dado a supremacia à matéria e aos seus fluidos, lhe é necessário constrangê-la, lutar com ela e dominá-la. Daí essas existências tão dolorosas e que parecem, freqüentemente, tão injustas, infligidas a Espíritos bons e inteligentes. Aqueles fazem sua última etapa corpórea e entram, saindo deste mundo, nas esferas superiores onde suas aspirações superiores acharão a sua realização.

    IV - As afeições terrestres e a reencarnação.
    O dogma da reencarnação indefinida encontra oposições no coração do encarnado que ama, porque em presença dessa infinidade de existências, produzindo cada uma delas novos laços, pergunta-se com medo o que se tornam as afeições particulares, e se elas não se fundem num único amor geral, o que destruiria a persistência da afeição individual. Pergunta-se se essa afeição individual não é somente um meio de adiantamento, e então o desencorajamento se insinua em sua alma, porque a verdadeira afeição sente a necessidade de um amor eterno, sentindo que não se deixará jamais de amar. O pensamento de milhares dessas afeições idênticas lhe parece uma impossibilidade, mesmo admitindo faculdades maiores para o amor.
    O encarnado que estuda seriamente o Espiritismo, sem tomar partido por um sistema antes que por um outro, se encontra arrastado para a reencarnação pela justiça que decorre do progresso e do adiantamento do Espírito em cada nova existência; mas quando o estuda do ponto de vista das afeições do coração, duvida e se atemoriza apesar dele. Não podendo colocar de acordo esses dois sentimentos, se diz que ali ainda tem um véu a levantar, e seu pensamento nesse trabalho atrai as luzes dos Espíritos para concordar seu coração e sua razão.
    Eu disse precedentemente: a encarnação se detém lá onde a materialidade é anulada. Mostrei como o progresso material havia de início refinado as sensações corpóreas do Espírito encarnado; como o progresso espiritual, tendo vindo em seguida, havia contrabalançado a influência da matéria, depois a havia, enfim, subordinado à sua vontade, e, que chegado a esse grau de domínio espiritual, a corporeidade não tinha mais razão de ser, o trabalho estando realizado.
    Examinemos agora a questão da afeição sob esses dois aspectos, material e espiritual.
    De início, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica atraindo dois seres um para o outro, e unindo-os num mesmo sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas diferentes, uma vez que os fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é preciso que ela seja espiritual e desinteressada; é preciso a abnegação, o devotamento, e que nenhum sentimento pessoal seja o móvel desse arrastamento simpático. Do momento em que haja, nesse sentimento, personalidade, há materialidade; ora, nenhuma afeição material persiste nos domínios do Espírito. Portanto, toda afeição que não seja senão o resultado do instinto animal ou do egoísmo, se destrói à morte terrestre. Também, que seres supostamente amados são esquecidos depois de pouco tempo de separação! Vós os haveis amado por vós e não por eles, aqueles que não são mais, uma vez que os esquecestes e substituístes; procurastes a consolação no esquecimento; eles se vos tornam indiferentes, porque não tendes mais amor.
    Contemplai a Humanidade, e vede o quanto há pouca afeição verdadeira sobre a Terra! Também não se deve tanto se amedrontar com a multiplicidade das afeições contraídas nesse mundo; elas são em minoria relativa, mas existem, e as que são reais persistem e se perpetuam sob todas as formas, sobre a Terra, de início, depois continuam no estado de Espírito numa amizade ou um amor inalterável, que não faz senão crescer em se elevando mais.
    Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual.
    A afeição espiritual tem por base a afinidade fluídica espiritual, que, agindo sozinha, determina a simpatia. Quando ocorre assim, é a alma que ama a alma, e essa afeição não toma força senão pela manifestação dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se procuram e tendem sempre a se aproximarem; seus fluidos são atrativos. Que estejam num mesmo globo, serão levados um para o outro; que estejam separados pela morte terrestre, seus pensamentos se unirão na lembrança, e a união se fará na liberdade do sono; e quando a hora de uma nova encarnação soar para um deles, procurará se aproximar de seu amigo entrando nisso que é sua filiação material, e fá-lo-á com tanto mais facilidade quanto seus fluidos periespirituais materiais encontrarem afinidade na matéria corpórea dos encarnados que deram a luz ao novo ser. Dai um novo aumento da afeição, uma nova manifestação do amor. Tal Espírito amigo vos amou como pai, vos amará como filho, como irmão ou como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação em encarnação, e se perpetuará de maneira inalterável quando, vosso trabalho estando feito, vivereis da vida do Espírito.
    Mas essa verdadeira afeição não é comum sobre a Terra, e a matéria vem retardá-la, anulando-lhe os efeitos, segundo ela domine o Espírito. A verdadeira amizade, o verdadeiro amor sendo espiritual, tudo o que se relaciona com a matéria não é de sua natureza, nem concorre em nada para a identificação espiritual. A afinidade persiste, mas fica no estado latente até que o fluido espiritual se sobrepondo, o progresso simpático se efetue de novo. Para me resumir, a afeição espiritual é a única resistência no domínio do Espírito; sobre a Terra e nas esferas de trabalho corpóreo, ela concorre para o adiantamento moral do Espírito encarnado que, sob a influência simpática, cumpre milagres de abnegação e de devotamento pelos seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a satisfação completa de todas as aspirações, e a maior felicidade que o Espírito possa sentir.

    V - O progresso entravado pela reencarnação indefinida.
    Até aqui a reencarnação foi admitida de um modo muito prolongado; não se pensou senão nessa prolongação da corporeidade, embora cada vez menos material, ocasionando, no entanto, necessidades que deviam entravar o vôo do Espírito. Com efeito, admitindo a persistência da geração nos mundos superiores, atribui-se ao Espírito encarnado necessidades corpóreas, dão-lhe deveres e ocupações ainda materiais que constrangem e detêm o impulso dos estudos espirituais. Que necessidade desses entraves? O Espírito não pode gozar as felicidades do amor sem sofrer as enfermidades corpóreas? Sobre a própria Terra, esse sentimento existe por si mesmo, independente da parte material de nosso ser; os exemplos, embora sejam raros, estão aí, suficientes para provar que deve ser sentido mais geralmente entre os seres mais espiritualizados.
    A reencarnação ocasiona a união dos corpos, o amor puro somente a união das almas. Os Espíritos se unem segundo suas afeições começadas nos mundos inferiores, e trabalham juntos para o seu adiantamento espiritual. Eles têm uma organização fluídica muito diferente daquela que era a conseqüência de seu aparelho corpóreo, e seus trabalhos se exercem sobre os fluidos e não sobre os objetos materiais. Vão em esferas que, também elas, cumpriram seu período material, em esferas cujo trabalho humano levou a desmaterialização, e que, chegados ao apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram por uma transformação superior, que os torna próprios para sofrer outras modificações, mas num sentido todo fluídico.
    Compreendeis, desde hoje a força imensa do fluido, força que não podeis senão constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos pesado do que aquele em que estais, teríeis outros meios de ver, de tocar, de trabalhar esse fluido que é o grande agente da vida universal. Porque, pois, o Espírito teria ainda necessidade de um corpo que está fora das apreciações corpóreas? Dir-me-eis que esse corpo está em relação com os novos trabalhos que o Espírito terá que cumprir; mas uma vez que esses trabalhos serão todo fluídicos e espirituais nas esferas superiores, por que dar-lhe o embaraço das necessidades corpóreas, porque a reencarnação ocasiona sempre, como eu o disse, geração e alimentação, quer dizer, necessidade da matéria a satisfazer, e, em compensação, entraves para o Espírito.
    Compreendeis que o Espírito deve ser livre em seu vôo para o infinito; compreendeis que tendo saído dos cueiros da matéria, ele aspira, como a criança, a caminhar e correr sem ser contido pelas andadeiras maternas, e que essas primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas para a criança crescida, e insuportáveis ao adolescente. Não desejeis, pois, permanecer na infância; considerai-vos como alunos fazendo seus últimos estudos escolares, e se dispondo a entrar no mundo, e a ter nele seu lugar, e a começar os trabalhos de um outro gênero que seus estudos preliminares terão facilitado.
    O Espiritismo é a alavanca que levantará de um pulo ao estado espiritual todo encarnado que, querendo bem compreendê-lo e pô-lo em prática, se ligará em dominar a matéria, a dela se tornar senhor, a aniquilá-la; todo Espírito de boa vontade pode se colocar em estado de passar, deixando este mundo, ao estado espiritual sem retorno terrestre; somente, lhe é preciso a fé ou vontade ativa. O Espiritismo a dá a todos aqueles que querem compreendê-lo em seu sentido moralizador.
    Um espírito protetor do médium.

    Nota.- Esta comunicação não leva outra assinatura senão esta acima, o que prova que não há necessidade de haver tido um nome célebre sobre a Terra para ditar boas coisas.

    Resumo:
    A vida do Espírito, considerada do ponto de vista do progresso, apresenta três períodos principais, a saber:
    1º- O período material onde a influência da matéria domina a do Espírito; é o estado dos homens dados às paixões brutais e carnais, à sensualidade; cujas aspirações são exclusivamente terrestres, que são apegados aos bens temporais, ou refratários às idéias espiritualistas.
    2º - O período de equilíbrio; aquele em que as influências da matéria e do Espírito se exercem simultaneamente; onde o homem, embora submetido às necessidades materiais, pressente e compreende o estado espiritual; onde ele trabalha para sair do estado corpóreo.
    Nesses dois períodos o Espírito está submetido à reencarnação, que se cumpre nos mundos inferiores e medianos.
    3º - O período espiritual aquele em que o Espírito, tendo dominado completamente a matéria, não tem mais necessidade da encarnação nem do trabalho material, seu trabalho é todo espiritual; é o estado dos Espíritos nos mundos superiores.
    A facilidade com a qual certas pessoas aceitam as idéias espíritas, das quais parecem ter a intuição, indica que pertencem ao segundo período; mas entre estas e as outras há uma multidão de graus que o Espírito atravessa tanto mais rapidamente quanto mais próximo estiver do período espiritual; é assim que, de um mundo material como a Terra, ele pode ir habitar um mundo superior, como Júpiter, por exemplo, se seu adiantamento moral e espiritual for suficiente para dispensá-lo de passar pelos graus intermediários. Depende, pois, do homem deixar a Terra sem retorno, como mundo de expiação e de prova para ele, ou não retornar a ela senão em missão.

    Revista Espírita, janeiro de 1864(Sociedade Espírita de Paris. Médium, senhorita A. C.)Publicado na Revista Espírita - Jornal de Estudos Psiclógicos - 7º ano - Nº 1 - Janeiro de 18641ª Edição - 1995 - Instituto de Difusão Espírita